quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O SONHO DE VEJA E HADDAD: PROFESSORES A R$ 1,99

Os educadores brasileiros encontram-se numa situação de penúria financeira e profissional. Tempos atrás fiquei sabendo por meio de antigos professores de graduação que o curso de História não conseguia fechar novas turmas no turno da manhã, situação vivenciada também em outras licenciaturas da instituição de ensino superior onde me graduei bacharel/licenciado em História no ano de 2006. Ou seja, a juventude brasileira está se distanciando dos cursos de licenciatura!

Pós-graduação em História? Também a mesma situação, falta de quorum para se fechar uma única turma de estudantes.

Estes são exemplos claros, vivenciados hoje, de que algo de muito ruim acontece com a formação de professores e pior, com a própria profissão de professor/educador.

Lembro-me quando no primeiro dia de aula na universidade o professor Flávio Berutti perguntava a todos se por ventura nós estávamos ali pensando em “ganhar dinheiro”, e logo já respondia em tom profético e desanimador para muitos “não se iludam, quem pensar em ganhar dinheiro que vá procurar por outro curso”. E assim se iniciava a nossa formação como professores, com o prognóstico de que teríamos uma vida dura, caótica, desestimulante, em termos financeiros.

Trabalho como educador a pouco mais de dois anos e tudo o que ganhei até hoje ainda não paga o investimento feito em quatro anos de formação em uma universidade privada.

A massa de professores é absorvida, por excelência, no ensino público e na educação básica. E quando iniciamos nossa vida profissional vimos que co-existem mais dramas do que simplesmente os baixos rendimentos e a falta de perspectiva em melhorar, em crescer: a falta de infra-estrutura e de condições dignas de trabalho, a cobrança desproporcional de secretarias públicas e diretores, a desqualificação e desmotivação aparentes de colegas de trabalho, as diversas formas de “violência escolar”, o material didático inadequado e imposto.

Porém, ao contrário do que pregam os ideólogos da revista Veja (tecnocrática em termos educacionais), aumentar salário é sim uma forma de valorização profissional e mecanismo de transformação válido. Como já dito pelo amigo filósofo Ghiraldelli aumentar os salários torna a profissão mais atrativa, chamando para si as melhores cabeças, os mais competitivos e profissionais. Pagar mal, como hoje se faz de maneira equânime, é perpetuar em nossas escolas a presença de pessoas que fizeram a licenciatura não por vocação e interesse real, mas porque era um curso pouco procurado, fácil de passar no vestibular, ou mesmo cursos onde o governo concede maior número de bolsas de estudos.

Pagar bem os professores não resolve, por si só, os problemas da educação brasileira – porém, como dito acima, é um começo, uma forma de incentivar que profissionais mais preparados comecem a cursar as nossas licenciaturas.

Pessoas como eu, me perdoem à falta de modéstia, interessadas e que gostam do que faz mesmo trabalhando em condições tão desfavoráveis (financeiramente e de condições de trabalho) são exceções à regra onde as nossas instituições de ensino superior (públicas ou privadas) jogam, ano a ano, no mercado de trabalho um batalhão de professores despreparados/desqualificados.

Hoje o maior problema educacional de nosso país é justamente a visão distorcida que muitos secretários de educação ou mesmo do ministro Haddad (Ministro da Falta de Educação) possuem do que deve ser uma educação de qualidade. Para eles, tecnocráticos, os estudantes devem estar dentro da escola sem levar em conta o intra-muros das escolas (o que importa são os números e mais números de estudantes que hoje estão na escola, os números de evasão escolar, etc), que os estudantes devem ser sobrecarregados com uma infinidade de provas e avaliações institucionais (muitas vezes distante da realidade do ensino-aprendizagem dos alunos) que só repetem ano a ano o mesmo de sempre (falta de qualidade no ensino e fraca aprendizagem) e que só aumentam a carga de dados e números (esse pessoal possui uma estranha atração por números, de forma quase pitagórica), que o ensino de Humanidades é desnecessário perante a Língua Portuguesa e a Matemática (sempre privilegiadas em número de aulas semanais e no entanto os estudantes continuam não sabendo escrever, ler, compreender textos, realizar equações, problemas matemáticos, compreender geometrias ou a mais simples aritmética), sem falar no dito “revolucionário” Piso Salarial Nacional de R$ 950,00 (puxa, com este valor eu vou transformar a minha vida, imagine transformar a vida da juventude, imagine então se alguém vai se sentir motivado em ter este rendimento mensal após quatro anos de estudos e que se estendem por toda a vida).

Sobre o “maravilhoso” Piso Salarial de R$ 950,00 basta lembrar que se nossos políticos cumprissem com a carta Constitucional de 1988 o atual salário mínimo não seria inferior a R$ 2.000,00 (contra os vexatórios e míseros R$ 415,00). Ou seja, o que o governo federal quer e compreende como Piso Salarial, como um pagamento mínimo a ser dado a um educador, não chega sequer à metade do que deveria ser o salário mínimo constitucional (elaborado segundo a lógica de que o mínimo deve garantir a sobrevivência, digna, do cidadão brasileiro).

Imagine um professor solteiro, como eu. Ganhando o que o Estado chama de Piso Salarial, R$ 950,00. Pensemos que com estes recursos eu tenho que me deslocar para o trabalho (a pé, de ônibus, de bicicleta, porque financiar um automóvel é a mais pura das utopias quanto mais bancar gasolina e manutenção de veículo), ter acesso à saúde (ou alguém morre de amores pelo incompetente SUS?), moradia (pagar aluguéis, porque financiar um imóvel novo com isso seria piada de muito mau gosto), comer (sendo proibida a ida a restaurantes ou algo do gênero), pagar contas (eletricidade, gás, telefonia fixa – nada de acesso a internet, televisão a cabo, telefonia móvel) e pasmem, ainda ousar, isso mesmo “ousar”, manter-se um profissional atualizado com cursos de pós-graduação, aquisição de livros, assinatura de jornais e revistas (simplesmente impossíveis). Isso tudo se viver sozinho, completamente sozinho. E se caso arrumar esposa e filhos, ah....ai o caminho é da fome mesmo!

Em síntese, como afirma a revista “não-Veja”, nossos professores realmente não precisam de um salário melhor, com toda a certeza. E o preço que pagaremos por tudo isso será histórico, pois um dia toda esta massa de jovens que hoje sofrem com esta indecência educacional em breve se rebelarão, cada vez mais, na forma da vida fácil do crime, da bandidagem que seduz, muito mais que um curso de professor.

sábado, 13 de dezembro de 2008

HISTORICISMO

Nos últimos vídeos venho apresentando, de certa maneira, detalhes da dita "Historiografia", assim como eminentes colegas historiadores como o egípcio Eric Hobsbawm e o francês Jacques Le Goff, e a partir disso recebi um comentário no youtube que me agradece por reconhecer a importância do Marxismo para a historiografia visto que a historiografia presente tem por hábito desqualificar qualquer manifestação marxista devido ao seu caráter ideológico.
O Marxismo não pode ser renegado, nem endeusado. Ele tem o seu devido lugar, a sua importância histórica como marco da historiografia do século XX principalmente. Ele, junto com a chamada Nova História criada por intelectuais franceses no período entre-guerras (décadas de 20, 30), foram importantes pontos de ruptura, radical, com a lógica predominante do século XIX (também já apresentada em vídeo-aula) do Historicismo-Positivismo.

A VELHA LÓGICA HISTORIOGRÁFICA - HISTORICISMO
Aqui a História possui um sentido teleológico (tendo uma função, uma razão), pois ela existe independente da ação humana, sendo uma entidade metafísica (no sentido hegeliano do termo). Cabia aos historiadores, a partir de rebuscado trabalho metodológico (leia-se recolhimento de dados), dar voz a própria História - que "falava" por ela mesma - chegando até a anunciar o futuro (buscava-se o passado como ensinamento da História e prognóstico do que a mesma já anunciava para o porvir)!
Do positivismo ela herdava a preocupação extremada com a objetividade, com uma espécie de necessário distanciamento entre historiador/sujeito e objeto/conhecimento histórico (representado por toda forma de documentação histórica, de fontes históricas). Objetividade marcada pelo desenvolvimento científico criado na modernidade, que estabelecera uma certa preponderância das ciências ditas exatas sobre as demais, como as humanidades - que passaram a ser entendidas como "ciência" a partir de características presentes em todas as ciências exatas (empiria, experimentação, busca por leis constituintes/universais).
Lendo (e apegando-se) a documentação produzida pelas sociedades ao longo da história percebe-se que muito do que fora produzido tem sua origem ligada ao Estado, aos governantes, ao mundo político, sendo a sociedade civil, os movimentos populares, as pessoas comuns, as mulheres, renegadas pelo que se conveniou chamar de "História Oficial". E pelo uso objetivo da documentação histórica pelos historiadores (buscando nestas dar voz a História enquanto espírito universal, enquanto entidade metafísica independente das ações humanas) acabaram estes mesmos profissionais privilegiando uma produção historiográfica marcada pela História Política, pela abordagem dos homens do poder: são guerreiros conquistadores, reis, imperadores, senadores, patrícios, políticos, líderes carismáticos, poderosos e ricos, que irão de certa maneira "fazer a História".
São obras em que os fatos se desenrolam, continuamente, tendo como personagens principais aqueles que faziam, de cima para baixo, a roda da História se movimentar. Daí para a criação de heróis nacionais foi um passo muito rápido, e daí para o estabelecimento de datas marcantes foi outro passo rápido. Ou seja, o Historicismo-Positivismo criou uma historiografia recheada de personagens, oriundos das camadas privilegiadas ou poderosas, de fatos ligados a estes mesmos personagens e seus atos (basta lembrar do conhecido exemplo tupiniquim do Grito as Margens do Rio Ipiranga, onde Dom Pedro I montado em imponente cavalo libertou o Brasil de Portugal - estabelecendo-se mitos), e de uma série interminável de datas relacionadas a estes mesmos personagens e fatos históricos - tudo pela via da documentação oficial, apenas apurada e reproduzida pelos historiadores (meros porta-vozes da História Universal).

