domingo, 30 de agosto de 2009

PROF. TIAGO MENTA ENTREVISTA: PAULO GHIRALDELLI JÚNIOR


A entrevista com o filósofo paulista Paulo Ghiraldelli Júnior (23/08/1957), um dos mais criativos (com trabalho extenso na internet via redes sociais, blogs, vídeos no youtube, a partir de seu trabalho junto ao Centro de Estudos em Filosofia Americana - CEFA)e ativos dos intelectuais nacionais (com mais de vinte livros publicados, tratando desde Temas Clássicos ou Contemporâneos da Filosofia, História da Filosofia, História da Educação; colunista do jornal O Estado de São Paulo, e professor universitário) topou dar uma entrevista, muito bacana, ao amigo historiador aqui de Belo Horizonte na noite do dia 29 de agosto de 2009. Boa leitura e não percam o trabalho do amigo Ghiraldelli nos endereços abaixo:
http://www.ghiraldelli.blogspot.com
http://www.ghiraldelli.pro.br
http://www.livestream.com/filosofia?referrer=mogulus
http://portal.filosofia.pro.br/
http://ghiraldelli.ning.com
http://www.justtv.com.br/loucurasdoalexandrelli

1. Paulo Ghiraldelli Jr., o que é mais díficil no Brasil em que vivemos: ser filósofo ou ser professor? Justifique.

Ser filósofo é algo que não devemos qualificar como fácil ou difícil. Filósofo não é profissão e não é sacerdócio, é um modo de condução da própria vida. É claro que se vou preeencher um formulário, ponha lá, "filósofo". Mas não é uma profissão, não pode ser. Não se pode querer ganhar dinheiro simplesmente por estar respirando. E isso é o que o filósofo faz, ele respira. E ao respirar, quer comer, quer viver e ... pimba, se vive filosoficamente, está vivendo como quer. Agora, como ganha a vida um filósofo, profissionalmente? Bem, ele pode trabalhar em qualquer profissão. Houve filósofos reis e filósofos carregadores de água. No mundo atual, em geral, dado as habilidades do filósofo, ele acaba se deslocando profissionalmente para carreiras não braçais para ganhar a vida, como escritor, professor, diretor de cinema, tradutor, etc.
Quanto a ser professor, bem, na escola pública brasileira, hoje, é impossível. O governos democráticos não cuidaram da carreira do professor, e agora as coisas não são alvissareiras e não vejo nada sendo feito para melhorar. Não digo melhorar o aparato físico, número de vagas etc. Digo melhorar a condição de vida e trabalho do professor - do bom professor. Isso é que está no chão no Brasil. Todas as reformas nos cursos de licenciatura para formar professores, não atraem os melhores para eles. Toda as reformas para instaurar planos de carreira para o professor já em exercício, também não torna a profissão atraente. Então, nesse campo, de Sarney a Lula, a democracia falhou. Somada com todos os erros do regime militar, estamos em uma situação difícil nesse setor.
Agora, sobre a profissão do professor universitário da universidade estatal, onde existe uma carreira, aí as coisas estão bem melhores. Esse pessoal não tem motivo para chorar. Seria necessário é fazer o que se fez com essa profissão, de professor universitário, também no setor da escola pública - incentivar a carreira por mérito intelectual, e deixar aí, ao menos ao longo de dez anos de serviço, o professor da escola básica, com um salário mais próximo do salário do professor universitário, e isso sem abaixar o salário deste.

2. A Filosofia enfim chega ao ensino médio como disciplina obrigatória. Como professor, sei que o simples fato dela estar ai ainda não é o bastante para a valorização do ensino de Filosofia. Então, o que ainda falta para o ensino de filosofia na educação básica nacional?

Bem, da minha parte, publico um monte, procuro escrever textos numa linguagem acessível a todos mais escolarizados e também aos menos escolarizados. Vou para a TV, estou em blogs e em todo o canto. Esse trabalho poderia ser maior, com mais gente. Mas o que eu faço já faz um bom barulho. Quero ter saúde para nos próximos 40 anos, continuar isso, além da minha atividade de scholar e pesquisador. Creio que é isso que podemos fazer. Quanto a esperar do governo algo, é bobagem. Não virá. E se vier, saia de baixo, pois com os governos que tivemos e temos, é até melhor que não venha nada mesmo. São um bando de imbecis e funcionam mais no agrado a corporações e amiguinhos do que no interesse da educação. Na filosofia, então, meu Deus! É até bom que não chamem nenhum intelectual para fazer algo, pois não custa nada virar uma coisa ou sem qualidade e chata ou uma coisa aparentemente com qualidade, mas apenas uma forma de disfarçar ideologia. O melhor mesmo é contarmos com esse tipo de trabalho que, em parte, eu faço com o apoio do Centro de Estudos em Filosofia Americana, o CEFA.


