sábado, 13 de dezembro de 2008

HISTORICISMO

Nos últimos vídeos venho apresentando, de certa maneira, detalhes da dita "Historiografia", assim como eminentes colegas historiadores como o egípcio Eric Hobsbawm e o francês Jacques Le Goff, e a partir disso recebi um comentário no youtube que me agradece por reconhecer a importância do Marxismo para a historiografia visto que a historiografia presente tem por hábito desqualificar qualquer manifestação marxista devido ao seu caráter ideológico.
O Marxismo não pode ser renegado, nem endeusado. Ele tem o seu devido lugar, a sua importância histórica como marco da historiografia do século XX principalmente. Ele, junto com a chamada Nova História criada por intelectuais franceses no período entre-guerras (décadas de 20, 30), foram importantes pontos de ruptura, radical, com a lógica predominante do século XIX (também já apresentada em vídeo-aula) do Historicismo-Positivismo.

A VELHA LÓGICA HISTORIOGRÁFICA - HISTORICISMO
Aqui a História possui um sentido teleológico (tendo uma função, uma razão), pois ela existe independente da ação humana, sendo uma entidade metafísica (no sentido hegeliano do termo). Cabia aos historiadores, a partir de rebuscado trabalho metodológico (leia-se recolhimento de dados), dar voz a própria História - que "falava" por ela mesma - chegando até a anunciar o futuro (buscava-se o passado como ensinamento da História e prognóstico do que a mesma já anunciava para o porvir)!
Do positivismo ela herdava a preocupação extremada com a objetividade, com uma espécie de necessário distanciamento entre historiador/sujeito e objeto/conhecimento histórico (representado por toda forma de documentação histórica, de fontes históricas). Objetividade marcada pelo desenvolvimento científico criado na modernidade, que estabelecera uma certa preponderância das ciências ditas exatas sobre as demais, como as humanidades - que passaram a ser entendidas como "ciência" a partir de características presentes em todas as ciências exatas (empiria, experimentação, busca por leis constituintes/universais).
Lendo (e apegando-se) a documentação produzida pelas sociedades ao longo da história percebe-se que muito do que fora produzido tem sua origem ligada ao Estado, aos governantes, ao mundo político, sendo a sociedade civil, os movimentos populares, as pessoas comuns, as mulheres, renegadas pelo que se conveniou chamar de "História Oficial". E pelo uso objetivo da documentação histórica pelos historiadores (buscando nestas dar voz a História enquanto espírito universal, enquanto entidade metafísica independente das ações humanas) acabaram estes mesmos profissionais privilegiando uma produção historiográfica marcada pela História Política, pela abordagem dos homens do poder: são guerreiros conquistadores, reis, imperadores, senadores, patrícios, políticos, líderes carismáticos, poderosos e ricos, que irão de certa maneira "fazer a História".
São obras em que os fatos se desenrolam, continuamente, tendo como personagens principais aqueles que faziam, de cima para baixo, a roda da História se movimentar. Daí para a criação de heróis nacionais foi um passo muito rápido, e daí para o estabelecimento de datas marcantes foi outro passo rápido. Ou seja, o Historicismo-Positivismo criou uma historiografia recheada de personagens, oriundos das camadas privilegiadas ou poderosas, de fatos ligados a estes mesmos personagens e seus atos (basta lembrar do conhecido exemplo tupiniquim do Grito as Margens do Rio Ipiranga, onde Dom Pedro I montado em imponente cavalo libertou o Brasil de Portugal - estabelecendo-se mitos), e de uma série interminável de datas relacionadas a estes mesmos personagens e fatos históricos - tudo pela via da documentação oficial, apenas apurada e reproduzida pelos historiadores (meros porta-vozes da História Universal).

Assim chegamos a seguinte equação produzida pelo Historicismo-Positivismo:

DOCUMENTAÇÃO OFICIAL (FONTE) - HISTORIADOR OBJETIVO/POSITIVISMO
+
HISTÓRIA - SENTIDO TELEOLÓGICO/HEGELIANISMO/VOZ PRÓPRIA E AUTONOMIA
+
VALORIZAÇÃO DOS HOMENS DO PODER (SUJEITO HISTÓRICO) - MUNDO POLÍTICO
+
FATOS - LIGADOS AOS HOMENS DO PODER
+
DATAS - LIGADAS AOS FATOS E HOMENS DO PODER

EXEMPLO: DOM PEDRO I LIBERTOU O BRASIL DE PORTUGAL EM 1822, APÓS O GRITO AS MARGENS DO RIO IPIRANGA (Dom Pedro I é mitologizado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário