sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O INQUISIDOR QUE VIROU SANTO!

Até o aparecimento do casal Fernando (reino de Aragão) e Isabel (reino de Castela) ao poder (em 1478), unificando estes reinos no que depois tornou-se a Espanha, a Península Ibérica mantinha-se como uma região ímpar da Europa, por congregar, em rara harmonia, as três religiões monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos.

Isabela era conhecida como a "católica", sendo uma fervorosa cristã. Juntamente com o marido Fernando sonhavam em construir um Estado organizado, forte, de poder centralizado e com uma única religião, obviamente cristã e católica.

Logo o intento político e econômico do casal encontrara um aliado perfeito: Roma. E assim, Igreja Romana e reis de Aragão e Castela deram início a uma das páginas mais infames da história: a Inquisição Espanhola (que matou 15 % da população espanhola em cem anos). A autorização para que a Inquisição estendesse os seus braços pela Ibéria fora assinada pelo papa Cisto IV em 1 de novembro de 1478. E seria nomeado como Inquisidor Geral da região o terrível Tomás de Torquemada (que além das mortes e torturas causadas pelas perseguições e julgamentos inquisitoriais, criara uma espécie de solução final, como Hitler também proporá séculos depois na Alemanha nazista, expulsando da Espanha todos os judeus).

As principais vítimas dos reis católicos foram escolhidas com facilidade: os cristãos novos ou conversos (judeus que passaram a aceitar o cristianismo, de maneira forçada mesmo - muitos se converteram, ou melhor, aceitaram Jesus com a ponta de uma espada sobre o pescoço; outros aceitaram Jesus para se casarem com cristãos, mas nunca por convicção religiosa!).

Os cristãos novos tinham muitas posses, eram homens eminentes na sociedade hispânica, e obviamente isso atraiu, e muito, a atenção e a cobiça dos reis católicos e da própria Igreja romana. Sabe-se que após a condenação/execução daquele que era acusado pela Inquisição Católica seus bens eram confiscados pelo Estado, que repartia estes despojos com Roma.

O INQUISIDOR QUE VIROU SANTO!
Fora neste contexto que atuou o monge dominicano Pedro Arbués, formado em Teologia pela Universidade de Bolonha.
Arbués tornou-se um eminente inquisidor, condenando uma série de conversos, como ditava a ordem instituída pelos reis católicos e a "santa" Igreja. Não era sem razão que recebeu o apelido de "o flagelo de Zaragoza" (na época capital da Espanha).
Conversos que a tempos eram pessoas eminentes do reino começaram a temer pelo pior, e elegeram um inimigo em comum: o inquisidor Arbués.
Antes de agir de maneira desesperada estes homens tentaram de todas as formas, inclusive pelas vias jurídicas, se proteger da fúria da Inquisição, porém nem os reis católicos, nem Roma (ambos que um dia foram contemplados com ajuda financeira judaica na luta contra os muçulmanos do sul da Península, em Granada) se mostraram interessados em interromper com as perseguições e condenações. Não tinha mais jeito, era preciso lutar, dar uma demonstração de força.
E assim, por 800 florins de ouro, oito homens foram contratados para dar cabo do inquisidor Arbués - esfaqueado dentro de uma Igreja, em Zaragoza, em setembro de 1485.
Arbués, antes de ser morto, já vinha sendo ameaçado pelos conversos, e usava por baixo da roupa de monge uma malha de aço (como um cavaleiro) para se proteger, e também um elmo. No caso, acabara morto esfaqueado em seu pescoço (degolado).
A resposta da Igreja e dos reis católicos foi rápida. As leis do reino foram deixadas de lado e a Inquisição reprimiu com força a população de cristãos novos de Zaragoza - resultando em 64 execuções, como retaliação a morte do inquisidor.
Séculos depois, o flagelo de Zaragoza fora beatificado e depois canonizado como "santo", tornando-se São Pedro Arbués em 1867 pelo papa Pio IX, e sua data comemorativa em 17 de setembro (dia de sua morte).
Imaginem, caros leitores, ser devoto de São Pedro Arbués - o inquisidor, que por exemplo, costumava cobrir o rosto do cristo na cruz durante as sessões de tortura, onde cristãos novos espanhóis eram dizimados e depois roubados (com o confisco de seus bens).
E ainda aparecem pessoas na televisão justificando a Inquisição, creio eu que são todos devotos de São Pedro Arbués (que queime no inferno, porém infelizmente o mesmo não existe, sendo mais um conto de fadas da criativa imaginação humana).

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