3. Compatilho com você duas paixões: a Filosofia, mas também a tecnologia (e a extensa rede que se constrói a partir do Cefa demonstra isso, tudo via internet). Assim, qual é e qual será o papel da internet como mecanismo, eficiente, de ensino-aprendizagem?

Não sei se a Internet é um lugar de aprendizagem. Ela é, sim, um lugar de aquisição de informação. Mas ainda não é um lugar de aprendizagem. A tecnologia dela ainda é um trambolho. Quando pudermos repetir a experiência de conversação ao vivo, em tempo real, sem grandes transtornos, o que não vai demorar muito, aí a coisa realmente vai valer a pena. O aprendizado real de você "pensar junto", pode ser feito pela escrita, mas precisa ser feito pela oralidade e, mais que isso, precisa ser feita na situação de convívio coletivo corporal. Nós somos seres do convívio, da imitação, do toque corporal. O que a Internet tem de bom é que ela é um lugar de liberdade. Sem ela, estaríamos sob o tacão do poder. Com ela, podemos botar a cabeça para fora. Os blogueiros colocaram o Quarto Poder no lugar dele. E isso é uma vitória mesmo. Para a filosofia, foi ótimo isso.

4. Hoje na grande maioria das Universidades faz-se um ensino muito fragmentado, artificializado, na base de apostilas, capítulos de livros, etc. Por que o curso superior, ou mesmo o nosso ensino médio, literalmente fogem das chamadas leituras "clássicas"? Por que o brasileiro teme os autores clássicos?
A fragmentação não é o problema. Isso é assim mesmo. As organizações da informação se fazem com cada um. Agora, os clássicos tem de prevalescer mesmo, mas como com esse tipo de formação dos estudantes, como fazer? Agora, veja, o brasileiro não teme os clássicos, e a prova é o êxito de venda da coleção "Os pensadores". Agora, é claro que há uma mania de achar que é sempre necessário ler alguém antes de ler os clássicos. Isso não é verdade.

5. Falando em política, é válida a clássica divisão entre esquerda e direita na política nacional, ou como diz a verborragia popular "é tudo farinha do mesmo saco"?
Não é farinha do mesmo saco não, e as posições direita e esquerda são super válidas. Nisso, somos herdeiros dos modernos, sim. Só a direita, derrotada na II Guerra Mundial, diz que não vale a divisão. A esquerda, nunca foi derrotada. O que ocorre com parte da esquerda foi o fracasso de um regime que caiu de joelhos por si mesmo. Foi o fim da URSS. Mas isso não tirou da esquerda a capacidade de reivindicar a classificação aludida, pois ficou a desconfiança de que o projeto da URSS não era o socialismo, e sim um erro, um desvio etc. Agora, no plano das democracias ocidentais, não importa se vamos um pouco à direita ou um pouco para à esquerda, embore eu prefira um pouco à esquerda, o que é necessário fazer é garantir que as oscilações não tirem nosso chão, ou seja, o lugar do tabuleiro, o lugar do jogo, que é a democracia, a garantia de que a vontade da maioria pode ser exercida sem que isso venha a comprometer a existência e os direitos das minorias.


6. Existe possibilidade de se conciliar socialismo ou mesmo qualquer ideologia que busque coletivização com democracia?

Há uma equação dura de resolver, a saber: como garantir liberdade individual sem que, entre essas liberdades, não esteja a liberdade de criar seu próprio negócio e tentar lucrar com ele. Esse é o problema do "socialismo com liberdade". Uma saída que temos, e que não é de se jogar fora, é a social democracia ou o liberalismo americano. Vive-se a liberdade de mercado e, no entanto, mantém-se o Estado ali, de butuca, para que as coisas não fiquem ao saber das "loucuras da época". Os Estados Unidos fazem bem isso. A democracia funciona e o Estado pode intervir, ainda que com cuidado, quando a coisa aperta, e isso se deu agora, com os americanos chamando os democratas, com Obama à frente, para fazer estatizações passageiras e, enfim, corrigir a rota. Esse programa é o ideal. Em relação à America, Marx acreditava nele, Tocqueville não.