Assim chegamos a seguinte equação produzida pelo Historicismo-Positivismo:

DOCUMENTAÇÃO OFICIAL (FONTE) - HISTORIADOR OBJETIVO/POSITIVISMO
+
HISTÓRIA - SENTIDO TELEOLÓGICO/HEGELIANISMO/VOZ PRÓPRIA E AUTONOMIA
+
VALORIZAÇÃO DOS HOMENS DO PODER (SUJEITO HISTÓRICO) - MUNDO POLÍTICO
+
FATOS - LIGADOS AOS HOMENS DO PODER
+
DATAS - LIGADAS AOS FATOS E HOMENS DO PODER

EXEMPLO: DOM PEDRO I LIBERTOU O BRASIL DE PORTUGAL EM 1822, APÓS O GRITO AS MARGENS DO RIO IPIRANGA (Dom Pedro I é mitologizado)

COMUNIDADE NO ORKUT - ENTRE E PARTICIPE!

Finalmente um novo espaço para debatermos as minhas idéias, os meus vídeos do youtube, portanto anote ai caro amigo/aluno virtual:
COMUNIDADE DO ORKUT (procure por): HISTORIADOR TIAGO MENTA
ou acesse o link abaixo
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=51565632

Abraços a todos, professor Tiago Menta

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CAMPANHA: INVESTINDO NUMA HISTÓRIA SEM FRONTEIRAS

Amigos e amigas, desde o início deste ano venho postando vídeo-aulas de História no Youtube, a partir de um trabalho voluntarioso, solitário, em meu modesto escritório (que se encontra em um dos cômodos de minha casa).
Os vídeos são produzidos por uma webcam D-Link que já venho fazendo uso a mais de 2 anos, e já posso reparar que a qualidade visual, técnica, de meus vídeos muitas vezes deixa a desejar (um pouco escuro, um foco ruim, dando a impressão de uma imagem mais suja).
Diferente do amigo Ghiraldelli, professor e escritor consagrado, que tem por detrás a estrutura de um Centro de Estudos (o CEFA), sou meio "Don Quixote", fazendo os vídeos com limitações técnicas e levando tudo na raça, com o duro trabalho de ser um educador de escola pública em nosso país (e com todos os problemas salariais que isso acarreta).
Sozinho hoje não tenho meios de comprar uma nova e moderna webcam, e assim quero aqui lançar a CAMPANHA DE DOAÇÕES, onde você que curte os meus vídeos, que defende a minha idéia de uma educação à distância de qualidade, doe um único realzinho (R$ 1,00) para a Conta Corrente BRADESCO - AGÊNCIA 2416-3, CONTA CORRENTE 0014752-4 em nome de Tiago de Castro Menta, e assim dentro de pouco tempo irei adquirir uma nova e mais moderna webcam, dando um salto de qualidade técnica em meus vídeos pelo youtube que sempre serão gratuitos, abertos para todos que possuem tão apenas a vontade de aprender e debater a História.
Há vídeos meus que já foram visualizados por mais de 2 mil pessoas, e se numa hipótese otimista 1/4 destes alunos virtuais doarem R$ 1,00 para esta campanha que antes de tudo não é para o meu benefício mas para o benefício da aprendizagem de História, das Ciências Humanas, sem fronteiras, teremos com certa facilidade um montante suficiente para comprar novos equipamentos, investindo numa idéia que já deu certo: debater e aprender Filosofia com o Paulo Ghiraldelli, com a estrutura do CEFA, e debater e aprender História comigo Tiago Menta que hoje caminho solitário com minhas aulas-virtuais de História.
Assim, amigos e amigas, vamos melhorar a qualidade técnica de nossas vídeo-aulas de História, doando um único realzinho (R$ 1,00) para o amigo educador que será eternamente grato.

CAMPANHA - INVESTINDO NUMA HISTÓRIA SEM FRONTEIRAS
VALOR: R$ 1,00 REAL
BANCO BRADESCO
TIAGO DE CASTRO MENTA
AGÊNCIA 2416-3

CONTA CORRENTE 0014752-4

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

EDUCAÇÃO E CULTURA ATRAVÉS DA INTERNET - enviado.

Segue abaixo um pequeno artigo da prof. Márcia Cristina, graduada em Letras, enviado neste presente dia e que muito me felicita, dando-me uma sensação, muito boa, de "dever cumprido".
O título tem tudo a ver com a minha proposta de trabalho - educação e internet, em resumo de como podemos tornar a internet uma ferramenta verdadeiramente revolucionária quando se propõe a, junto ao entretenimento, educar e educar as massas, democratizando o conhecimento e promovendo um exercício dialético nunca antes imaginado.
Marcinha, como de hábito se apresenta, é uma destas pessoas com espírito aberto, ávida por conhecimento, por diálogo. E é com muito orgulho que recebo o seu artigo e não poderia ser diferente, reproduzo-o em meu blog.
Muito Obrigado prof. Márcia Cristina e conte sempre com o meu apoio, pessoal e intelectual.
Prof. Tiago Menta

EDUCAÇÃO E CULTURA ATRAVÉS DA INTERNET
Ao professor Tiago Menta

Até os anos de 1970 informação era sinônimo de biblioteca, onde os mais abastados podiam ter seus acervos ao acesso de suas mãos, contudo, as bibliotecas públicas regionais – nem sempre com um volume adequado de obras – localizavam-se em sua maioria num ponto de difícil acesso, relembrando o índice de analfabetismo que chegava a 32,9% da população brasileira. Não muito depois, na década de 90, com a globalização, houve a expansão dos meios de comunicação, a formação da era digital. No ano de 2000 o índice de analfabetismo caiu para 13,6% ao passo que o acesso a internet atingiu 35% da população brasileira, o que significa 64 milhões de habitantes que se conectaram a internet neste ano, e esse número só vem aumentando.
Surgiram bibliotecas, lojas virtuais e Universidades a distância via internet. Todavia em 2005 foi criado o Youtube, sendo considerado o invento do ano pela revista Time. O Youtube é um site na internet que permite que seus usuários carreguem e assistam vídeos, se tornando um importante aliado dos internautas, principalmente para a colaboração do bem comum. O professor Tiago de Castro Menta, historiador e filósofo, faz uso do Youtube para carregar suas vídeo-aulas na internet, sua didática muito contribui para os espectadores, que são desde alunos do ensino fundamental até universitários.
"A base da educação humanística é o amor. Uma pessoa que foi educada com amor abraçará a disposição de contribuir pelo bem dos cidadãos e da sociedade, deixando de lado a disputa que derruba e menospreza as outras pessoas." (365 Dias, p.147)
[1]
A verdade é que a educação tem sido subestimada pelo Estado, a quantidade tem sido valorizada acima da qualidade. Contudo a real preocupação dos docentes tem sido a formação dos jovens estudantes. A informação por si só tem sido insuficiente, é preciso algo mais, algo que lhes incite o desejo de aprender, algo que lhes toque a alma, a essência do ser, o porquê do conhecimento. Segundo Daisaku Ikeda, filósofo, humanista e pacifista, 'é preciso sabedoria para se administrar o conhecimento, sem a qual pode destruir ao invés de construir'. Essa sabedoria não é possível sem um mestre para intermediar a importância do conhecimento, e para proporcionar a informação como preparo para experiência. Além de estabelecer um ambiente criativo é igualmente importante cultivar o humanismo através de ações voluntárias.
“Uma capacidade fortalecida para educar, o entrelaçamento da educação em cada fio de nosso tecido social, a permeação de um senso de comprometimento e a responsabilidade de educar – são esses progressos concretos, e não simplesmente a política ou a economia que determinarão o futuro.” ( Proposta Educacional P. 74)
[2]
E é com garra e confiança em seu trabalho que o professor Tiago Menta se propõe a gravar suas maravilhosas aulas para oferecer o conhecimento gratuitamente para uma infinidade de pessoas que queiram acessá-las. Com diversos temas e recheadas de conteúdo suas aulas no Youtube são verdadeiros diálogos em que o espectador se sente numa conversa casual e ao mesmo tempo aprende com a dignidade de ser instruído por um mestre.
Portanto, é disso que a nação necessita, de exemplos como este, de um professor que se dedica a um ideal de educação, onde o conhecimento esteja ao acesso de todos.

Bibliografia

IKEDA, Daisaku. Proposta Educacional: algumas considerações sobre a educação do século XXI. São Paulo: Brasil Seikyo, 2006

IKEDA, Daisaku. 365 Dias: Frases para Mulheres. São Paulo: Brasil Seikyo, 2008

SILVA, José Fernando Modesto da Silva. Internet – Biblioteca – Comunidade Acadêmica: Conhecimentos, Usos e Impactos. Tese. São Paulo, 2001

Indice de Analfabetismo:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tendencias_demograficas/tabela04.pdf

Acesso a Internet:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/acessoainternet/tabelas/tab1_19_3.pdf

Contagem da População:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/tabela1_1.pdf

O Invento do ano:
http://www.discoverybrasil.com/internet/interactivo.shtml
[1] IKEDA, Daisaku. 365 Dias: Frases para Mulheres. São Paulo: Brasil Seikyo, 2008
[2] IKEDA, Daisaku. Proposta Educacional: algumas considerações sobre a educação do século XXI. São Paulo: Brasil Seikyo, 2006.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A INTERNET E A ACADEMIA - ANTÍTESES?

