sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O RENASCIMENTO É HUMANISTA, NÃO ATEU

Renascer significa “nascer de novo”, “voltar à vida”. Ao longo dos séculos XIV, XV e XVI a dita cultura clássica, de gregos e romanos da Antiguidade, simplesmente renasceu, ressurgiu, primeiro sob as mãos dos artistas florentinos, depois romanos e por fim entre os europeus do norte.

Isto pode ser entendido como um amplo e impactante movimento que envolveu artistas plásticos, escultores, pintores, engenheiros, cientistas, escritores, filósofos e todo tipo de pessoa que a época demonstrava alguma independência intelectual, já que por mais de mil anos a Igreja romana impôs o seu pensamento e a sua ordem “na cabeça” dos povos da Europa.

A base, a fonte que inspirou o Renascimento, é o que conhecemos como “Humanismo”, que também pode ser entendido como “Pensamento Antropocêntrico” ou “Antropocentrismo” – que se apega a uma valorização do homem como ser, como sujeito que cria, que é dotado de imaginação, força, e de pensamento/racionalidade (uso da razão como meio de compreensão das coisas, ou racionalismo). Durante os quase mil anos medievais o que se viu fora exatamente o contrário de toda esta lógica, imperando a crença, a superstição, a ação divina ou os textos sagrados como únicos meios de interpretação do mundo e de todos os fenômenos naturais ou humanos (como a própria mortandade causada pela peste negra entre os séculos XIII-XIV, entendida por muitos como castigo divino, como uma praga bíblica). Esta idéia, puramente medieval, conhecemos como “Teocentrismo”, que já insinua Deus como “centro” de todas as coisas que ocorrem no Universo.

O Humanismo é uma forma evidente de se verificar o “retorno” ao mundo clássico, especialmente quando relembramos a Filosofia Grega e a Arquitetura Romana. Foram os gregos os primeiros a se distanciar dos deuses para a compreensão do mundo, dando força ao exercício da empiria (observação das coisas) e do uso da razão (do pensamento, da análise, que dá início ao que depois conheceremos como as mais diversas ciências). Basta relembrarmos Sócrates/Platão que já diziam estar “vivendo em sombras” aqueles que não faziam uso da “luz” da razão, e Aristóteles, o dito filósofo concreto, que impulsionou os mais diversos estudos desde linguagem (poética), biologia, física, política.

Uma obra que retrata bem este resgate dos valores clássicos é “A Escola de Atenas” (1510-1511) do italiano Rafael (1483-1520), um dos ícones do Renascimento italiano. Nesta obra o artista retrata todos os filósofos gregos da Antiguidade, em destaque ao centro para Platão (que aponta seu dedo para cima, meio que indicando sua preferência por uma filosofia metafísica) e ao seu lado Aristóteles (que aponta o seu contrário, com o dedo para baixo, no sentido de uma filosofia mais concreta, distanciada das coisas espirituais/metafísicas).

Outro indício da recuperação da cultura clássica são as várias obras renascentistas onde o tema retratado, esculpido, pintado, nos remete as mitologias grega e romana, como na obra do também italiano Botticelli (1445-1510) “O Nascimento da Vênus” (1485) que nos mostra a deusa do amor romana, Vênus (que também dá nome a planeta de nosso sistema solar) saindo de uma concha, como que florescendo para a vida.

Outro ponto importante: a “vida”. Nas obras renascentistas, em seus afrescos (pinturas feitas diretamente na parede úmida), esculturas, os elementos e personagens retratados estão sempre apresentando “movimento”, “vida”, devido ao desenvolvimento de apuradas técnicas como a perspectiva (a criação de um fundo, de uma profundidade nos quadros dando-nos mais dimensões de visibilidade) e o uso das sombras/luzes (claro e escuro), como no famoso “sorriso” da “Monalisa” (1503-1504) do genial Leonardo da Vinci (1452-1519).

É fundamental apontar que o Renascimento não é um movimento que “nega o Deus cristão”, que se apresenta como verdadeiramente ateu (ao contrário do Iluminismo do século XVIII), nada disso. O Renascimento quer, de certa forma, colocar a religião no seu devido lugar, ou seja, como crença, como devoção, não como poder, como único meio de compreensão do mundo – para compreender este mundo, dos homens e da natureza, o ser humano é capaz, já que tem imaginação, inteligência. O que prova isto é a maciça presença de obras renascentistas em igrejas romanas, italianas, como a Capela Sistina (1509-1512) pintada por Michelangelo (1475-1564) retratando passagens bíblicas ao longo de toda estrutura física da Igreja ou mesmo do mecenato (famílias, homens, que encomendavam e financiavam as obras de vários artistas renascentistas) que muitas vezes tinha no Papa como maior dos mecenas.