7. Quais os maiores erros e quais os maiores acertos de uma vida política democrática?
Não digo acertos e erros, digo que há um problema nos regimes democráticos do Ocidente. Trata-se de algo que, nos Estados Unidos, tem dado resultado, mas que, no Brasil, ainda não funcionou. Falo da oposição, na democracia, entre os que cuidam do demos e os que cuidam da res-publica (vamos chamá-los de democratas e republicanos). Os primeiros podem descarrilhar para o populismo, os segundos podem descarrilhar para a incapacidade de perceber que dinheiro para a área social não é gasto, é investimento. Se soubermos equilibrar republicanos e democratas, aqui no Brasil (neste sentido que explicitei), podemos avançar. Por enquanto, estamos mais para o descarrilhamento desses dois grupos do que para suas possíveis melhores performances.

8. Sabemos que o filósofo integra uma filosofia pragmática, que encontra a sua plenitude no pensamento norte-americano (como Dewey ou o amigo e colaborador Richard Rorty). Para quem quer se iniciar nos caminhos de uma Filosofia Pragmática, o que o filósofo pode deixar como mensagem? O que o estudante, a pessoa comum, pode encontrar, de significativo, na filosofia pragmática?
Eu não sou um pragmatista de carteirinha. Fui amigo de Rorty e escrevemos alguma coisa juntos. Tive uma formação diferente da dele. E sou bem mais novo, ainda! Sou um tipo de filósofo que segue os passos não do pragmatismo em geral, mas do projeto de redescrição que Rorty fez bem. Rorty era um filósofo que apostava na imaginação e na esperança, e isso é comigo mesmo. Agora, o que realmente está no meu sangue, como estava no de Rorty, é que devemos manter a mente aberta PARA TUDO, e isso nos fez ler analíticos e continentais, e nunca deixar de ler um filósofo por razões políticas. Essa é a lição que aprendi. Agora, a outra lição dele eu não sei se aprendi mesmo com ele, acho que eu já era assim quando o encontrei. É que ele eu somos filósofos "do contra". Quando todo mundo vai para um lado, começamos a ficar com vontade de ver se isso não é uma coisa banal, que precisa de alguém que diga, xiii, mas o outro lado não fica ninguém porque? No meu caso, não faço isso por birra ou método, apenas por uma vontade de lembrar de que Montaigne não era burro. Ele lá tinha sua razão em achar que sempre podemo, e até devemos, ver se há razões contra as razões que me são dadas pelos que estão conversando comigo.

9. Para fecharmos a conversa vamos fazer um bate-bola cercado de polêmicas, eis o desafio:
a) o que pensa da lei anti-fumo em São Paulo?
Boa, é uma aspecto do projeto civilizatório, diria Norbert Elias.
b) como você definiria o trabalho do atual ministro da educação Fernando Haddad?
Qual trabalho? Ele tem trabalhado no que ? Ele abre todo dia uma frente nova, mas não desenvolve nenhuma, então ... parece que é uma sucessão de ejaculações precoces.
c) o que pensa sobre a descriminalização do uso de drogas?
Excelente. Se isso for levado de modo racioal, vamos dar um golpe duro no tráfico.
d) você é praticante de alguma religião?
Não, embora os deuses estejam sempre do meu lado.
e) em geral como você qualificaria os colegas filósofos do Brasil?
Gostaria de poder falar algo, mas eles são tão quietos, tão auto-centrados, tão alheios ao diálogo público que não há o que falar. Os que andaram falando ,tiveram de praticar o silência obsequioso, pois recebiam seus salários do governo Lula ou, então, da oposição. Assim é difícil.
f) o fato de se auto-intitular o filósofo de São Paulo causa ciúmes ou o fato de sua esposa ser uma mulher atraente e jovem causaria mais ciúmes ou mesmo inveja das pessoas?
Ha ha ha ha. Eu não sou "o" filósofo de São Paulo por ser dono da filosofia que se faz aqui, eu sou isso porque ganhei esse apelido na imprensa e eu resolvi usar para mostrar que alguém pode pensar vários temas mesmo que seja provinciano, mesmo que seja ligado à comarca. É uma lição socrática. Infelizmente, em vez das pessoas ficarem contentes com essa posição, algumas ficaram com birrinhas. Houve até um professor da Usp que telefonou para o jornal o Estado de São Paulo, usando um telefone do governo, talvez até da CAPES, pedindo minha cabeça no jornal. Mas, enfim, nem estou tendo tempo de jornal agora, os livros, TV e net tomam todo meu tempo.
Agora, sobre minha esposa, bem, a apróxima novela da Globo terá um casal com diferença de idade. Talvez melhore um pouco para a cabecinha dos que andaram falando contra mim e usando isso. Até um jornalista que se diz de esquerda, o Nassif, andou tentando desqualificar meu discurso usando isso. Que vergonha!
g) o que você tem a dizer aos que lhe criticam?
Adoro críticas. A melhor coisa do mundo é receber críticas. É claro que críticas inteligentes, que fazem a gente realmente mudar, são melhores do que críticas burras. Mas, na falta das segundas, vai as primeiras mesmo!
h) o Brasil tem jeito?
Por enquanto, o Brasil tem "geito". Para ter jeito, temos de escapar da dicotomia Dilma-Serra, que são fraquinhos para serem presidentes do Brasil. São mais fracos que Lula quando iniciou.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O INQUISIDOR QUE VIROU SANTO!

