quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Áurea Machado entrevista Prof. Tiago Menta


Esta entrevista faz parte de um roteiro científico elaborado pela universitária Áurea Machado, realizada na noite do dia 17/11/2009.

1- Como ou porque surgiu o desejo de fazer história e lecionar?
Desde o ensino médio vinha despertando em mim o gosto pelo conhecimento histórico, inicialmente como curiosidade, depois veio aquela necessidade de aprofundamento, de saber mais, até por desconfiar, sempre, que as coisas não são o que parecem ser.
Já lecionar é algo que talvez venha do gosto pelos estudos, da alegria de ir a escola ainda garoto. O ambiente escolar sempre me motivou, me conquistou, de certa maneira eu fui querendo fazer parte disso.

2- Houveram momentos durante sua formação acadêmica que o fizesse refletir se realmente a docência lhe faria feliz e realizado enquanto ser humano?
Não, não estava estudando na academia em busca da felicidade pessoal, não me iludo com estas coisas. Sei que a felicidade é momento, é instante. Porém a realização sim, a cada conhecimento, a cada descoberta, a cada debate, a cada passo que dava, aprofundando nas mais diversas questões, ai sim, me sentia realizado como ser humano - consciente, liberto.

3- Você aconselharia um aluno seu a seguir este caminho de educador? Porque?
Primeiro eu perguntaria se ele estaria disposto a enfrentar as mais diversas problemáticas que envolvem ser um educador no Brasil, hoje em dia. Se ele, conscio das agruras, que não são poucas, manter a vontade, a chama nos olhos, o sangue nas veias por educar, ai sim, eu diria siga a mesma carreira que vosso mestre.

4- Como você avalia o atual sistema de ensino fundamenta/médio no Brasil?
Péssimos, desanimadores. E os índices internacionais, como o Pisa, mostram isso. A educação brasileira, em todos os níveis, mas especialmente na educação básica, sofre de males congênitos, crônicos. Que não envolvem só a formação de professores, mas o papel da escola na sociedade pós-moderna, a valorização da docência mas também da educação como mecanismo, real, de transformação humana e principalmente de ascensão social.
A juventude sente que não está adiantando muito estudar, que não bastam anos na escola e depois sair no mercado de trabalho desqualificado e desmotivado pelo subemprego ou mesmo para a vida de salário mínimo. Por isso o crime, o ganho rápido, atrai tanto.

5- Em relação a sua metodologia em sala de aula você acha satisfatória sua atuação? O que o faz pensar assim?
Creio que sim, e é difícil falar muito de si mesmo, pode parecer vaidade, mas sinceramente dentro de sala de aula dou sempre o meu melhor.
Como método procuro ser o mais aberto possível, levando ao aluno a certeza de que o estudo, a aprendizagem, não só ocorre ali naquele espaço - mas transcende aquilo tudo. Ele precisa ler mais, ele precisa ver sentido nas aulas e nos conteúdos, fazendo a necessária ponte ou transposição didática para a realidade social ou mesmo da contemporaneidade que envolvem aqueles jovens ali na minha frente.
Que eu não sou um receptáculo, mas um orientador, uma referência, que está ali para ajudá-los a "andar de bicicleta" (eu só empurro a bike, ele anda).
Comigo os alunos tomam contato com a história pelas vias da exposição, do debate, das múltiplas leituras (não em quantitade, mas em tipologia - desde charges, quadrinhos, literatura, música, arquitetura, artes plásticas) e claro, pela complementação com textos, vídeos, internet (e eu tenho um extenso trabalho na rede, que os auxiliam de certa forma, em tudo aquilo que um dia fora colocado em sala de aula).

6- Continuando sobre sua atuação enquanto docente, você acha que os alunos se sentem motivados, interessados nas aulas no que depende de você?
Não é o suficiente. Nós professores estamos perdendo a batalha com muitas outras fontes de informação, e estas estão conquistando a atenção dos jovens pelo seu dinamismo, instantaneidade.
Que é bom, como horizonte extendido, porém é ruim visto que a aprendizagem não se faz mecanicamente, rapidamente, esta é um processual complexo e que envolve muitos fatores.
E outro combate duro, muito duro: a realidade social. O professor faz queda de braços com esta diariamente, e temos que nos habituar a perder. É o aluno que chega diante de você com problemáticas tão grandes, complexas, que ultrapassam a sua condição de educador e quando você se dá conta está sendo mais que educador, está sendo o único referencial daquele jovem. O único que está ali para lhe dizer os necessários "nãos", e muitas vezes somos agredidos por isso.

7- Sobre os assuntos e temas de história, quais você acha que mais os alunos se interessam e porque?
Eles se interessam mais pela via do estranhamento, de realidades históricas distantes, diferentes das vividas hoje, mas que de alguma forma se conectam com algum aspecto do mundo contemporâneo (os tempos históricos são múltiplos, e se interrelacionam no presente).
Os meus alunos curtem muito quando apresento as sociedades antigas, seus costumes, sua organização, seu modus vivendi - como na Roma dos césares (sem perder o foco com o hoje, com o vivido - como neste exemplo, que eventos, fatores, mentalidades, romanas, de certa maneira permanecem nos dias atuais? Posso pegar os anfiteatros romanos e imperiais e compará-los com os jogos de futebol e tudo o que gira em torno destes e tantos outros espetáculos de massas).

8- Como geralmente funciona sua didática de avaliação? O que mais você prioriza nesse processo?
A avaliação deve ser descentralizada. Deve reunir uma série de critérios, e cada qual você dá o seu valor em termos quantitativos.
Exemplo utilizado por mim: atividades pedidas (extra-classe) + participação em sala de aula + assiduidade escolar + disciplina escolar (comportamento em sala, educação com colegas, professores e funcionários, uniforme escolar, material didático) + atividades em equipes ou coletivas + provas.
A minha prioridade é exatamente descentralizar, porque ai você avalia em uma totalidade.

9- Qual período da História mais te envolve e te faz crescer o sentimento por esta disciplina?
Como todo historiador temos a nossa "menina dos olhos", aquele tema ou temporalidade ou mesmo série de eventos que acompanhamos mais por curiosidade ou por uma espécie de afinidade intelectual.
No meu caso é a História Antiga, seja no Oriente ou no Ocidente. As velhas civilizações estão mais vivas entre nós do que podemos imaginar, afinal o ser humano será sempre o ser humano.

10- Há alguma frase ou pensamento que você leva para a vida e que poderia transmiti-la?
Esta é difícil, pois são milhares e milhares de frases que vem a cabeça. Mas fiquemos com esta aqui, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche
"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante"

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