Em uma de suas marcantes passagens, Michelangelo retrata a “Criação de Adão”, afresco que mostra o ser humano, representando como Adão, esticando suas mãos de encontro ao Criador, Deus representado em forma humana (com longos cabelos e barba branca) em ato de igualdade. Nem o Homem é menor que Deus, nem maior, e assim por diante. Deus e Homem são tornados iguais, em força e poder. Ambos possuem aspecto humano, e mesmo habitando planos diferentes, estão de mãos dadas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

HENRIQUE VIII - O Ceifador de Rainhas e o Criador de uma nova Igreja

Foi lançado em dvd o filme "A Outra" (The Other Boleyn Girl) que tem como fundo "histórico" as intrigas que envolveram a vida do rei inglês Henrique Tudor (Henrique VIII) e duas concubinas: Ana e Maria (Ana que depois tornou-se rainha da Inglaterra por pouco tempo).

HENRIQUE TUDOR E CATARINA DE ARAGÃO
Henrique VIII sempre teve uma vida pessoal atribulada, marcada por intrigas políticas, amorosas. Sua primeira esposa, a rainha Catarina de Aragão (espanhola) foi durante algum tempo esposa do irmão mais velho de Henrique, Artur, que morreu inesperadamente. Para não criar dissidências políticas com os espanhóis arranjou-se que Catarina casasse com Henrique, o novo sucessor real e alguns anos mais novo que Catarina.
Havia na Inglaterra uma lei de sucessão que permitia a uma mulher governar o reino, porém o povo inglês via nisso, mergulhado em histórico machismo, um sinal de ruína e decadência da nação. E assim começava a necessidade de Henrique VIII ter, e logo, um filho para sucedê-lo.
Catarina engravidou 7 vezes, e só um de seus filhos, uma mulher (Mary), sobreviveu. Estava colocado um grande problema para Henrique, com Catarina não havia mais possibilidades de se ter um filho como sucessor de seu trono! E agora?

HENRIQUE TUDOR E AS IRMÃS BOLENA
Henrique não tinha outro caminho senão começar a procurar outras mulheres, pois o povo ansiava por um sucessor homem, um "varão". Com Catarina isso já não era mais possível, e assim apareceram na vida do monarca as irmãs Bolena: Maria e Ana.
Com Maria Henrique chegou a ter um filho homem, mas logo acabara deixando-se levar pelo magnetismo de Ana, que acabou assumindo a condição de "amante real". Mas como casar-se com Ana? Como se livrar da rainha Catarina?

HENRIQUE TUDOR E A QUESTÃO REAL



O impasse político criado pela necessidade do monarca de se separar da rainha Catarina e de casar-se com Ana Bolena é conhecida como a "questão real". Henrique encaminhou a difícil missão de intervir junto a Igreja romana seus mais próximos ministros e sacerdotes, porém as respostas vindas de Roma, do Papa Clemente VII, não lhe eram favoráveis.
Henrique VIII então decidira o impasse internamente, entre seus fiéis ministros e juízes, anulando assim o casamento com Catarina sem a permissão papal. E no mesmo ano, em 1533, casou-se com Ana Bolena, tornada a nova rainha da Inglaterra.


HENRIQUE TUDOR E A IGREJA ANGLICANA (CHURCH OF ENGLAND)
A resposta papal veio com a excomunhão (expulsão da comunidade religiosa), declarada por Clemente VII por entender que a anulação do casamento com Catarina de Aragão e o casamento do rei com Ana Bolena eram afrontas a Deus e a religião cristã romana.
Poucos sabem, mas Henrique VIII era um fervoroso cristão, e até combateu com intensidade a revolução religiosa ocorrida em terras alemãs quando do surgimento do Protestantismo com Martinho Lutero. No entanto, com a excomunhão feita por Clemente VII, Henrique retira a Inglaterra do seio da Roma Cristã, criando uma nova Igreja Cristã - o Anglicanismo ou Igreja Anglicana (Church of England/Igreja da Inglaterra), onde seria o rei inglês o novo líder religioso e não mais o Papa católico.
A briga entre anglicanismo e católicos se acirrou com o passar dos anos, chegando ao ponto do rei autorizar em 1538 a destruição de santuários de santos católicos e o fechamento de monastérios (que tiveram seus bens usurpados pelo Estado inglês); para piorar o grande filósofo Thomas More (que escreveu A Utopia), antes fiel aliado a Henrique, se negou a aceitar a nova Igreja e acabara sendo executado por traição em 1534.