Até o aparecimento do casal Fernando (reino de Aragão) e Isabel (reino de Castela) ao poder (em 1478), unificando estes reinos no que depois tornou-se a Espanha, a Península Ibérica mantinha-se como uma região ímpar da Europa, por congregar, em rara harmonia, as três religiões monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos.

Isabela era conhecida como a "católica", sendo uma fervorosa cristã. Juntamente com o marido Fernando sonhavam em construir um Estado organizado, forte, de poder centralizado e com uma única religião, obviamente cristã e católica.

Logo o intento político e econômico do casal encontrara um aliado perfeito: Roma. E assim, Igreja Romana e reis de Aragão e Castela deram início a uma das páginas mais infames da história: a Inquisição Espanhola (que matou 15 % da população espanhola em cem anos). A autorização para que a Inquisição estendesse os seus braços pela Ibéria fora assinada pelo papa Cisto IV em 1 de novembro de 1478. E seria nomeado como Inquisidor Geral da região o terrível Tomás de Torquemada (que além das mortes e torturas causadas pelas perseguições e julgamentos inquisitoriais, criara uma espécie de solução final, como Hitler também proporá séculos depois na Alemanha nazista, expulsando da Espanha todos os judeus).

As principais vítimas dos reis católicos foram escolhidas com facilidade: os cristãos novos ou conversos (judeus que passaram a aceitar o cristianismo, de maneira forçada mesmo - muitos se converteram, ou melhor, aceitaram Jesus com a ponta de uma espada sobre o pescoço; outros aceitaram Jesus para se casarem com cristãos, mas nunca por convicção religiosa!).

Os cristãos novos tinham muitas posses, eram homens eminentes na sociedade hispânica, e obviamente isso atraiu, e muito, a atenção e a cobiça dos reis católicos e da própria Igreja romana. Sabe-se que após a condenação/execução daquele que era acusado pela Inquisição Católica seus bens eram confiscados pelo Estado, que repartia estes despojos com Roma.

O INQUISIDOR QUE VIROU SANTO!
Fora neste contexto que atuou o monge dominicano Pedro Arbués, formado em Teologia pela Universidade de Bolonha.
Arbués tornou-se um eminente inquisidor, condenando uma série de conversos, como ditava a ordem instituída pelos reis católicos e a "santa" Igreja. Não era sem razão que recebeu o apelido de "o flagelo de Zaragoza" (na época capital da Espanha).
Conversos que a tempos eram pessoas eminentes do reino começaram a temer pelo pior, e elegeram um inimigo em comum: o inquisidor Arbués.
Antes de agir de maneira desesperada estes homens tentaram de todas as formas, inclusive pelas vias jurídicas, se proteger da fúria da Inquisição, porém nem os reis católicos, nem Roma (ambos que um dia foram contemplados com ajuda financeira judaica na luta contra os muçulmanos do sul da Península, em Granada) se mostraram interessados em interromper com as perseguições e condenações. Não tinha mais jeito, era preciso lutar, dar uma demonstração de força.
E assim, por 800 florins de ouro, oito homens foram contratados para dar cabo do inquisidor Arbués - esfaqueado dentro de uma Igreja, em Zaragoza, em setembro de 1485.
Arbués, antes de ser morto, já vinha sendo ameaçado pelos conversos, e usava por baixo da roupa de monge uma malha de aço (como um cavaleiro) para se proteger, e também um elmo. No caso, acabara morto esfaqueado em seu pescoço (degolado).
A resposta da Igreja e dos reis católicos foi rápida. As leis do reino foram deixadas de lado e a Inquisição reprimiu com força a população de cristãos novos de Zaragoza - resultando em 64 execuções, como retaliação a morte do inquisidor.
Séculos depois, o flagelo de Zaragoza fora beatificado e depois canonizado como "santo", tornando-se São Pedro Arbués em 1867 pelo papa Pio IX, e sua data comemorativa em 17 de setembro (dia de sua morte).
Imaginem, caros leitores, ser devoto de São Pedro Arbués - o inquisidor, que por exemplo, costumava cobrir o rosto do cristo na cruz durante as sessões de tortura, onde cristãos novos espanhóis eram dizimados e depois roubados (com o confisco de seus bens).
E ainda aparecem pessoas na televisão justificando a Inquisição, creio eu que são todos devotos de São Pedro Arbués (que queime no inferno, porém infelizmente o mesmo não existe, sendo mais um conto de fadas da criativa imaginação humana).