O TRABALHO QUE REPERCUTE
"Bom dia Thiago sou professor de geografia, e escrevo esse e-mail para te parabenizar pelo trabalho e dizer que te admiro, e me espelho em você para minha carreira.
Cara, incrível como por meio de aulas no youtube pode esclarecer várias dúvidas e inseguranças que eu tinha, pois com certeza a geografia e a história/filosofia são áreas que se relacionam de uma certa forma uma com a outra... E ter um apoio de um colega de profissão, apenas por generosidade é muito bom.
Um forte abraço
E parabéns!
Amaro Viana"


Este email me foi enviado a alguns dias pelo colega geógrafo Amaro Viana e mostra a boa repercussão que meus vídeos de História vem alcançando nos últimos meses.
Isso só é possível não só porque do lado de cá está um profissional que ama o que faz, que gosta antes de tudo de "ser", no sentido ontológico mesmo, professor...
De nada adianta acumular conhecimento se este não é compartilhado com as pessoas, não para doutriná-las ou para apenas reproduzir o que se sabe, mas para manter o exercício dialético - que é a base da verdadeira educação e do educar-se. Assim, os vídeos, tanto os meus de cunho histórico como do amigo filósofo Paulo Ghiraldelli possuem a sua razão de ser em vocês, ai do outro lado do cpu, que buscam um algo mais da internet!
Tornamos, vídeo após vídeo, postagem após postagem, a internet brasileira um locus do livre pensar, da livre produção intelectual, longe do academicismo que algema as idéias, distancia as pessoas, e que ideologiza.
Não é sem razão que o Paulo diz que só consegue filosofar, no termo real do verbo (como ação), pois está distante da Universidade. Trabalhos como o dele, como o meu (com todas as suas limitações técnicas) não possuem espaço no ambiente oficial, acadêmico. A academia não prima pelo rigor, pelo contrário, ela prima pela reprodutibilidade, pela citação do momento, pela ideologia do momento, pelos textos do momento - isso em História é irritante, ainda mais, pois o historiador é preso a uma série de fontes, primárias ou secundárias, e é obrigado, dentro da academia, a ser uma espécie de "neopositivista".
Quer discutir algo, quer pensar, antes de tudo deve apontar: quais as suas fontes históricas? Qual a sua linha teórica? Que autores pensam como você? Ou seja, amarras, amarras, e muitas amarras.
A internet não comporta isso, ela é democrática por excelência. Tem pessoas, academicistas, acostumadas com os chicotes universitários, habituadas em manter distância do mundo real e das pessoas reais, que querem transformar qualquer debate virtual em debates acadêmicos...imaginem, uma vez um maluco desses me cobrava citações, fontes e tal, em um texto do blog! Oras, vão pentear macacos!
Eu e o Paulo, usando termo político da última campanha a prefeito de BH (do candidato do PMDB) "gostamos de gente", e é com "gente" que queremos ao mesmo tempo compartilhar nossas idéias, impressões, sem perder a abertura e a humildade em ouvir, aprender, a todo o momento. E assim, caros amigos vamos ambos dando, com muita satisfação, dando a cara para bater!
Obrigado a todos que acompanham o meu trabalho.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O RENASCIMENTO É HUMANISTA, NÃO ATEU

Renascer significa “nascer de novo”, “voltar à vida”. Ao longo dos séculos XIV, XV e XVI a dita cultura clássica, de gregos e romanos da Antiguidade, simplesmente renasceu, ressurgiu, primeiro sob as mãos dos artistas florentinos, depois romanos e por fim entre os europeus do norte.

Isto pode ser entendido como um amplo e impactante movimento que envolveu artistas plásticos, escultores, pintores, engenheiros, cientistas, escritores, filósofos e todo tipo de pessoa que a época demonstrava alguma independência intelectual, já que por mais de mil anos a Igreja romana impôs o seu pensamento e a sua ordem “na cabeça” dos povos da Europa.

A base, a fonte que inspirou o Renascimento, é o que conhecemos como “Humanismo”, que também pode ser entendido como “Pensamento Antropocêntrico” ou “Antropocentrismo” – que se apega a uma valorização do homem como ser, como sujeito que cria, que é dotado de imaginação, força, e de pensamento/racionalidade (uso da razão como meio de compreensão das coisas, ou racionalismo). Durante os quase mil anos medievais o que se viu fora exatamente o contrário de toda esta lógica, imperando a crença, a superstição, a ação divina ou os textos sagrados como únicos meios de interpretação do mundo e de todos os fenômenos naturais ou humanos (como a própria mortandade causada pela peste negra entre os séculos XIII-XIV, entendida por muitos como castigo divino, como uma praga bíblica). Esta idéia, puramente medieval, conhecemos como “Teocentrismo”, que já insinua Deus como “centro” de todas as coisas que ocorrem no Universo.

O Humanismo é uma forma evidente de se verificar o “retorno” ao mundo clássico, especialmente quando relembramos a Filosofia Grega e a Arquitetura Romana. Foram os gregos os primeiros a se distanciar dos deuses para a compreensão do mundo, dando força ao exercício da empiria (observação das coisas) e do uso da razão (do pensamento, da análise, que dá início ao que depois conheceremos como as mais diversas ciências). Basta relembrarmos Sócrates/Platão que já diziam estar “vivendo em sombras” aqueles que não faziam uso da “luz” da razão, e Aristóteles, o dito filósofo concreto, que impulsionou os mais diversos estudos desde linguagem (poética), biologia, física, política.

Uma obra que retrata bem este resgate dos valores clássicos é “A Escola de Atenas” (1510-1511) do italiano Rafael (1483-1520), um dos ícones do Renascimento italiano. Nesta obra o artista retrata todos os filósofos gregos da Antiguidade, em destaque ao centro para Platão (que aponta seu dedo para cima, meio que indicando sua preferência por uma filosofia metafísica) e ao seu lado Aristóteles (que aponta o seu contrário, com o dedo para baixo, no sentido de uma filosofia mais concreta, distanciada das coisas espirituais/metafísicas).

Outro indício da recuperação da cultura clássica são as várias obras renascentistas onde o tema retratado, esculpido, pintado, nos remete as mitologias grega e romana, como na obra do também italiano Botticelli (1445-1510) “O Nascimento da Vênus” (1485) que nos mostra a deusa do amor romana, Vênus (que também dá nome a planeta de nosso sistema solar) saindo de uma concha, como que florescendo para a vida.

Outro ponto importante: a “vida”. Nas obras renascentistas, em seus afrescos (pinturas feitas diretamente na parede úmida), esculturas, os elementos e personagens retratados estão sempre apresentando “movimento”, “vida”, devido ao desenvolvimento de apuradas técnicas como a perspectiva (a criação de um fundo, de uma profundidade nos quadros dando-nos mais dimensões de visibilidade) e o uso das sombras/luzes (claro e escuro), como no famoso “sorriso” da “Monalisa” (1503-1504) do genial Leonardo da Vinci (1452-1519).

É fundamental apontar que o Renascimento não é um movimento que “nega o Deus cristão”, que se apresenta como verdadeiramente ateu (ao contrário do Iluminismo do século XVIII), nada disso. O Renascimento quer, de certa forma, colocar a religião no seu devido lugar, ou seja, como crença, como devoção, não como poder, como único meio de compreensão do mundo – para compreender este mundo, dos homens e da natureza, o ser humano é capaz, já que tem imaginação, inteligência. O que prova isto é a maciça presença de obras renascentistas em igrejas romanas, italianas, como a Capela Sistina (1509-1512) pintada por Michelangelo (1475-1564) retratando passagens bíblicas ao longo de toda estrutura física da Igreja ou mesmo do mecenato (famílias, homens, que encomendavam e financiavam as obras de vários artistas renascentistas) que muitas vezes tinha no Papa como maior dos mecenas.

Em uma de suas marcantes passagens, Michelangelo retrata a “Criação de Adão”, afresco que mostra o ser humano, representando como Adão, esticando suas mãos de encontro ao Criador, Deus representado em forma humana (com longos cabelos e barba branca) em ato de igualdade. Nem o Homem é menor que Deus, nem maior, e assim por diante. Deus e Homem são tornados iguais, em força e poder. Ambos possuem aspecto humano, e mesmo habitando planos diferentes, estão de mãos dadas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

HENRIQUE VIII - O Ceifador de Rainhas e o Criador de uma nova Igreja

Foi lançado em dvd o filme "A Outra" (The Other Boleyn Girl) que tem como fundo "histórico" as intrigas que envolveram a vida do rei inglês Henrique Tudor (Henrique VIII) e duas concubinas: Ana e Maria (Ana que depois tornou-se rainha da Inglaterra por pouco tempo).

HENRIQUE TUDOR E CATARINA DE ARAGÃO
Henrique VIII sempre teve uma vida pessoal atribulada, marcada por intrigas políticas, amorosas. Sua primeira esposa, a rainha Catarina de Aragão (espanhola) foi durante algum tempo esposa do irmão mais velho de Henrique, Artur, que morreu inesperadamente. Para não criar dissidências políticas com os espanhóis arranjou-se que Catarina casasse com Henrique, o novo sucessor real e alguns anos mais novo que Catarina.
Havia na Inglaterra uma lei de sucessão que permitia a uma mulher governar o reino, porém o povo inglês via nisso, mergulhado em histórico machismo, um sinal de ruína e decadência da nação. E assim começava a necessidade de Henrique VIII ter, e logo, um filho para sucedê-lo.
Catarina engravidou 7 vezes, e só um de seus filhos, uma mulher (Mary), sobreviveu. Estava colocado um grande problema para Henrique, com Catarina não havia mais possibilidades de se ter um filho como sucessor de seu trono! E agora?

