quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ELEIÇÕES EM BELO HORIZONTE - A CIDADE DERROTADA.

UMA ELEIÇÃO PARA SER ESQUECIDA
Amigos e amigas, já está dada a largada para a disputa das milhares de prefeituras brasileiras, inclusive com o pérfido horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão (sorte poder assistir aos canais à cabo e fugir deste show interminável de horrores, especialmente quando da apresentação dos candidatos a vereador).
E a nossa Belo Horizonte? Eis aqui o meu pensamento sobre a disputa em nossa cidade e capital mineira.
Como o título acima aponta esta é uma eleição para ser devidamente esquecida. E o esquecimento é fruto de uma desmotivação, de um descrédito, não só da classe política nacional mas sobretudo pela legião de candidatos despreparados e "apagados" que a disputa belohorizontina apresenta.
Temos aqui os seguintes candidatos: Márcio Lacerda (PPS, PSDB, PT), Jô Morais (PC do B e ala dissidente do PT - opositores ao prefeito Fernando Pimentel), Leonardo Quintão (PMDB), Sérgio Miranda (PSB), Vanessa Portugal (?) e Gustavo Valadares (DEM).
Vamos então destrinchar esta legião de políticos apagados (pobre Belo Horizonte!):

MÁRCIO LACERDA
É o candidato da conturbada aliança regional entre PSDB e parte do PT - amparados pelo governador Aécio Neves e pelo atual prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Empresário, detém o maior patrimônio e poder econômico dentre os participantes ao pleito majoritário. Possui cerca de 12 minutos na propaganda eleitoral, que somados ao apoio governamental dá a este candidato a ponta da disputa e a perspectiva de vitória já no primeiro turno.
Problema: candidato que demonstra falta de autonomia, de pulso para governar. Não fala, não se mostra. Se esconde na opinião daqueles que o apoiam politicamente, ou seja, parece-me um ventríloquo, alguém que sentará na cadeira da prefeitura não para governar mas para representar interesses e ser governado.

JÔ MORAIS
Candidata típica de esquerda, foi vereadora em Belo Horizonte, deputada estadual e hoje é deputada federal. Alinhou-se com setores descontentes do PT mineiro, sob apoio do ministro e ex-prefeito Patrus Ananias. Possui um discurso de valorização da democracia participativa, usando a experiência petista de Orçamento Participativo - que promete ampliar.
Problema: falta simpatia, carisma. Ela me lembra velhas professoras marxistas, explorando muito o discurso de inclusão social, de lutas sociais, de representatividade das mulheres porém não mostra com clareza como irá de fato governar uma cidade. Está despreparada para isto, talvez seu lugar seja os movimentos sociais e não a administração pública.

LEONARDO QUINTÃO
Filho de tradicional família de políticos da cidade de Ipatinga (onde o pai é prefeito), foi deputado estadual e representa uma espécie de política evangélica-cristã.
Problema: o Estado é laico. Misturar política e moral, política e ética cristã (católica ou evangélica) não me parece ser um caminho adequado. Quintão pode nos dar aquela impressão de ser um político nos moldes de um Marcelo Crivela do Rio de Janeiro, o que é negativo. O administrador público tem que estar e se posicionar acima destas questões ético-morais no sentido de estar além do bem-mal. Fazer política no século XXI, em termos modernizadores, é não julgar, governar e administrar a cidade para todos e não somente para os seus.

SÉRGIO MIRANDA
Socialista, foi vereador em Belo Horizonte e é apoiado pelo ex-ministro da educação Cristovam Buarque - homem verdadeiramente compromissado com a educação.
Problema: discurso tímido. Sérgio é conciliador demais, parece "bonzinho" demais. É fruto de um pensamento mais à esquerda, como a candidata Jô Morais, porém se diferencia dela por ser um político mais centrado e menos preso a uma série de doutrinas e movimentos sociais. Falta força ao se apresentar como candidato, parece-me que quer a prefeitura mas não com tanta garra.

VANESSA PORTUGAL
Professora (o que muito me entristece) é entre todos os candidatos a mais despreparada do grupo. Se apresenta como a candidata dos mais radicais, dos insatisfeitos que se contentam com a própria insatisfação. Fala coisas do tipo "governar para os pobres e os ricos pagando a conta".
Problema: são tantos, que a sua candidatura não deve nem ser levada tão a sério. Discurso velho, radicalismo sem fundamentos, falta de visão do que é administrar uma cidade no século XXI e não na Rússia de 1917 (Vanessa parece-me uma bolchevique que entende ser Belo Horizonte um soviete e não uma cidade moderna).

GUSTAVO VALADARES
Deputado estadual, é de tradicional família de políticos em Belo Horizonte. Talvez a única opção de candidatura fora dos partidos de esquerda, dos ideais de esquerda que já governam Belo Horizonte a algumas décadas.
Problema: é difícil romper com a lógica de esquerda em Belo Horizonte. Sendo um candidato de forte poder econômico e de um partido outrora tipicamente direitista (o velho PFL) Gustavo tem problemas para convencer a população de Belo Horizonte de que é um político preocupado com o social. Falta a ele um grupo de apoio político maior e uma base sólida em movimentos sociais (um eterno problema do PFL e que se estende aos Democratas).

Espero ter contribuido com o eleitor/leitor de Belo Horizonte, no sentido de dividir convosco as minhas impressões, que não são boas, sobre o pleito para escolha do novo prefeito de Belo Horizonte.
Não é sem razão que a candidatura que mais representa o status quo está na liderança, mais pela falta de competência dos outros candidatos que parecem nada propor e nada se diferenciarem do que já está ai - por isso a virtual escolha de nossa população de uma política de continuidade.
Continuidade que por si só não é ruim. Porém Belo Horizonte necessita sim de novos ares políticos, depois de décadas de governos em torno do projeto PT (Patrus Ananias, Célio de Castro, Fernando Pimentel em dois mandatos). A rotatividade política, a descentralização de poderes, favorece o espírito dialético, o debate em torno do que é melhor para nossa cidade.
Seja quem for o prefeito eleito, desejo-lhe boa sorte. Mas, na minha análise atual, Belo Horizonte já perdeu com a eleição que se encaminha.