domingo, 23 de agosto de 2009

20 ANOS SEM RAUL


Neste último dia 21 do mês de agosto completaram-se 20 anos que o Brasil e em especial a música nacional perdera um de seus maiores ícones e fonte de criatividade: Raul Santos Seixas, ou para os mais íntimos "Raulzito".
Raulzito é talvez o único músico nacional que possui em si uma aura mística, uma energia capaz de transformar a sua obra em algo imortal, e como diz a música do brilhante Zeca Baleiro ao se referir aos admiradores do maluco-beleza soteropolitano "jovens, velhos e crianças, malucos e caretas, é quase uma seita.(Toca Raul). Em suma, Raul vive, 20 anos após desaparecer corporeamente. E ele, respeitando certas limitações, imita ao rei do rock'roll Elvis Presley, falecido a mais de 30 anos e que povoará para sempre a música ou mesmo a cultura norte-americana.
Raul é, com certeza, uma espécie de Elvis tupiniquim, e começou sua carreira na Bahia imitando o rebolado do ídolo norte-americano com a banda Raulzito e os Panteras, contudo o que imortalizara o músico fora a sua virada "psicodélica/mística" refletida na parceria com o escritor "mago" Paulo Coelho na elaboração de letras/sucessos como "Gitã", "Mosca na Sopa", "Eu nasci a dez mil anos atrás", "Ouro de Tolo", "Metamorfose Ambulante", "O Dia em que a Terra Parou" e a minha preferida "Sociedade Alternativa".

Em "A Sociedade Alternativa", um verdadeiro grito de liberdade, em meio a um Brasil militarizado, autoritário, católico, careta, Raulzito e Paulo Coelho nos presenteiam com a máxima de Edward Alexander Crowley (lei de Thelema) "Faça o que tu queres, há de ser tudo da Lei". Crowley afirma em "O Livro da Lei":

"
“A Lei é feita da tua vontade. A Lei é a do Amor, o amor sob tua vontade, não há mais a Lei; faça a tua Vontade”


Mas Raulzito não ficou parado em letras místicas, carregadas de um desejo de transformação, de mudança não só em termos sociais, mas de uma mudança ontológica mesmo, de um novo ser, de um devir onde a liberdade seria a regra. E sem mais palavras, nada diz melhor o que foi a obra de Raul senão suas músicas, daí a leitura obrigatória e atenta das letras abaixo:

Raul Seixas - Ave Maria da Rua

No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração

Teu nome é Yemanjah,

E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Ou, minha mãe
Minha filha tu és qualquer
mulher
Mulher em qualquer dia

Bastou o teu olhar
Teu olhar
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Ou ou ou
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar a barra
De te amar

Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz, Ou ou ou
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente

Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão me
assustar
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.


Raul Seixas - Eu Nasci a Dez Mil Anos Atrás
Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:

Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi Cristo ser crucificado
O amor nascer e ser assassinado
Eu vi as bruxas pegando fogo pra pagarem seus pecados,
Eu vi,
Eu vi Moisés cruzar o mar vermelho
Vi Maomé cair na terra de joelhos
Eu vi Pedro negar Cristo por três vezes diante do espelho
Eu vi,

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi conde Drácula sugando o sangue novo
e se escondendo atrás da capa
Eu vi,
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros pra floresta
pro quilombo dos palmares
Eu vi,

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi o sangue que corria da montanha
quando Hitler chamou toda a Alemanha
Vi o soldado que sonhava com a amada numa cama de campanha
Eu li,
Eu li os simbolos sagrados de Umbanda
Eu fui criança pra poder dançar ciranda
E, quando todos praguejavam contra o frio,
eu fiz a cama na varanda

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais

Não, não porque
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
Não, não

Eu tava junto com os macacos na caverna
Eu bebi vinho com as mulheres na taberna
E quando a pedra despencou da ribanceira
Eu também quebrei a perna
Eu também,
Eu fui testemunha do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi brilhar no céu
E praquele que provar que eu tou mentindo
eu tiro o meu chapéu