HENRIQUE TUDOR E AS IRMÃS BOLENA
Henrique não tinha outro caminho senão começar a procurar outras mulheres, pois o povo ansiava por um sucessor homem, um "varão". Com Catarina isso já não era mais possível, e assim apareceram na vida do monarca as irmãs Bolena: Maria e Ana.
Com Maria Henrique chegou a ter um filho homem, mas logo acabara deixando-se levar pelo magnetismo de Ana, que acabou assumindo a condição de "amante real". Mas como casar-se com Ana? Como se livrar da rainha Catarina?

HENRIQUE TUDOR E A QUESTÃO REAL



O impasse político criado pela necessidade do monarca de se separar da rainha Catarina e de casar-se com Ana Bolena é conhecida como a "questão real". Henrique encaminhou a difícil missão de intervir junto a Igreja romana seus mais próximos ministros e sacerdotes, porém as respostas vindas de Roma, do Papa Clemente VII, não lhe eram favoráveis.
Henrique VIII então decidira o impasse internamente, entre seus fiéis ministros e juízes, anulando assim o casamento com Catarina sem a permissão papal. E no mesmo ano, em 1533, casou-se com Ana Bolena, tornada a nova rainha da Inglaterra.


HENRIQUE TUDOR E A IGREJA ANGLICANA (CHURCH OF ENGLAND)
A resposta papal veio com a excomunhão (expulsão da comunidade religiosa), declarada por Clemente VII por entender que a anulação do casamento com Catarina de Aragão e o casamento do rei com Ana Bolena eram afrontas a Deus e a religião cristã romana.
Poucos sabem, mas Henrique VIII era um fervoroso cristão, e até combateu com intensidade a revolução religiosa ocorrida em terras alemãs quando do surgimento do Protestantismo com Martinho Lutero. No entanto, com a excomunhão feita por Clemente VII, Henrique retira a Inglaterra do seio da Roma Cristã, criando uma nova Igreja Cristã - o Anglicanismo ou Igreja Anglicana (Church of England/Igreja da Inglaterra), onde seria o rei inglês o novo líder religioso e não mais o Papa católico.
A briga entre anglicanismo e católicos se acirrou com o passar dos anos, chegando ao ponto do rei autorizar em 1538 a destruição de santuários de santos católicos e o fechamento de monastérios (que tiveram seus bens usurpados pelo Estado inglês); para piorar o grande filósofo Thomas More (que escreveu A Utopia), antes fiel aliado a Henrique, se negou a aceitar a nova Igreja e acabara sendo executado por traição em 1534.

HENRIQUE TUDOR EM BUSCA DE UMA NOVA ESPOSA
O casamento com Ana Bolena não ia nada bem, ela lhe deu uma filha, Elizabeth, e nada de um filho homem como ela tanto havia prometido dar ao monarca.
A obsessão por um filho homem, compreendida como questão de Estado, foi levando Ana ao desespero, cada vez mais agravado pela irritação e desconfiança do rei Henrique.
E assim, como fizera com Catarina de Aragão, Henrique já estava em busca de uma nova mulher/rainha, uma que finalmente lhe daria um filho homem legítimo (pois Maria Bolena não se tornou rainha, talvez o erro maior de Henrique VIII) - surge Joana Seymour!
Mas e agora, como se livrar novamente de uma rainha indesejável? Anular o casamento como antes, não seria preciso - bastava usar o descontentamento do povo com Ana e livrar-se dela.
Ana nunca tivera aceitação como rainha, ficando sempre a imagem da mulher que enfeitiçou o rei a ponto dele se separar da rainha Catarina e da própria igreja romana.
E assim era só plantar denúncias, mesmo falsas, sobre Ana e executá-la, abrindo espaço para a nova rainha Joana Seymour.
E as acusações vieram, até de membros de sua família: Ana era então acusada de bruxaria, adultério, incesto, conspiração e traição - o destino era certo, a decapitação! E isso ocorrera em 1536, sendo também executados o irmão e o pai de Ana, ambos por conspiração e traição.

HENRIQUE TUDOR CONSEGUE O QUE QUERIA: NASCE EDUARD
No mesmo ano da execução da rainha Ana, Henrique VIII casa-se com Joana Seymour e torna-a nova rainha da Inglaterra.
Desta relação nasceu o futuro rei Eduard I (1537), agora sim um filho legítimo. Porém a felicidade de Henrique não fora completa já que após o parto Joana acabou morrendo, deixando o monarca na viúvez.
Em 1540 Henrique se casa novamente, com Ana de Cleves. No mesmo ano anula este casamento, com o argumento de não tê-lo sacramentado com uma relação sexual (na verdade Henrique não gostava de Ana, e esta não lhe despertava o menor desejo, sendo o casamento uma questão política).

HENRIQUE TUDOR CORTA MAIS UMA CABEÇA REAL
Henrique logo arruma nova esposa: Catarina Howard, prima de Ana Bolena. E como Ana, Catarinha tivera o mesmo e triste fim - a execução! Howard após alguns anos de convívio com Henrique acabara se envolvendo em escândalos, sendo assim acusada e executada por adultério.
Como no caso de Ana Bolena, os historiadores entendem que a execução de Catarina Howard fora uma artimanha jurídica, criada para satisfazer as vontades de um monarca marcado pela tirania.

HENRIQUE TUDOR E SUA ÚLTIMA MULHER
Em 1543 Henrique se casa, pela última vez, com Catarina Parr, que conseguiu reconciliar Henrique com suas filhas Mary e Elizabeth, filhas de Catarina de Aragão e Ana Bolena - agora recolocadas na linha sucessória após Eduard, filho de Joana Seymour e que será o sucessor de Henrique VIII em 1547 como Eduard I.

domingo, 5 de outubro de 2008

A Cegueira Branca de Saramago; a Democracia Ateniense


QUAL É A VERDADEIRA VISÃO?
Assisti na noite de ontem o filme do diretor brasileiro Fernando Meirelles, baseado na obra do escritor português José Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira", e posso garantir ao caro leitor que se trata de um bom filme, daqueles que além de entreter nos fazem pensar, refletir, ir além e não parecer passivo diante de um filme.
O filme mostra uma situação inusitada, quase absurda: de uma epidemia capaz de tornar as pessoas cegas, perdidas não numa escuridão (no caso a cegueira normal, natural) mas numa brancura, numa luminosidade tão intensa, que logo não podemos nada ver com nossos olhos.
A epidemia chega a tal ponto que as pessoas infectadas vão sendo colocadas, em número cada vez maior, numa espécie de instituição de isolamento (quarentena) que vai se transformando pouco a pouco num verdadeiro campo de concentração, num gueto tomado pelo caos e pela miséria humana.
Em meio aos caos do sanatório as pessoas infectadas vão perdendo a sua humanidade e a própria dignidade, e, para piorar, as coisas fora daquele lugar também se tornam sem controle, visto que a epidemia chega a escalas tão imensas que já não há mais qualquer indício do que seria a nossa presente civilização.
Quando posteriormente todos recuperam a visão certamente já não eram mais os mesmos, e o mundo não seria mais o mesmo. Creio que todos chegaram a conclusão de que a condição humana é a mais sutil possível, visto que nossa civilização, nossa condição humana, caiu feito uma sequência de dominós empilhados quando simplesmente não mais poderíamos ver. Somos assim escravos de nossos sentidos.
Esta sim é a verdadeira visão, a visão de que nós seres humanos somos, sempre, limitados, e que além disso somos escravos de nós mesmos, de nossas sensibilidades.

A DEMOCRACIA ATENIENSE
Como neste mês de outubro vamos as urnas eletrônicas escolher os futuros prefeitos do Brasil, é conveniente apontar as origens do que conhecemos hoje como "democracia" ou processo democrático, especialmente quando relacionada ao mundo político e a administração das cidades.
Etmologicamente a palavra democracia é a junção de:
DEMOS (POVO) + CRATOS (GOVERNO)
Ou seja, estamos lidando com o "governo do povo" ou mesmo a "participação popular nos governos".
No século VI a.C. Atenas, grande pólo cultural grego localizado na região da Ática, dá os primeiros passos na direção do abandono de uma vida política aristocrática (como era presente por exemplo em Esparta) para a construção de um modelo político onde os seus cidadãos obtivessem maior participação nas decisões e rumos da cidade.
Assim, a democracia criada em Atenas apenas dava voz, direito de participação, aos ditos cidadãos de Atenas - apontados pelo seguinte critério: homens maiores de 18 anos, livres e atenienses. Ou seja, a democracia ateniense não indica ampla participação popular ou mesmo da totalidade do povo da cidade, visto que se excluem os mais jovens, as mulheres, os escravos e os estrangeiros.
Os políticos atenienses que encamparam esta transformação política, rumo a democracia, foram Clístenes, Sólon e Péricles, cada qual com sua parcela de contribuição em aperfeiçoamentos realizados durante a construção do modelo democrático de administração da cidade.
Inicialmente os cidadãos atenienses eram sorteados para atuarem em duas instituições democráticas, sendo estas a Ekklesia e a Boulé. A princípio os cidadãos nada recebiam pelos seus trabalhos na vida pública, porém Péricles foi quem depois instituiu pagamentos aos servidores da democracia como forma de agraciar a participação política dos cidadãos mais pobres.
A Ekklesia também é conhecida como "Assembléia Popular" e tinha como função a elaboração das leis de Atenas, sendo estas encaminhadas para a instituição seguinte, a Boulé ou também conhecida como "Conselho dos 500" (por reunir 500 cidadãos) onde as mesmas leis eram apreciadas e depois votadas (não com papéis, nem com urnas, mas com o simples levantar das mãos em sinal positivo ou negativo na aprovação ou não de uma lei criada pela Ekklesia). Se aprovada pela Boulé logo a lei estaria vigente na cidade de Atenas.
Este modelo de democracia, criada em Atenas na Antiguidade Clássica, pode também ser entendido como Democracia Direta e hoje, no mundo pós-moderno, sobrevive de certa forma em sindicatos de trabalhadores mas não mais em âmbitos citadinos.
Contudo a democracia ateniense deve ser encarada como ela é, de forma não-romântica: foi o primeiro passo, mesmo que pequeno, em direção ao que hoje conhecemos como participação popular na vida política e na administração pública. E se a democracia não funciona na opinião de alguns, certamente os outros caminhos políticos não são os mais adequados a se seguir, e assim, mesmo com todas as suas imperfeições e distorções não podemos deixar de lado o espírito democrático, assoprado pelos atenienses a mais de 2500 anos atrás...VOTE COM CONSCIÊNCIA

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

BOLSAS E PROFESSORES MINEIROS QUEBRADOS!