HENRIQUE TUDOR EM BUSCA DE UMA NOVA ESPOSA
O casamento com Ana Bolena não ia nada bem, ela lhe deu uma filha, Elizabeth, e nada de um filho homem como ela tanto havia prometido dar ao monarca.
A obsessão por um filho homem, compreendida como questão de Estado, foi levando Ana ao desespero, cada vez mais agravado pela irritação e desconfiança do rei Henrique.
E assim, como fizera com Catarina de Aragão, Henrique já estava em busca de uma nova mulher/rainha, uma que finalmente lhe daria um filho homem legítimo (pois Maria Bolena não se tornou rainha, talvez o erro maior de Henrique VIII) - surge Joana Seymour!
Mas e agora, como se livrar novamente de uma rainha indesejável? Anular o casamento como antes, não seria preciso - bastava usar o descontentamento do povo com Ana e livrar-se dela.
Ana nunca tivera aceitação como rainha, ficando sempre a imagem da mulher que enfeitiçou o rei a ponto dele se separar da rainha Catarina e da própria igreja romana.
E assim era só plantar denúncias, mesmo falsas, sobre Ana e executá-la, abrindo espaço para a nova rainha Joana Seymour.
E as acusações vieram, até de membros de sua família: Ana era então acusada de bruxaria, adultério, incesto, conspiração e traição - o destino era certo, a decapitação! E isso ocorrera em 1536, sendo também executados o irmão e o pai de Ana, ambos por conspiração e traição.

HENRIQUE TUDOR CONSEGUE O QUE QUERIA: NASCE EDUARD
No mesmo ano da execução da rainha Ana, Henrique VIII casa-se com Joana Seymour e torna-a nova rainha da Inglaterra.
Desta relação nasceu o futuro rei Eduard I (1537), agora sim um filho legítimo. Porém a felicidade de Henrique não fora completa já que após o parto Joana acabou morrendo, deixando o monarca na viúvez.
Em 1540 Henrique se casa novamente, com Ana de Cleves. No mesmo ano anula este casamento, com o argumento de não tê-lo sacramentado com uma relação sexual (na verdade Henrique não gostava de Ana, e esta não lhe despertava o menor desejo, sendo o casamento uma questão política).

HENRIQUE TUDOR CORTA MAIS UMA CABEÇA REAL
Henrique logo arruma nova esposa: Catarina Howard, prima de Ana Bolena. E como Ana, Catarinha tivera o mesmo e triste fim - a execução! Howard após alguns anos de convívio com Henrique acabara se envolvendo em escândalos, sendo assim acusada e executada por adultério.
Como no caso de Ana Bolena, os historiadores entendem que a execução de Catarina Howard fora uma artimanha jurídica, criada para satisfazer as vontades de um monarca marcado pela tirania.

HENRIQUE TUDOR E SUA ÚLTIMA MULHER
Em 1543 Henrique se casa, pela última vez, com Catarina Parr, que conseguiu reconciliar Henrique com suas filhas Mary e Elizabeth, filhas de Catarina de Aragão e Ana Bolena - agora recolocadas na linha sucessória após Eduard, filho de Joana Seymour e que será o sucessor de Henrique VIII em 1547 como Eduard I.

domingo, 5 de outubro de 2008

A Cegueira Branca de Saramago; a Democracia Ateniense


QUAL É A VERDADEIRA VISÃO?
Assisti na noite de ontem o filme do diretor brasileiro Fernando Meirelles, baseado na obra do escritor português José Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira", e posso garantir ao caro leitor que se trata de um bom filme, daqueles que além de entreter nos fazem pensar, refletir, ir além e não parecer passivo diante de um filme.
O filme mostra uma situação inusitada, quase absurda: de uma epidemia capaz de tornar as pessoas cegas, perdidas não numa escuridão (no caso a cegueira normal, natural) mas numa brancura, numa luminosidade tão intensa, que logo não podemos nada ver com nossos olhos.
A epidemia chega a tal ponto que as pessoas infectadas vão sendo colocadas, em número cada vez maior, numa espécie de instituição de isolamento (quarentena) que vai se transformando pouco a pouco num verdadeiro campo de concentração, num gueto tomado pelo caos e pela miséria humana.
Em meio aos caos do sanatório as pessoas infectadas vão perdendo a sua humanidade e a própria dignidade, e, para piorar, as coisas fora daquele lugar também se tornam sem controle, visto que a epidemia chega a escalas tão imensas que já não há mais qualquer indício do que seria a nossa presente civilização.
Quando posteriormente todos recuperam a visão certamente já não eram mais os mesmos, e o mundo não seria mais o mesmo. Creio que todos chegaram a conclusão de que a condição humana é a mais sutil possível, visto que nossa civilização, nossa condição humana, caiu feito uma sequência de dominós empilhados quando simplesmente não mais poderíamos ver. Somos assim escravos de nossos sentidos.
Esta sim é a verdadeira visão, a visão de que nós seres humanos somos, sempre, limitados, e que além disso somos escravos de nós mesmos, de nossas sensibilidades.