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais



Raul Seixas e Claudio Roberto - O Dia em que a Terra Parou

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra
parou)


Raul Seixas - Sociedade Alternativa
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva o novo aeon)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Se eu quero e você quer

Tomar banho de chapéu

Ou esperar Papai Noel

Ou discutir Carlos Gardel

Então vá
Faça o que tu queres
Pois é tudo

Da lei, da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Faz o que tu queres há de ser
Tudo da lei, da lei
Todo homem, toda mulher
É uma estrela
Viva

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Mas se eu quero e você quer

Tomar banho de chapéu

Ou discutir Carlos Gardel

Ou esperar Papai Noel

Então vá
Faça o que tu queres
Pois é tudo

Da lei, da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
O número 666 chama-se Aleister Crowley
Viva

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
Faz o que tu queres
Há de ser tudo da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
Viva
A lei de Thelema

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
A lei do forte, essa é a nossa lei, e a alegria do mundo.

Viva, viva, viva a sociedade alternativa


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A ARENA ROMANA MIDIÁTICA


Nas últimas semanas temos assistido a uma verdadeira batalha, só não se sabe ao certo a sua natureza: ideológica, econômica (ambas as coisas)? O certo é que as emissoras de televisão Rede Record (poder da fé evangélica/Igreja Universal do Reino de Deus/teologia da prosperidade) e Rede Globo (verdadeiro monopólio das telecomunicações brasileira/maior penetração entre os telespectadores brasileiros/símbolo da cultura de massas/braço forte das elites nacionais) estão, declaradamente, se pegando para valer em uma luta daquelas que mais parece uma arena romana: ou seja, desta batalha só uma sairá viva, e a luta obviamente só termina quando uma das combatentes cair morta.

Sabemos que esta briga não é nova, ela agora só parece ganhar novos contornos, mais escarnecidos. A justiça brasileira se insere no caso, mas demonstra não ter força suficiente para lidar com isso e com os interesses que fazem parte do caso. Assim, as duas redes ficam se acusando, alfinetando, mutuamente, via programação semanal (de preferência em seus telejornais ou programas de entretenimento) – pois elas sabem que a luta, a luta real, a arena romana real, se realiza nas mensagens que passam pelos milhões de tubos de imagem deste país, e não nos tribunais frios e distantes da justiça nacional.

Vamos às acusações - farei aqui o papel de advogado do diabo, ou melhor, advogado dos diabos (que missão infernal ein!):

REDE GLOBO
ARGUMENTOS
A rede Record é uma espécie de fachada para que a Igreja Universal de certa forma “lave” o dinheiro do dízimo de milhares de fiéis da mesma igreja.
A rede Record falta com a ética quando usa, indevidamente, o dinheiro de fiéis em investimentos na emissora, e não em benefício dos mesmos fiéis ou da referida igreja e seus programas sociais.
A rede Record é perigosa, pois mistura política, jornalismo e religião. A mesma tenciona transformar-se num projeto de fortalecimento, ideológico e econômico, da Igreja Universal do Reino de Deus, acelerando o processo de protestantização/evangelização do Brasil – através da ponte entre a miséria do povo e a chamada teologia da prosperidade.

REDE RECORD
ARGUMENTOS
A rede Globo começou esta guerra midiática, pois teme perder espaço para a rede Record, que está em ascensão. Um dos fatos que demonstra isso é além do crescimento da audiência da Record, a compra por esta rede de eventos internacionais do porte das Olimpíadas de Londres-2012 (transmissão exclusiva, em televisão aberta, da Record).
A rede Globo é um braço histórico das elites brasileiras, demonstrado muito bem no documentário britânico “Muito além do cidadão Kane”, em que é apresentada a ascensão da emissora carioca em conluio com estranhos processos durante o governo militar brasileiro (como a existência de dinheiro estrangeiro para a criação da emissora – grupo Time Life/Warner) e também com interesses burgueses (como a não cobertura do movimento pelas Diretas Já, e a interferência direta na disputa eleitoral em 1989, quando Collor vencera Lula).
A rede Globo exerce verdadeiro monopólio nas telecomunicações nacionais. Em síntese é uma emissora criada em meio a um regime político de exceção, e que possui como essência uma atitude antidemocrática.
A rede Globo serve aos interesses do catolicismo.

