quinta-feira, 23 de julho de 2009

O FIM DO SEXO E DA MORTE



Em "A Ilusão Vital", obra que reúne uma diversidade de textos do filósofo francês Jean Baudrillard, é apresentada uma interessante análise a respeito da sexualidade e da morte, enquanto fenômenos que vem sendo eliminados, pouco a pouco, pelos seres humanos neste mundo pós-moderno em que estamos vivendo.

Mas, o amigo leitor pode se perguntar, com estranhamento, como eliminar da vida humana a morte e o sexo? Como isso é possível?

Em primeiro lugar é necessário definir, ou melhor, redefinir o que quero dizer com "sexo" ou "sexualidade" nesta discussão baudrillariana - mecanismo biológico de reprodução de nossa espécie, e não como atividade de prazer, mas como fisiologia humana. O sexo fisiológico, o sexo que dá continuidade a vida humana, este sim, está sendo eliminado pela humanidade ao longo das últimas décadas. Pensemos: é necessário a relação sexual entre um homem e uma mulher para a concepção de uma vida? Nem sempre. Hoje a ciência desenvolve uma série de técnicas, como a reprodução in vitro, que dispensam a atividade sexual entre duas pessoas como meio de se conceber uma vida. Exemplo disso são casais antes impossibilitados pela natureza conseguirem hoje conceber um filho, casais de lésbicas com filhos, mulheres solteiras com filhos, tudo fruto da técnica, da tecnologia, e não da carne, da relação, da interconexao de fluidos corporéos. Assim, vivemos um mundo onde é possível ser pai, sem ter a mãe, é possível ser mãe, sem ter pai. Não há genitores, mas genitor, solitário, individualizado.

A mesma técnica que elimina o sexo fisiológico também vem promovendo o fim do maior dos temores humanos: a morte. Mas, como?

A biotecnologia vem avançando, a passos largos, acima de toda discussão ética, e já produz, ou melhor, reproduz espécies - a clonagem genética, gerando cópias de um único ser. É possível hoje, em países como os Estados Unidos, pagar para clonar o seu gato ou cachorro, que por infelicidade acabara morrendo. Em breve a clonagem humana não será um tabu, mas uma realidade. Isso sem falar nas pesquisas com células tronco, que vão prolongar a vida humana de uma maneira nunca antes vista, pois toda célula poderá ser substituída por uma célula nova, saudável, como se fossemos máquinas aptas para termos nossos órgãos tratados como peças, passíveis de troca e não mais de conserto.

E quais as consequências de uma humanidade que já não se reproduz pelas vias naturais e que já não mais irá morrer, seja por clonagem ou por trocas de células (peças) danificadas por saudáveis? Baudrillard aponta para uma sociedade de intensa homogeneização, racionalização ao extremo, aonde a nossa condição humana irá se esvanecer pouco a pouco, a ponto dos seres humanos tornarem-se não mais humanos, mas deuses. Contudo, é difícil imaginar as implicações éticas, sociais e políticas em um mundo habitado não por homens, mas por deuses. Tornaremos este planeta a substancialização do monte Olimpo ou transformaremos este mesmo planeta em um mundo habitado por máquinas-humanas, estaremos um passo adiante na evolução de nossa espécie ou estaremos dando passo atrás no mecanismo evolutivo? Serão respostas, no mínimo, intrigantes e não menos perturbadoras.

Um comentário:

  1. Este cenário futurístico me dá arrepios! Também não consigo conceber um futuro promissor. O próprio cinema já demonstra isso com seus filmes de ficção.

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