A DEMOCRACIA ATENIENSE
Como neste mês de outubro vamos as urnas eletrônicas escolher os futuros prefeitos do Brasil, é conveniente apontar as origens do que conhecemos hoje como "democracia" ou processo democrático, especialmente quando relacionada ao mundo político e a administração das cidades.
Etmologicamente a palavra democracia é a junção de:
DEMOS (POVO) + CRATOS (GOVERNO)
Ou seja, estamos lidando com o "governo do povo" ou mesmo a "participação popular nos governos".
No século VI a.C. Atenas, grande pólo cultural grego localizado na região da Ática, dá os primeiros passos na direção do abandono de uma vida política aristocrática (como era presente por exemplo em Esparta) para a construção de um modelo político onde os seus cidadãos obtivessem maior participação nas decisões e rumos da cidade.
Assim, a democracia criada em Atenas apenas dava voz, direito de participação, aos ditos cidadãos de Atenas - apontados pelo seguinte critério: homens maiores de 18 anos, livres e atenienses. Ou seja, a democracia ateniense não indica ampla participação popular ou mesmo da totalidade do povo da cidade, visto que se excluem os mais jovens, as mulheres, os escravos e os estrangeiros.
Os políticos atenienses que encamparam esta transformação política, rumo a democracia, foram Clístenes, Sólon e Péricles, cada qual com sua parcela de contribuição em aperfeiçoamentos realizados durante a construção do modelo democrático de administração da cidade.
Inicialmente os cidadãos atenienses eram sorteados para atuarem em duas instituições democráticas, sendo estas a Ekklesia e a Boulé. A princípio os cidadãos nada recebiam pelos seus trabalhos na vida pública, porém Péricles foi quem depois instituiu pagamentos aos servidores da democracia como forma de agraciar a participação política dos cidadãos mais pobres.
A Ekklesia também é conhecida como "Assembléia Popular" e tinha como função a elaboração das leis de Atenas, sendo estas encaminhadas para a instituição seguinte, a Boulé ou também conhecida como "Conselho dos 500" (por reunir 500 cidadãos) onde as mesmas leis eram apreciadas e depois votadas (não com papéis, nem com urnas, mas com o simples levantar das mãos em sinal positivo ou negativo na aprovação ou não de uma lei criada pela Ekklesia). Se aprovada pela Boulé logo a lei estaria vigente na cidade de Atenas.
Este modelo de democracia, criada em Atenas na Antiguidade Clássica, pode também ser entendido como Democracia Direta e hoje, no mundo pós-moderno, sobrevive de certa forma em sindicatos de trabalhadores mas não mais em âmbitos citadinos.
Contudo a democracia ateniense deve ser encarada como ela é, de forma não-romântica: foi o primeiro passo, mesmo que pequeno, em direção ao que hoje conhecemos como participação popular na vida política e na administração pública. E se a democracia não funciona na opinião de alguns, certamente os outros caminhos políticos não são os mais adequados a se seguir, e assim, mesmo com todas as suas imperfeições e distorções não podemos deixar de lado o espírito democrático, assoprado pelos atenienses a mais de 2500 anos atrás...VOTE COM CONSCIÊNCIA

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

BOLSAS E PROFESSORES MINEIROS QUEBRADOS!

CRISE FINANCEIRA NORTE-AMERICANA DE 2008
A crise deflagrada nas últimas semanas vem sendo entendida como uma anunciação, quase apocalíptica, de que o tal “Neoliberalismo” derradeiramente encontrara o seu fim. Isso porque o governo de Bush Jr. tenciona, até o momento sem sucesso (hoje negado pelo Parlamento norte-americano), injetar U$ 700 bilhões para salvar o sistema financeiro-bancário dos Estados Unidos, a beira da recessão econômica.

Os anunciadores do fim dizem “ta vendo Tiago, olha o governo pondo a mão, salvando o capitalismo!”, e “o mercado não pode funcionar assim, como bem quer” (o próprio Sarkozi, presidente francês, diz quase a mesma coisa quando aponta que o mercado financeiro não pode continuar numa espécie de laissez-faire).