MEU JUÍZO
“Observando as acusações de ambas as emissoras, eu, Tiago Menta, historiador e filósofo, declaro ambas as emissoras culpadas. Assim estão as emissoras Record e Globo de televisão condenadas a sumir de nossa grade televisiva.
As duas cometem verdadeiro crime contra os interesses dos cidadãos brasileiros, apresentando-se como ícones da desinformação, alienação, deseducação.
Portanto, por todos os desserviços prestados a nação brasileira condeno-as a extinção sumária.
E por favor, guardas, prendam nas masmorras os senhores Roberto Marinho e Edir Macedo.”
Pá! (bati o meu martelo, com força, como orientaria Nietzsche).

domingo, 9 de agosto de 2009

EU SOU UMA AVE DE RAPINA


No meu trabalho como educador já apresentei aos meus alunos fatos relacionados a história da Cristandade, do Judaísmo, do Islã, para ficarmos nas três maiores religiões monoteístas deste planeta.
Já pelas vias multimídia, no canal do youtube (http://www.youtube.com/tiagomenta), elaborei uma série de vídeos sobre o Islã e a vida do profeta Muhammad, e também de temáticas envolvendo a Cristandade (Cultura Medieval, Escolástica, História Romana, Reforma Protestante, e agora mais recentemente a Inquisição Católica).

Alguns leitores ou alunos virtuais, ainda não entenderam o sentido, acadêmico, de se discutir o tema "Religião". E me desculpe a franqueza, mas por pura ignorância.
Fé, crença, não são elementos que tenho como intenção tratar aqui, ou mesmo em sala de aula, visto que como educador sei que é positivo e salutar respeitar as opções dos outros (desde que este não se vire para você de maneira a condená-lo aos infernos, como muitos já me condenaram, em ato de intolerância e insignificância intelectual ou mesmo mental). Então de que estou falando? Do simples, da religião enquanto cultura, política, visão de mundo (Weltanschauung) e principalmente enquanto corpo institucional (com regras, normas de conduta/ética, hierarquia, doutrinas, organização, historicidade).

Alguns poucos, cegos, já me colocaram a burca na cabeça e me rotulam como muçulmano, outros apontam o dedo para mim e já me vislumbram como um apaixonado pastor com uma bíblia protestante sob os braços, e há os que entendem que seja eu um católico mais crítico, mais próximo de mentes como a de Leonardo Boff (cultuando um retorno ao Cristianismo Primitivo, de opção pelos pobres do mundo). Não, não, não, todos errados.

O amigo professor aqui, a duras penas, como sempre é, é ateu.
O Deus Cristão, Jeová, apresentado para mim enquanto criança, e não só apresentado mas imposto pela pressão familiar (maquiada de socialização) não me conquistou, e com o tempo foi se mostrando inviável enquanto entidade.
O islã, com sua riqueza nascente, em meio a uma Europa capenga ao longo dos séculos medievais, não apresenta algo muito diferente em seu Alá, e também não conquistara o amigo aqui.
O judaísmo e sua histórica arrogância, substancializada no Estado de Israel (um país artificial no seio do Oriente Médio e do Mundo Árabe), não me atraiu também - mesmo com todo o esforço empreendido em Hollywood para convencer-me do contrário, usando como arma mortal a piedade universal diante dos absurdos e grotescos eventos cometidos durante o Holocausto nazi-fascista.

Assim, só me resta a solidão, e o ateísmo é um ato de coragem também pela solidão que evoca, que acaba por nos punir.
Em países como os Estados Unidos somos considerados verdadeiras ameaças e a população americana diz em pesquisas que não elegeria, de jeito nenhum, um ateu no comando da nação.
Contudo, esta solidão não é uma solidão comum, triste. É uma solidão simples, como uma mão solitária que se levanta em meio a uma multidão. Uma mão solitária que se recusa a aceitar tudo pela via da "pronta entrega" metafísica. Uma mão que não negocia com entidades, que deste mundo nada espera senão vivê-lo, em estado de gozo quase diário.

Não faço o tipo Dawkins, de ateísta panfletário, de ateísta show-man, mesmo tendo que reconhecer o brilhante trabalho do biólogo britânico. Eu sou o ateísta silencioso, que abre suas asas, como a coruja filosófica de Palas Atenas, ao cair do sol (como dizia Hegel). Em alguns momentos, após o silêncio do dia, eu alço voo. E é preciso coragem, antes de tudo, para sair da segurança do chão, da galinha boffiniana, e sair por ai como uma verdadeira e feroz ave de rapina. Eu sou Tiago Menta, eu sou uma ave de rapina.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

FELIPE AQUINO - A ANTA QUE FALA E PREGA!