CRISE FINANCEIRA NORTE-AMERICANA DE 2008
A crise deflagrada nas últimas semanas vem sendo entendida como uma anunciação, quase apocalíptica, de que o tal “Neoliberalismo” derradeiramente encontrara o seu fim. Isso porque o governo de Bush Jr. tenciona, até o momento sem sucesso (hoje negado pelo Parlamento norte-americano), injetar U$ 700 bilhões para salvar o sistema financeiro-bancário dos Estados Unidos, a beira da recessão econômica.

Os anunciadores do fim dizem “ta vendo Tiago, olha o governo pondo a mão, salvando o capitalismo!”, e “o mercado não pode funcionar assim, como bem quer” (o próprio Sarkozi, presidente francês, diz quase a mesma coisa quando aponta que o mercado financeiro não pode continuar numa espécie de laissez-faire).

Uma coisa é certa: o sistema financeiro necessita limitações, mas Sarkozi exagera ao chamar o momento econômico mundial como de típico laissez-faire. O sistema financeiro necessita construir mecanismos de maior controle e fiscalização, de modo a evitar ao máximo as especulações que acabaram misturando dívidas podres com dívidas pagáveis num mesmo bolo, ou como aponta o jargão do mundo financeiro “bolha”, que se positiva quando inchada acaba por causar caos financeiro quando estoura. E é o que ocorreu: a bolha estourou!

Um fator limitador para o plano Bush Jr. é a cultura político-econômica – ou seja, de que estaria o governo norte-americano salvando bancos e banqueiros poderosos da bancarrota, e para isso fazendo uso do dinheiro do contribuinte norte-americano (historicamente muito exigente quanto ao pagamento de impostos/sistema tributário: uma cultura liberal).

A crise é grave, sem dúvida. O abalo é comparado e até entendido por alguns como semelhante ou superior ao que ocorrera em 1929 quando do “Crack” da Bolsa de New York, que jogara os Estados Unidos numa profunda depressão econômica e reforçando a idéia de que o Capitalismo dava sinais, naquela época, de que seus dias estavam contados.

Em curto prazo os norte-americanos entrarão, de cabeça e tudo, num processo de recessão econômica (não de depressão como em 1929), que produzirá uma queda no crédito em escala global. A esta queda no crédito haverá uma desaceleração econômica, pois é o crédito que fomenta grande parte dos investimentos produtivos. Com pouco investimento a economia não cresce, entra em estagnação, e logo vêm as tragédias sociais: queda no consumo, alta do desemprego que reproduz mais estagnação e aprofunda qualquer recessão econômica.

A salvação da lavoura, apontam especialistas, são os países em desenvolvimento, leia-se: o consumo interno chinês, que possui taxas anuais de crescimento batendo nos 10%. E assim os bancos norte-americanos fazem um apelo: consumam camaradas chineses!

RELATO DE UMA GREVE – POBRES PROFESSORES MINEIROS, LITERALMENTE
Entre 28 de agosto de 2008 até o dia 26 de setembro de 2008 os professores da rede estadual de Minas Gerais entraram em movimento de greve – na luta pela implantação do Piso Salarial Nacional de, míseros, R$ 950,00 por 24 horas semanais de trabalho.

Hoje voltamos as nossas salas de aula e qual fora o saldo, efetivo, deste movimento de quase 1 mês? Quase nenhum. E pior, os profissionais em educação agora sentem-se angustiados com a necessidade de reposição das aulas em pleno mês de outubro e com os pagamentos referentes aos dias não-trabalhados (por lei considerada falta justificada).

A situação da educação em Minas Gerais não é satisfatória, nem para alunos, nem para educadores, nem para trabalhadores que fazem serviços gerais, só para o governo Aécio e suas secretarias. Assim, por mais que questione a maneira como esta greve fora conduzida pelo Sindute-MG, não podemos negar que a greve foi mais do que justa.

Nossas escolas continuam recebendo nossos jovens ainda na base do já arcaico “CG”: Cuspe e Giz! Os salários estão muito defasados, muitos professores não possuem sequer um computador ou mesmo condições de comprar livros ou de fazer atividades culturais. Os alunos, quando detectadas necessidades de acompanhamento por parte do Estado, são negligenciados por aqueles que deveriam assisti-los (tente, como professor, conseguir um terapeuta, um assistente social, um fonoaudiólogo, e até um médico para o seu aluno que carece de condições mínimas de existência, a resposta será a mesma – infelizmente, caro professor, as coisas no Estado são demoradas, sabe como é a burocracia). Muitos colegas não conseguem um atendimento médico digno por parte do IPSEMG, que “atende” aos servidores da educação. O Estado de Minas Gerais ainda por cima “efetivou” uma série de profissionais sem concurso público, o que fere lei criada desde os tempos de Getúlio Vargas nos anos 30, e ainda por cima temos a situação absurda que vivem muitos profissionais designados (deixados à própria sorte/insegurança profissional e financeira, e encarados sempre com desigualdade).
E assim amigos leitores tenham as seguintes certezas:
1) a educação mineira não é de boa qualidade.
2) os educadores mineiros vivem situação de penúria profissional e econômica.
3) o governo estadual mineiro é mentiroso.
4) o governo estadual mineiro é uma grande máquina de propaganda.
5) o Sindute-MG fez o certo, deu o tiro, porém acertou o próprio pé.
6) nossos jovens não estão sendo devidamente assistidos pelo Estado de Minas Gerais.
7) nossas escolas possuem estrutura física inadequada.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ELEIÇÕES EM BELO HORIZONTE - A CIDADE DERROTADA.

UMA ELEIÇÃO PARA SER ESQUECIDA
Amigos e amigas, já está dada a largada para a disputa das milhares de prefeituras brasileiras, inclusive com o pérfido horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão (sorte poder assistir aos canais à cabo e fugir deste show interminável de horrores, especialmente quando da apresentação dos candidatos a vereador).
E a nossa Belo Horizonte? Eis aqui o meu pensamento sobre a disputa em nossa cidade e capital mineira.
Como o título acima aponta esta é uma eleição para ser devidamente esquecida. E o esquecimento é fruto de uma desmotivação, de um descrédito, não só da classe política nacional mas sobretudo pela legião de candidatos despreparados e "apagados" que a disputa belohorizontina apresenta.
Temos aqui os seguintes candidatos: Márcio Lacerda (PPS, PSDB, PT), Jô Morais (PC do B e ala dissidente do PT - opositores ao prefeito Fernando Pimentel), Leonardo Quintão (PMDB), Sérgio Miranda (PSB), Vanessa Portugal (?) e Gustavo Valadares (DEM).
Vamos então destrinchar esta legião de políticos apagados (pobre Belo Horizonte!):

MÁRCIO LACERDA
É o candidato da conturbada aliança regional entre PSDB e parte do PT - amparados pelo governador Aécio Neves e pelo atual prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Empresário, detém o maior patrimônio e poder econômico dentre os participantes ao pleito majoritário. Possui cerca de 12 minutos na propaganda eleitoral, que somados ao apoio governamental dá a este candidato a ponta da disputa e a perspectiva de vitória já no primeiro turno.
Problema: candidato que demonstra falta de autonomia, de pulso para governar. Não fala, não se mostra. Se esconde na opinião daqueles que o apoiam politicamente, ou seja, parece-me um ventríloquo, alguém que sentará na cadeira da prefeitura não para governar mas para representar interesses e ser governado.

JÔ MORAIS
Candidata típica de esquerda, foi vereadora em Belo Horizonte, deputada estadual e hoje é deputada federal. Alinhou-se com setores descontentes do PT mineiro, sob apoio do ministro e ex-prefeito Patrus Ananias. Possui um discurso de valorização da democracia participativa, usando a experiência petista de Orçamento Participativo - que promete ampliar.
Problema: falta simpatia, carisma. Ela me lembra velhas professoras marxistas, explorando muito o discurso de inclusão social, de lutas sociais, de representatividade das mulheres porém não mostra com clareza como irá de fato governar uma cidade. Está despreparada para isto, talvez seu lugar seja os movimentos sociais e não a administração pública.

LEONARDO QUINTÃO
Filho de tradicional família de políticos da cidade de Ipatinga (onde o pai é prefeito), foi deputado estadual e representa uma espécie de política evangélica-cristã.
Problema: o Estado é laico. Misturar política e moral, política e ética cristã (católica ou evangélica) não me parece ser um caminho adequado. Quintão pode nos dar aquela impressão de ser um político nos moldes de um Marcelo Crivela do Rio de Janeiro, o que é negativo. O administrador público tem que estar e se posicionar acima destas questões ético-morais no sentido de estar além do bem-mal. Fazer política no século XXI, em termos modernizadores, é não julgar, governar e administrar a cidade para todos e não somente para os seus.