Uma coisa é certa: o sistema financeiro necessita limitações, mas Sarkozi exagera ao chamar o momento econômico mundial como de típico laissez-faire. O sistema financeiro necessita construir mecanismos de maior controle e fiscalização, de modo a evitar ao máximo as especulações que acabaram misturando dívidas podres com dívidas pagáveis num mesmo bolo, ou como aponta o jargão do mundo financeiro “bolha”, que se positiva quando inchada acaba por causar caos financeiro quando estoura. E é o que ocorreu: a bolha estourou!

Um fator limitador para o plano Bush Jr. é a cultura político-econômica – ou seja, de que estaria o governo norte-americano salvando bancos e banqueiros poderosos da bancarrota, e para isso fazendo uso do dinheiro do contribuinte norte-americano (historicamente muito exigente quanto ao pagamento de impostos/sistema tributário: uma cultura liberal).

A crise é grave, sem dúvida. O abalo é comparado e até entendido por alguns como semelhante ou superior ao que ocorrera em 1929 quando do “Crack” da Bolsa de New York, que jogara os Estados Unidos numa profunda depressão econômica e reforçando a idéia de que o Capitalismo dava sinais, naquela época, de que seus dias estavam contados.

Em curto prazo os norte-americanos entrarão, de cabeça e tudo, num processo de recessão econômica (não de depressão como em 1929), que produzirá uma queda no crédito em escala global. A esta queda no crédito haverá uma desaceleração econômica, pois é o crédito que fomenta grande parte dos investimentos produtivos. Com pouco investimento a economia não cresce, entra em estagnação, e logo vêm as tragédias sociais: queda no consumo, alta do desemprego que reproduz mais estagnação e aprofunda qualquer recessão econômica.

A salvação da lavoura, apontam especialistas, são os países em desenvolvimento, leia-se: o consumo interno chinês, que possui taxas anuais de crescimento batendo nos 10%. E assim os bancos norte-americanos fazem um apelo: consumam camaradas chineses!

RELATO DE UMA GREVE – POBRES PROFESSORES MINEIROS, LITERALMENTE
Entre 28 de agosto de 2008 até o dia 26 de setembro de 2008 os professores da rede estadual de Minas Gerais entraram em movimento de greve – na luta pela implantação do Piso Salarial Nacional de, míseros, R$ 950,00 por 24 horas semanais de trabalho.

Hoje voltamos as nossas salas de aula e qual fora o saldo, efetivo, deste movimento de quase 1 mês? Quase nenhum. E pior, os profissionais em educação agora sentem-se angustiados com a necessidade de reposição das aulas em pleno mês de outubro e com os pagamentos referentes aos dias não-trabalhados (por lei considerada falta justificada).

A situação da educação em Minas Gerais não é satisfatória, nem para alunos, nem para educadores, nem para trabalhadores que fazem serviços gerais, só para o governo Aécio e suas secretarias. Assim, por mais que questione a maneira como esta greve fora conduzida pelo Sindute-MG, não podemos negar que a greve foi mais do que justa.

Nossas escolas continuam recebendo nossos jovens ainda na base do já arcaico “CG”: Cuspe e Giz! Os salários estão muito defasados, muitos professores não possuem sequer um computador ou mesmo condições de comprar livros ou de fazer atividades culturais. Os alunos, quando detectadas necessidades de acompanhamento por parte do Estado, são negligenciados por aqueles que deveriam assisti-los (tente, como professor, conseguir um terapeuta, um assistente social, um fonoaudiólogo, e até um médico para o seu aluno que carece de condições mínimas de existência, a resposta será a mesma – infelizmente, caro professor, as coisas no Estado são demoradas, sabe como é a burocracia). Muitos colegas não conseguem um atendimento médico digno por parte do IPSEMG, que “atende” aos servidores da educação. O Estado de Minas Gerais ainda por cima “efetivou” uma série de profissionais sem concurso público, o que fere lei criada desde os tempos de Getúlio Vargas nos anos 30, e ainda por cima temos a situação absurda que vivem muitos profissionais designados (deixados à própria sorte/insegurança profissional e financeira, e encarados sempre com desigualdade).
E assim amigos leitores tenham as seguintes certezas:
1) a educação mineira não é de boa qualidade.
2) os educadores mineiros vivem situação de penúria profissional e econômica.
3) o governo estadual mineiro é mentiroso.
4) o governo estadual mineiro é uma grande máquina de propaganda.
5) o Sindute-MG fez o certo, deu o tiro, porém acertou o próprio pé.
6) nossos jovens não estão sendo devidamente assistidos pelo Estado de Minas Gerais.
7) nossas escolas possuem estrutura física inadequada.