Em meus últimos vídeos, tratando das violências cometidas pelo Catolicismo através de sua Inquisição, deixei de maneira clara, sem agir segundo o "politicamente correto" (que configura o fim de qualquer intelectual que se considere livre ou independente) dura crítica ao dr. em engenharia Felipe Aquino, que, endossando o dito em vídeo, realiza grande desserviço a tudo a que considero como ciências humanas ou mesmo humanismo, ditando dogmatismos, conservadorismos, reacionarismos, moralismos, e tudo que de pior, institucionalizante, pode ser apreendido e encontrado em uma religião - no caso o Catolicismo, vide suas participações televisivas em uma das redes pertencente a Igreja Romana.

Felipe Aquino em seus livros, e já tive o desprazer de ler alguns capítulos de suas obras (sendo-me impossível ir até o final, tamanhas bobagens o autor escreve, e confesso ter lido mais por senso de humor do que propriamente por considerar uma fonte de pesquisa útil) afirma coisas do tipo:

- a música rock'roll é criação demoníaca.
- a Igreja Católica é a única legítima, criada pelo próprio e verdadeiro Deus. Todas as outras crenças ou mesmo formas de cristianismo são falsas, são inválidas, desvios.
- o preservativo não deve ser usado, sendo considerado seu uso pecado. E sexo é somente para a procriação.
- o homossexualismo é um ato pecaminoso, condenável.
- a Inquisição e outros erros "da Santa Igreja" são erros humanos, dos homens em seu contexto histórico, e não da Igreja, a instituição Igreja, vista como infalível e como representante de Deus entre nós.
- aquele que pratica o sexo anal se reduz a condição de animal, assim como fazer sexo com a mulher "de quatro" é ato pecaminoso, proibitivo, pois reduziria o homem a condiçao animalesca.

Pois é, percebem as bobagens, idiotices, que este doutor, vai saber como, em engenharia (porque se fosse filósofo, historiador, sociologo, psicologo, antropologo deveria levar uns tapas e ser obrigado a voltar para a graduação) diz por ai, em rede nacional, dando uma de "professor", de homem de "ciências", quando na verdade aquilo ali é a faceta mais perversa e conservadora que ainda persiste em uma Igreja que já carrega mais de dois mil anos de sangue, hipocrisia, atraso intelectual, e só se mantém, hoje mesmo a duras penas, porque o ser humano ainda prefere viver envolto no dito "mistério", espera encontrar consolo, mesmo na falsidade, em um devir de conforto junto a uma idealização infundada e inebriante.

E claro, não poderia terminar este texto colocando os "pingos nos is"...
- Use camisinha, sempre. Cuide de sua saúde e de seu parceiro.
- Sexo é bom, sempre. Pratique-o, aproveite o prazer com intensidade, mas com responsabilidade.
- O rock'roll, assim como toda forma de música, é expressão cultural humana e deve ser respeitada como tal.
- O Catolicismo (não confundam catolicismo com cristianismo, o último diz respeito a fé que o indivíduo tem) é uma instituição religiosa, e como instituição social possui regras, normas, ideologia, política, hierarquia, e como instituição ela foi criada (pelo imperador romano Constantino I) e é conduzida por seres humanos (ontem, hoje e amanhã). Seus erros, seja qual for o contexto histórico, são seus próprios erros, não havendo infalibilidade nem de seus líderes nem de seu corpo eclesiástico.
- A Inquisição Católica é ato de terror, e como tal não há perdão que apague a imundície que a criara e conduzira por séculos. É ato de intolerância e desrespeito a vida humana, é o mais puro ato de desumanismo dentro de uma instituição que tenta se legitimar como humanista - reforçando o caráter hipócrita da mesma.
- O homossexualismo não é condenável, nem digno de aplausos, o homossexualismo é uma condição humana, ligada a sexualidade (de forma complexa, psicológica e até genética) de um homem ou de uma mulher. Ninguém é pior ou melhor que ninguém por ser homossexual.
- O sexo anal, assim como todas as formas de prazer, são válidas enquanto mecanismo de obtenção de prazer corporal. Ter prazer não pode ser condenável, visto ser fruto de uma complexa relação entre o corpo e a mente, em uma dialética fisiológica que ultrapassa e contradiz qualquer moralização sobre a biologia humana.
- E por fim, o ato sexual com a mulher "de quatro" nada mais é do que mais um mecanismo de obtenção de prazer, natural e humano.

Em suma, a verdadeira animalidade não está no ato sexual entre um homem e uma mulher, mas sim na relação de submissão, voluntária, de um ser humano perante uma instituição, aceitando e reproduzindo dogmatismos. Dai sim, justifica-se a comparação, ou mesmo a metamorfose, de Felipe Aquino, e seus fiéis seguidores, em verdadeiras ANTAS.