SÉRGIO MIRANDA
Socialista, foi vereador em Belo Horizonte e é apoiado pelo ex-ministro da educação Cristovam Buarque - homem verdadeiramente compromissado com a educação.
Problema: discurso tímido. Sérgio é conciliador demais, parece "bonzinho" demais. É fruto de um pensamento mais à esquerda, como a candidata Jô Morais, porém se diferencia dela por ser um político mais centrado e menos preso a uma série de doutrinas e movimentos sociais. Falta força ao se apresentar como candidato, parece-me que quer a prefeitura mas não com tanta garra.

VANESSA PORTUGAL
Professora (o que muito me entristece) é entre todos os candidatos a mais despreparada do grupo. Se apresenta como a candidata dos mais radicais, dos insatisfeitos que se contentam com a própria insatisfação. Fala coisas do tipo "governar para os pobres e os ricos pagando a conta".
Problema: são tantos, que a sua candidatura não deve nem ser levada tão a sério. Discurso velho, radicalismo sem fundamentos, falta de visão do que é administrar uma cidade no século XXI e não na Rússia de 1917 (Vanessa parece-me uma bolchevique que entende ser Belo Horizonte um soviete e não uma cidade moderna).

GUSTAVO VALADARES
Deputado estadual, é de tradicional família de políticos em Belo Horizonte. Talvez a única opção de candidatura fora dos partidos de esquerda, dos ideais de esquerda que já governam Belo Horizonte a algumas décadas.
Problema: é difícil romper com a lógica de esquerda em Belo Horizonte. Sendo um candidato de forte poder econômico e de um partido outrora tipicamente direitista (o velho PFL) Gustavo tem problemas para convencer a população de Belo Horizonte de que é um político preocupado com o social. Falta a ele um grupo de apoio político maior e uma base sólida em movimentos sociais (um eterno problema do PFL e que se estende aos Democratas).

Espero ter contribuido com o eleitor/leitor de Belo Horizonte, no sentido de dividir convosco as minhas impressões, que não são boas, sobre o pleito para escolha do novo prefeito de Belo Horizonte.
Não é sem razão que a candidatura que mais representa o status quo está na liderança, mais pela falta de competência dos outros candidatos que parecem nada propor e nada se diferenciarem do que já está ai - por isso a virtual escolha de nossa população de uma política de continuidade.
Continuidade que por si só não é ruim. Porém Belo Horizonte necessita sim de novos ares políticos, depois de décadas de governos em torno do projeto PT (Patrus Ananias, Célio de Castro, Fernando Pimentel em dois mandatos). A rotatividade política, a descentralização de poderes, favorece o espírito dialético, o debate em torno do que é melhor para nossa cidade.
Seja quem for o prefeito eleito, desejo-lhe boa sorte. Mas, na minha análise atual, Belo Horizonte já perdeu com a eleição que se encaminha.

sábado, 16 de agosto de 2008

ZÉ DO CAIXÃO E ÜBERMENSCH, É POSSÍVEL?

Iniciamos esta postagem com o email enviado (em 12/08/2008) pelo amigo administrador de empresas Isael Moises, de Araxá-MG:

"Caro Prof. Tiago Menta,

Sou formando em Administração de Empresas em Araxá_MG, tenho grande interesse em Ciências Humanas, particularmente em Sociologia e quão grata foi minha surpresa ao encontrar um material tão bem montado em seus vídeos (Capitalismo, Feudalismo), em seguida acessei seu blog e fiquei ainda mais impressionado com a clareza, objetividade, isenção e didática com que trata temas tão massivamente manipulados como Socialismo, Marxismo, Desenvolvimento e afins. Gostaria, se possível, de solicitar-lhe um grande auxílio, o de indicar-me livros introdutórios às 3 Grandes Áreas das Ciências Sociais: a Sociologia, a Economia e a Antropologia. Já li algumas obras de Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr, Celso Furtado, Bóris Fausto, Emília Viotti, Edgard Carone, Roberto Campos, Sérgio Buarque de Holanda e alguns trechos de Hobsbawn, Friedman. No entanto, ainda não aventurei-me pelos clássicos mais densos (como Platão,Tocqueville, Weber, Marx, Hobbes, Keynes e outros), por falta de um conhecimento básico necessário para compreender e assimilá-los, onde creio que um roteiro de leitura acompanhado de uma lista de livros introdutórios e de comentários à tais obras, poderiam ajudar-me.

Lí seu artigo sobre o candidato Obama, e não contenho-me de perguntá-lo: até onde é possível a implementação de grandes reformas na sociedade norte-americana por um político, dentro de um sistema onde o Partido Democrata e o Conservador, a serviço da indústria do petróleo, do complexo industrial-bélico e das grandes corporações representam apenas variações de uma única Companhia? Qual seria a margem de manobra de tal presidente? (ou minha visão estaria um pouco distorcida pela leitura de Noam Chomsky, Gore Vidal e de alguns documentários de Michael Moore?) Em tempo, ao concluir o curso de Adm., pretendo fazer pós em Sociologia, vc indicaria alguma instituição/curso em específico? Agradeceria imensamente, se dispendesse parte de seu tempo em responder-me.

Atentamente, Isael Moisés"

Reproduzo aqui a minha resposta ao amigo Isael Moises:

"Antes de mais nada, fico agradecido pelas palavras Isael, isso só me motiva a continuar no mesmo caminho.
Primeiro, um conselho: não tenha medo de ler os clássicos, achando que somente possa fazer tal leitura se estiver com uma obra introdutória ao lado, pois isso pode direcionar a sua leitura e nem sempre é positivo fazer assim. Encare os clássicos de mente aberta, mesmo sabendo que na primeira leitura talvez não retire toda a riqueza que a obra mostra, mas isso vem com outras leituras e com o tempo, não se preocupe.
Citou Platão - leia a Apologia de Sócrates, e em seguida A República. Também Max Weber - leia A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Karl Marx e Engels leia O Manifesto do Partido Comunista, A Ideologia Alemã, Manuscritos Econômico Filosóficos. Thomas Hobbes, John M. Keynes e Alexis Tocqueville podem ser deixados como leituras posteriores, e entre de cabeça em Platão, Marx e Weber - são gigantes das ciências humanas.
Os livros introdutórios, vamos lá..
ECONOMIA - História do Pensamento Econômico, uma perspectiva crítica. Escrito por E.K. Hunt, livro da editora Campus.
SOCIOLOGIA - Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim, Weber. Escrito pela Tania Quintaneiro e mais duas autoras, livro da editora da UFMG.
As Regras do Método Sociológico. Clássico escrito por Émile Durkheim, pode pegar a edição de bolso da editora Martin Claret (também há uma edição da editora Martins Fontes).
Da Divisão do Trabalho Social. Clássico escrito por Émile Durkheim, da editora Martins Fontes.
A Gênese do Capitalismo Moderno. Outro clássico, escrito por Max Weber e comentado nesta edição por Jesse Souza, livro da editora Ática.
Ciência e Política: duas Vocações. Outro clássico, escrito por Max Weber, também livro de bolso da editora Martin Claret.
Max Weber: Sociologia - Coleção Grandes Cientistas Sociais, da editora Ática.
ANTROPOLOGIA - Antropologia Cultural e Social, escrito por Hoebel e E. Frost, da editora Cultrix.
Antropologia: uma Introdução. Escrito por Marina Marconi e Zelia Presotto, da editora Atlas.
Sobre Obama e a corrida presidencial na América diria que o amigo tem sua razão para compreender que uma real mudança é muito dífícil se esta for de encontro aos interesses corporativos, que como sabemos tem um peso fortíssimo na política norte-americana. Há pensadores, críticos mais vorazes como o amigo citou, que entendem que quem dá as cartas na Casa Branca não são os homens que ali se sentam e "comandam" a potência, mas sim as Companys, as Gigantes do Mundo Corporativo, ou Wall Street. Ou seja, quem comanda a maior potência da terra não é seu governo, até porque nos Estados Unidos o Estado tem um papel muito pequeno se comparado por exemplo com os nossos modelos hipertrofiados latino-americanos, mas a iniciativa privada, não só do Petróleo.
Um Presidente americano, nesta perspectiva, não vai bater de frente com IBM, McDonalds, Microsoft, Standard Oil, Texaco, e isso é verdade. Basta fazermos a seguinte reflexão: por que os americanos não assinaram o Protocolo de Kyoto, sendo eles os maiores poluidores do planeta e emissores de gases na atmosfera? Porque isso seria dar as costas as companhias norte-americanas, sendo uma espécie de negação a si mesmos.
E assim, por mais que Barack Obama se anuncie como uma força transformadora, como o agente "the Change", esta transformação dificilmente se dará na contramão da história política norte-americana que é justamente do peso que representa no país a iniciativa privada e suas gigantes corporações.
Dica de Instituição, em Minas Gerais, só poderia ser a nossa UFMG (em Sociologia - Ciências Sociais, e até em possíveis especializações em Antropologia posteriormente).
Espero tê-lo ajudado, e continue conosco nos vídeos, no blog, e sempre que quiser dê sugestões, questões, que ficarei muito grato aqui.
Abraços do amigo, Prof. Tiago Menta."





ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO - O FIM DA TRILOGIA DE MOJICA MARINS!

Estreiou a algumas semanas em alguns estados brasileiros (SP, RJ, RS e MG), infelizmente, o filme que encerra a trilogia do cineasta brasileiro José Mojica Marins e seu já folclórico personagem "Zé do Caixão" - Encarnação do Demônio.

"Encarnação" dá fim a trilogia que ainda reúne, na década de 60, os filmes "Á Meia-Noite eu Levarei tua Alma" e "Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver".

Aqui no Brasil Mojica não possui o reconhecimento que tem por exemplo nos Estados Unidos, onde é conhecido como Coffen Joe (nome que deram ao personagem Zé do Caixão). Porém, com a produção do filme após décadas de tentativas fracassadas (inclusive com a morte do primeiro produtor, na década de 70), com o lançamento do livro biográfico de Mojica "Maldito", com o programa estilo talk show no Canal Brasil "O Estranho Mundo de Zé do Caixão" (nome de filme também estrelado por Mojica), parece-me que tanto o cineasta quanto seu emblemático personagem começam a ganhar a devida atenção do público brasileiro, especialmente entre os adolescentes (que gostam de filmes de horror).

