domingo, 11 de outubro de 2009

Lúcifer: uma análise anarquista.

É comum, deste o Zoroastrismo (primeira religião conhecida) a milhares de anos atrás (na Pérsia de Zaratustra), entendermos o Universo a partir da colisão de forças antagônicas, conflitantes, a quem chamamos "Bem" e "Mal" (no Zoroastrismo o bem seria Ahura Mazdah/ daí o nome masdaísmo para a mesma religião iraniana, e o mal Arumã), dando origem ao que conhecemos como ética e consequentemente a moralidade (faça isso, não faça isso).

Os seres humanos, em sinal de certo narcisismo e soberba (achando-se o verdadeiro senhor do Universo, quando na realidade é uma agulha no oceano), tendeu a criar deuses, entidades, cada vez mais humanizados (antropomorfismo) - até chegarmos ao clímax desse fenômeno na pessoa de Jesus (o Deus tornado homem, dando origem ao Cristianismo).

E assim, Jesus, Muhammad, Sidata Gautama (Buda), Abraão, Moisés, Davi, acabaram por se tornar, além de homens, expressões de bondade, de exemplos, de seres iluminados. Seriam manifestações do genuíno Bem, com b maiúsculo mesmo. Porém, como dito inicialmente, há de se criar forças negativas, opostas a tudo o que seria o sumo bem: as forças do mal, que nos leva ao erro, que nos faz cometer injustiças, que nos leva a um caminho de destruição, pessoal ou alheia.

E quem disse que nós, criativos e não menos destrutivos seres humanos, não daríamos uma cara ao mal, ao Mal com m maiúsculo. Humanizamos o mal na pessoa do anjo decaído, um serafim: Lúcifer.

Lúcifer, também conhecido como Mefistófeles, Belzebu, Diabo, Satanás, Chifrudo,Senhor das Trevas, e mais recentemente como Encosto, Encardido, ou mesmo O Inimigo. Pois é, ele, o Demônio, que tem como objetivo a destruição do Reino de Deus, nos Céus e na Terra, sendo o seu método tentar todas as criações de Deus, diga-se nós seres humanos, de maneira a nos cobrir de pecado, blablabla...

Para a construção da figura diabólica foram buscar um antigo deus greco-romano: o fauno, o senhor dos bosques e campos, aquele que com sua flauta saia produzindo música pelos campos verdejantes - Pã ou Lucrécio. Quem assistiu ao vídeo postado no meu canal do youtube (http://www.youtube.com/tiagomenta) sabe que Pã era um Deus que apresentava uma aparência tosca, animalesca (meio humano, meio bode, com chifres e patas). Dai para a visão clássica do Demônio foi um caminho rápido, e pior, sobrou até para o bode, isso mesmo, o animal, visto como demoníaco e utilizado em magia negra, satanismo, sabás ou missas negras.
Veja as imagens abaixo:



Perceberam, como se utilizaram de uma divindade greco-romana para a criação de uma figura que representasse, efetivamente, a existência do mal? Pois é...

O russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, ou simplesmente Bakunin (1814-1876), ícone da Teoria e Concepção Anarquista, com quem travara uma batalha ideológica com Karl Marx na Primeira Internacional dos Trabalhadores, tinha uma visão diferente, e não menos interessante sobre Lúcifer, a quem ele cita, brilhantemente, em sua obra "Deus e o Estado":

"Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestiais; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da Ciência"

E assim, nas palavras de Bakunin, percebemos que Lúcifer pode ser entendido na realidade como o oposto, em termos representativos, ao que as Igrejas e religiões monoteístas vem perpetuando ao longo de séculos de alienação sem igual. Lúcifer não é o Mal, Lúcifer é o humano, o humano que um dia, movido pela curiosidade, faz da sua inteligência uma arma de luta e sobrevivência, tornando-se por forças próprias e legitimamente, o único e verdadeiro senhor deste planetinha que denominamos Terra. Lúcifer é a expressão, a representação, da tríade da teoria de Bakunin: o homem em suas dimensões - animal, pensamento e revolta.

Somos animais, é obvio. Temos em nosso pensamento, em nossa cognição a nossa força, o nosso meio de atuação e de sobrevivência em meio a uma natureza que é hostil. E temos dentro de si a revolta, esta força que nos move, que nos faz criar, progredir, questionar, criticar, mudar, transformar e acima de tudo revolucionar!

Concluindo, abandonemos o Lúcifer milenar trazido pelo monoteísmo pedante e capenga, e fiquemos, simbolicamente, enquanto representação para a vida, do Lúcifer de Bakunin: aquele que é humano, pensa e tem dentro de si, sempre, a revolta. Desobedecer é a chave para transformar!

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