QUEM É "ZÉ DO CAIXÃO"?

Para muitos que querem se aventurar no novo filme de Mojica talvez este possa parecer confuso, estranho, pois o mesmo deve ser assistido após serem vistos os filmes anteriores para que o espectador entre, literalmente, na lógica do personagem.

Zé do Caixão, ou Josefel Zanatas (Satanás de trás para frente), é um agente funerário que vive numa cidade pacata do interior brasileiro. Após uma experiência traumática com a ex-noiva, inclusive morta por ele, Josefel torna-se um homem essencialmente cético e materialista.

Zé entende que as demais pessoas, ou mesmo o populacho, são seres inferiores já que estão presos a religiosidade, a uma vida de submissão, carregada de crendices, superstições, e que como tal não merecem a própria vida - visto que não a desfrutam. Assim o personagem se auto-define como Superior, como Homem-Superior.

Como materialista que é, Zé acredita que viverá eternamente apenas através de uma criança gerada por ele - a hereditariedade do sangue, e não a da alma. Para isso, já que se entende Superior, busca uma mulher que possa acompanhá-lo em superioridade, uma mulher livre de crendices, religiosidade, liberta e corajosa. E ai se inicia sua busca, mostrada nos três filmes.

Para saber se a mulher realmente é Superior e não mais uma, mais uma do populacho inferior, Zé do Caixão submete-as a inúmeros testes, carregados de crueldade, horror e dor - e assim o uso de animais peçonhentos como aranhas, baratas, ratos, cobras, e de várias formas de torturas.

ZÉ DO CAIXÃO - FILOSOFIA NIETZSCHIANA?

Como dito acima, Zé do Caixão se entende um homem superior, diferenciado do populacho preso a religião e as crenças ou superstições. Isso faz lembrar, de certa forma, a lógica da filosofia nietzschiana, na apresentação do Além-Homem pelo profeta Zaratustra - de um homem superior sim, se comparado aos homens (Nietzsche até os chama de macacos) simples, populares, perdidos na ética judaico-cristã ou como afirma Nietzsche "na lógica dos ressentidos".

Para Nietzsche o homem moderno vive no niilismo, no vazio existencial, pois está entregue e submisso a uma ética e moral que valorizam não este mundo, não a humanidade, mas sim uma vida de retidão (apolínea) e de busca por um devir metafísico - e assim torna a sua filosofia, dita do "martelo", uma crítica voraz ao cristianismo e ao judaísmo, e a própria tradição filosófica metafísica alemã (representada por Kant e principalmente Hegel).

Zaratustra, profeta iraniano da Antiguidade e construtor da primeira religião monoteísta (Zoroastrismo), é tornado personagem na obra "Assim Falava Zaratustra" como anunciador do Übermensch ou Além-Homem/Super-Homem Nietzschiano: livre, superior, valorizador do hoje e do mundo dos homens, negando toda forma de metafísica (o profeta diz - homens, parem de cuspir para cima!), levando uma vida próxima dos valores clássicos, greco-romanos, o que Nietzsche aponta como vida "dionísiaca" (deus da alegria, das festas, da bebida, da não-autoridade e do não-limite).

Zé do Caixão, personagem de Mojica (um grande cineasta e um homem inteligente, mesmo destituído de erudição) pode ser aproximado sim do Além-Homem Nietzschiano, não na violência do personagem, mas no materialismo do mesmo, na idéia de que um homem livre de crenças é um homem verdadeiramente livre, talvez superior?

Leiam Nietzsche "ASSIM FALAVA ZARATUSTRA" e assistam a trilogia de Mojica "À MEIA-NOITE LEVAREI TUA ALMA", "ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER" e nos cinemas "ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO".

terça-feira, 5 de agosto de 2008

OS JOGOS OLÍMPICOS CLÁSSICOS



OS JOGOS OLÍMPICOS CLÁSSICOS
Na próxima sexta-feira, dia 8 de agosto, inicia-se na cidade chinesa de Pequim mais uma edição dos Jogos Olímpicos Modernos - criado no final do século 19.
Muitos não sabem, mas na Grécia Clássica, habitus dos Jogos a partir do século 8 AC, o sentido de fazê-los era muito, muito diferente do sentido que hoje possui - como evento internacional, reunindo festa e oportunidades de negócios (não é à toa que a seleção da cidade sede é uma verdadeira batalha política).
Os Jogos eram promovidos por toda a Grécia, em suas várias cidades-Estados ou "pólis", a cada quatro anos (mesmo intervalo de tempo dos Jogos Modernos). Contudo, estes Jogos eram manifestação cultural exclusiva dos gregos e estes o faziam como uma espécie de "Festividade Fúnebre"....isso mesmo, como um excêntrico "Dia de Finados".
Rememorar e reverenciar os mortos dos últimos quatro anos passados - este era o sentido dos Jogos! Como no evento moderno haviam uma série de competições atléticas/esportivas: boxe (sem luvas ou qualquer proteção), atletismo e derivados (como saltos, maratona, arremessos), hipismo, arco e flecha. Uma curiosidade - todos os atletas gregos realizavam as suas perfomances completamente nus! E além disso era proibida a participação de mulheres nos Jogos, seja como atletas e até mesmo como espectadoras.
Na próxima sexta a "Tocha Olímpica" será acesa, dando início aos jogos. E na Antiguidade? A mesma coisa, porém a tocha não era assim tão significativa quanto o fogo, este sim, símbolo forte entre os gregos através de sua mitologia, como na lenda de Prometeu (roubou o fogo dos deuses e entregou-o aos homens, sendo castigado por toda a eternidade - acorrentado a um penhasco, tinha seu fígado todos os dias devorado por aves de rapina, fígado que no dia seguinte se regenerava para novo e terrível castigo).
E os prêmios? Hoje são dados aos campeões olímpicos além do louro da vitória (também dado aos campeões da Antiguidade) as medalhas de ouro, prata e bronze. Na Antiguidade há relatos de entrega de prêmios como enormes vasos, éguas e até mulheres!
O nome "Olímpiadas" é derivado do nome da pólis grega "Olímpia". Isso ocorrera porque em Olímpia eram realizados os mais esperados e prestigiados jogos dentre todas as pólis gregas, especialmente quanto a regularidade dos jogos - em Olímpia eram realizados, sempre, a cada quatro anos, isso entre os séculos 8AC até o século 5 DC já dentro do Império Romano, no final da Idade Antiga. Mas, por que as Olímpiadas chegaram ao fim?

A IGREJA ROMANA - O FIM DAS OLÍMPIADAS CLÁSSICAS
No século 5, no final da Idade Antiga, caminhando a Europa para a castelização de sua sociedade (formando o chamado Feudalismo, e adentrando para a Idade Média), Roma ainda governava o mundo antigo com mãos de ferro!
No centro do poder romano haviam os seus imperadores, e no final do século 5 já havia se estabelecido no seio do Estado romano um novo poder - a Igreja Romana ou o Catolicismo. Fora neste mesmo século que Constantino I aceitara e dera liberdade religiosa aos cristãos, e Teodósio I o imperador que enfim estabelecera o cristianismo como Igreja Oficial do Império Romano, logo criando a própria noção de Igreja Romana (não fora Pedro, Paulo, nem Jesus, os criadores do Catolicismo mas Teodósio, um dos imperadores romanos do século 5).
Em Olímpia, desde o século 8 AC, os Jogos eram realizados a cada quatro anos, mantendo uma milenar tradição. Com o advento do Cristianismo no mundo romano, e a Grécia pertencia como quase todo o mundo antigo aos romanos e seu vasto Império, a tradição dos Jogos começara a ser vista pelo poder com maus olhos.
O Imperador Teodósio I, fervoroso cristão, entendia que os Jogos realizados na Grécia eram contrários aos preceitos cristãos - lembremos do fogo e da chama mitológica, dos atletas nus em competição, da estética dos corpos e não da alma...ou seja, o inferno era o lugar mais apropriado para os participantes dos Jogos!
Teodósio I se justificou dizendo que os jogos eram manifestações pagãs, não-cristãs e que a partir daquele momento os jogos estavam terminantemente proibidos! Vencia a pureza da alma, a busca pelo espírito, de maneira intolerante.
Os Jogos assim ficaram, em suspenso, por toda a Idade Média e Idade Moderna, sendo recuperado no final do século 19 tendo como Atenas o país sede dos Jogos Olímpicos Modernos (só interrompido durante as Guerras Mundiais - 1914/1918 e 1938/1945).

terça-feira, 22 de julho de 2008

O CORINGA DE LEDGER - ANARQUISTA?


O CAOS ESTÁ NOS CINEMAS!
Fazia tempos que um filme, mesmo hollywoodiano, não provocava em mim dupla percepção: de aprendizagem, reflexão constantes, e ao mesmo tempo de ótimo entretenimento. Isto é "BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS" que estreiou nos cinemas mundiais no último dia 18 deste mês.
Mas, e de onde vem o "Caos" presente neste filme? Materializado na figura do Coringa, interpretado brilhantemente pelo já falecido ator Heath Ledger (vitimado por uma overdose de medicamentos em janeiro deste ano).

O CORINGA DE LEDGER - ALUSÃO AO PENSAMENTO ANARQUISTA
O Coringa não é um vilão como os outros, clássicos em filmes de heróis ou mesmo nas histórias em quadrinhos, e o próprio personagem afirma isto no filme "Não sou como vocês (...) sou algo melhor, diferente". Então, o que ele é?
Os vilões clássicos buscam dinheiro, poder, coisas materiais, típicas de um mundo mercantilizado como o atual. Eles roubam, sequestram, matam, em nome do poder e do dinheiro. Simples. O Coringa não - ele rouba, sequestra, mata, não pelo dinheiro, poder ou coisas materiais, ele simplesmente quer ver "o circo pegar fogo" e mais nada. Ele quer o caos, ele quer o descontrole, e ele se apresenta no filme como um agente deste descontrole.
Indício disto é a cena onde o Coringa coloca fogo numa pilha gigantesca de milhares e milhares de dólares, ou seja, ele desdenha da propriedade privada! Muitos diriam que ele é louco, afinal como diz a cultura popular "rasgar dinheiro" é manifestação própria de quem perdeu a consciência, mas para o Coringa não, ele não rasga dinheiro ou queima-o por loucura, não, ele age assim pois queimando milhares de dólares ele põe em xeque um pilar de nossa sociedade: a propriedade privada. Estamos habituados a ter a noção de propriedade como algo intocável, quase divino, sendo inclusive preceito básico de nossas leis (o direito à propriedade).
O fim da propriedade privada é um dos pilares de dois pensamentos políticos construídos ou fortificados no século 19: o Socialismo e o Anarquismo. Em ambos encontramos um outro pilar, de suma importância: o igualitarismo. Para o Coringa todos somos iguais, não há dúvida. Mas isso nao se traduz como no sentido do coletivismo, do humanismo, não, para o Coringa todos somos iguais na hipocrisia, na necessidade e busca pelo auto-controle e por algo que nos controle (como os governos, o Estado, as autoridades) porque em essência somos todos uns animais em completo descontrole, e ele, ao contrário das pessoas comuns ou mesmo "civilizadas" deixa este descontrole, natural, aflorar e se manifestar numa Gotham City que se torna prisioneira de si mesma, prisioneira em várias circunstâncias do verdadeiro caos.
Quando aqui me refiro ao "Caos" não é pura e simplesmente em termos de bagunça, não, falo em termos da origem etimológica grega (anarchos) de falta de governo, falta de autoridade. E é pela falta de governo e autoridade que Gotham City precisa de figuras como Batman (para manter o controle) ou apresenta figuras como Coringa (para gerar o descontrole).
Para questionar ou mesmo destruir as noções ou figuras de autoridade, o Coringa atua sobre a figura do eminente promotor público Harvey Dent, causando-lhe a perda de sua noiva - provocando-lhe uma transformação tão intensa que Harvey, de idealista e íntegro homem das leis (essência do controle), se torna um justiceiro cruel e incrédulo como "Duas-Caras", reforçando a descrença na justiça e a própria situação de caos, de falta de autoridade em Gotham City.
Mas o que quer o Coringa com tanta destruição e caos? Uma sociedade nova e mais livre, com certeza. Uma sociedade sem controle, sem autoridades, sem propriedades, onde todos viveríamos uma espécie de estado natural.
Em suma, percebe-se, a partir do personagem, toda uma influência da teoria anarquista na construção deste mesmo personagem e na própria caracterização do Batman e de outros heróis - ou seja, os heróis são em essência agentes do controle, mantenedores da ordem existente. Os heróis não podem gerar transformações, nunca. Os heróis são conservadores por excelência. Alguns vilões, como o Coringa, causam furor e muito estrago por simplesmente atuarem como agentes do descontrole e que possuem capacidade criativa, de geração de algo novo, de transformação.
De alguma forma Gotham City é nossa vida em sociedade, sombria e dura. Nossos governos e autoridades possuem limites, e quando elementos de destruição e descontrole, transformadores, como o Coringa aparecem logo a mesma sociedade produzirá seus heróis, conservadores, mantenedores do controle e da ordem como Batman.
Finalizando, uma certa vez afirmara Michail Alexandrovich Bakunin (1814-1876):

"A PAIXÃO PELA DESTRUIÇÃO É TAMBÉM UMA PAIXÃO CRIADORA"

terça-feira, 15 de julho de 2008

Audiência Pública Debate a Valorização da Educação Pública




Ontem a noite, dia 14 de julho, foi realizado um debate público na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, sob coordenação do deputado Durval Ângelo-PT/MG que preside a comissão parlamentar de Direitos Humanos, discutindo a educação pública brasileira e em especial com amparo do lançamento da obra "Resgatando os Valores da Escola Pública" da minha colega professora/escritora Maria Luciene.
Além do deputado e da professora também participaram do evento o professor Alber Fernandes (EE Três Poderes), professor José Juvenal (EE São Rafael), representantes da editora Literato e eu, professor Tiago Menta.

O que foi discutido?
Várias questões sobre a educação pública, a partir da realidade vivida pelas instituições e profissionais do estado de Minas Gerais. O papel da família na educação de crianças e jovens (aqui localizada a minha intervenção na mesa), os investimentos públicos em educação nos últimos anos, o piso salarial para professores, a violência escolar, a valorização do profissional da educação e a necessária formação continuada, o papel da sociedade em meio aos problemas de nossa educação.

O que foi proposto?
- necessidade de mais investimentos em educação, não só em insumos físicos mas em qualidade profissional (remuneração, incentivo a docência e formação continuada).
- maior participação da sociedade quanto a fiscalização sobre as verbas a ser destinadas ao investimento em educação (pela Constituição Cidadã de 1988 25% do orçamento de estados e municípios).
- criação de uma espécie de "ProUni" para cursos de pós-graduação a professores da rede pública de ensino.
- uma chamada mais contundente aos pais e responsáveis para que valorizem a educação de seus jovens, e que o Estado promova uma espécie de "Choque Educacional" sobre os brasileiros adultos, com filhos matriculados em escolas públicas, que hoje apresentam um alarmante quadro de 54% de não conclusão do ensino fundamental, 3% de formação superior completa, 7% de acesso a internet, 72% apresentando problemas de alfabetização funcional (lêem e escrevem, mas com erros e muitas dificuldades de assimilação, interpretação).

A Minha Avaliação desta Audiência Pública:
O deputado Durval Ângelo, do PT mineiro, aponta horizontes de avanços em termos educacionais, contudo não mostra percepção quanto ao círculo vicioso presente em nossa educação brasileira - INCLUSÃO SEM QUALIDADE!
O mesmo deputado afirmara que é necessário a população, ou melhor que a sociedade fiscalizasse as instituições públicas, suas comissões, e que exijam destas o devido investimento previsto em lei federal (25% dos recursos) - porém o nobre deputado se esquece que uma sociedade participativa, fiscalizadora, engajada nas questões do país como deveria ser quanto a educação deve ser, antes de tudo, uma sociedade EDUCADA. E isso, leitores, nós brasileiros não somos (as pesquisas internacionais como o PISA mostram isso). Nossos adultos não possuem uma sólida formação, um arcabouço mínimo de compreensão e de conhecimentos, e acabam por desvalorizar o papel da educação como agente transformador e promovedor de inserção e inclusão social efetiva (sem servilismo, que é o que os governos brasileiros fazem quando afirmam distribuir riqueza) - o que desagua no distanciamento vivido hoje nas relações entre escola e comunidades.
A audiência foi significativa, aliás debater sobre a educação nunca será demais num país que antes de tudo deve ser repensado em termos educacionais e além, deve ser revisado o papel da educação como política pública em nosso país. Se fazendo como lei a destinação de 25% dos recursos de estados e municípios para a educação aponta para a realidade que ai está, de sucateamento e descrédito, só podemos pensar nas seguintes soluções:

1º: FISCALIZAÇÃO = FIM DA CORRUPÇÃO/ é a garantia de que a verba, 25%, é realmente destinada para melhorias na educação pública (excluindo-se disto coisas como merenda escolar ou reformas prediais).
2º: AUMENTO DAS VERBAS, proporcionais de acordo com a demanda do estado ou município. Se um estado ou município possui clara desestrutura educacional (avaliados anualmente por profissionais em educação e não tecnocratas) este deverá ter os 25% exigidos aumentados até que a situação daquele estado ou município atinja o aceitável em educação (professores bem remunerados - baixa evasão escolar - baixa repetência escolar - baixo índice de analfabetismo e baixo índice de analfabetismo funcional/investindo em educação à distância e na educação de jovens e adultos EJA).

O que é o livro "RESGATANDO OS VALORES DA ESCOLA PÚBLICA", da professora Maria Luciene (editora Literato, já nas melhores livrarias de Belo Horizonte)?
Como já disse pessoalmente a colega Maria Luciene a sua obra não é, por excelência, um discurso teórico mas sim um relato muitas vezes até emocionado, sem perder a razoabilidade e a clareza de idéias , sobre o que vem a ser hoje o SER PROFESSOR EM MINAS GERAIS a partir de inúmeras experiências dentro da escola pública - como em projetos da prática do xadrez como ferramenta pedagógico-matemática, da lagoa da Pampulha como projeto de preservação de nossos recursos hídricos e do meio ambiente como um todo (a chamada consciência ecológica), da produção de textos e do fomento a leitura através do uso dos jornais e outros periódicos.
Em síntese eu diria aos meus leitores que o livro da colega Maria Luciene se faz uma leitura necessária para todos aqueles que se envolvem de certa maneira com o EDUCAR, sendo uma obra quase ontológica por mostrar, com objetividade e carinho, o SER PROFESSOR (quem ele é, o que ele faz, o que ele tem como demanda profissional, o que ele precisa, o que ele pode fazer, o que o motiva e o que o desmotiva).
Sendo assim, aqueles que me têem como referencial intelectual aceitem o meu convite e comprem e leiam
LUCIENE, Maria. RESGATANDO OS VALORES DA ESCOLA PÚBLICA. Belo Horizonte: 2008, editora Literato.