terça-feira, 20 de outubro de 2009

Revolução Francesa (1789) Parte 2

Revolução Francesa (1789) Parte 1

domingo, 18 de outubro de 2009

REDE SOCIEDADE ALTERNATIVA - COM PROF. TIAGO MENTA (só falta você)




Então pessoal, entrem e façam deste espaço um espaço de todos nós, uma Sociedade Alternativa:
http://redeproftiagomenta.ning.com

Entre e acesse, torne-se um membro ativo de uma nova proposta, original e revolucionária.

sábado, 17 de outubro de 2009

DEIXA EU FALAR FILHO DA PUTA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Mais uma música sensacional, quando o Raimundos ainda existia e mantinha uma chama de rebeldia no rock brasileiro, com muita originalidade.
Segue, como de costume quando trabalho com música, o vídeo e a letra logo abaixo.
Para transformar é preciso rebeldia, sempre!




"DEIXA EU FALAR" - RAIMUNDOS

"É inverno no inferno e nevam brasas
Por favor escondam-se todos em suas casas
Pois o anjo caído voa com novas asas
Raimundos, Natirus, Black Alien
Quebrando a espinha de filhos da puta
Como num mergulho de águas rasas"

Foi mal, foi mal, foi mal ae véi
Se eu falei um monte de coisa que você não gosta
Com o microfone eu tenho a faca e o queijo
Olho o jornal, eu ouço rádio, eu só ouço bosta
E na TV eu não gosto de nada que eu vejo

Uma camisa de força tamanho mirim
Vai tem que me explicar tim-tim por tim-tim
Por que a lei só se aplica a mim
Perigo pra sociedade é o que me dizem
E penso comigo mesmo: porque não eu
Pra cuspir o pensar e taxarem de mim

"É inverno no inferno e nevam brasas
Por favor escondam-se todos em suas casas
Pois o anjo caído voa com novas asas
Raimundos, Natirus, Black Alien
Quebrando a espinha de filhos da puta
Como num mergulho de águas rasas"


Liberdade de expressão
Deixa eu falar filha da puta! Expressão

A livre expressão é o que constrói a nação
Independentemente da moeda ou sua cotação

Deixa eu falar filha da puta! Expressão

Preste atenção no que eu vou dizer
Consciência e rebeldia é o que eu preciso ter
Pois minha mente pede um HxCx ou reggae
A mensagem vem das ruas, não dá pra esconder

Eu tenho um segredo, já não tenho medo
Viver não vale nada se eu não me expressar
Seja certo ou errado, de cara ou chapado
Quem é calango do cerrado nunca vai muda

Liberdade de expressão
Deixa eu falar filha da puta! Expressão

A livre expressão é o que constrói a nação
Independentemente da moeda ou sua cotação

Deixa eu falar filha da puta! Expressão

De junho a junho eu nasço,
Eu morro de março a março
Presencio cenas impossíveis de traduzir para o cinema
Não perco atuações e atos
Nem quando abaixo para amarrar os cadarços
Espaço, espaço, preciso de espaço
Para mostrar para esses covardes
Seu crepúsculo de aço
Imperial, como Carlos eu passo
Conexão nordestina até Niterói
Morte e Vida Severina

Passando por Brasília, reis... (caralho!)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

SEXO, LIBERDADE E ANARQUIA

Para quem ainda não conhece o Ska-p é uma banda espanhola que mistura dois ritmos, o ska e o punk rock, o primeiro de origem jamaicana (claros elementos caribenhos) - dai o próprio nome da banda "Ska-p".
A banda foi formada em 1994 e tem como integrantes: Pulpul, como vocalista e guitarra, Toni Escobar, guitarra e vocal, Julio no baixo, Kogote, teclados e vocal e Pako na bateria.
Abaixo segue o vídeo daquela que considero a melhor música da banda, traduzindo: "Sexo, Liberdade e Anarquia". Depois seguem-se as letras, no original em espanhol e depois a tradução para o português.
Por fim, parafraseando a música "Rebelião contra a Hipocrisia".
Abraços, prof. Tiago Menta.



Cada dia me revientan mas
las putas leyes religiosas, su conducta moral
su mejor remedio al sida es la virginidad

La religion desde la inquisicion
ejerce poderosa y dura represion
a todo lo que se llama sexo & libertad

CORO
AY;AY;AY;AY;AY (x3)
Disfruta de la vida y a follar que son 2 dias
y que nadie te reprima
rebelion contra la hipocresia

Hoy en dia en nuetra generacion
lo que dicta el catesismo no lo cumple ni Dios
ni siquiera se presume del conservador

He aqui la hipocresia moral
la que sufrieron nuestros viejos sin placer carnal
delimitando su sexo para procrear

CORO

Sexo libertad, anarquia sexual, sexo libertad,
anarquia , anarquia (x2)
sexo, libertad, sexo, libertad, sexo, libertad, sexo,libertad
sexo,anarquia, sexo, anarquia

Nadie te debe imponer jamas
has lo que quieras con tu cuerpo en plena libertad
masturbacion, penetracion, practica sexo oral

Y si luchas por la libertad
no se te olvide hermano el homosexual
que ya sufrieron bastante en clandestinidad

CORO

sexo, libertad,anarquia......

esta es mi cabeza, mi cerebro, mis orejas,
yo ya no tengo ni moralidad
disfruta de la vida
y a follar que son 2 dias
y que nadie te reprima
rebelion contra la hipocresia

IROS A LA MIERDA Y DEJADNOS DEUNA VEZ EN PAZ


TRADUÇÃO (por Prof. Tiago Menta)

Cada dia me arrebentam, mas
As putas leis religiosas e suas condutas morais
Seu melhor remédio para a Aids é a virgindade

A religião, desde a Inquisição
Exerce poderosa e dura repressão
a tudo que se chama sexo e liberdade

Coro: ai, ai, ai, ai
Desfrute da vida e a trepar, que são dois dias
e que nada te reprima
rebelião contra a hipocrisia

Hoje em dia, em nossa geração
Os que ditam o catolicismo não o cumprem nem deus
Nem sequer é o que presume conservador

Há aqui a hipocrisia moral
A que sofreram nossos velhos sem prazer carnal
Delimitando seu sexo para procriação

Ninguém deve te impor, jamais.
Faça o que quiser com seu corpo em plena liberdade
Masturbação, penetração, prática de sexo oral.
E se você luta pela liberdade
E não se esqueça irmão, os homossexuais
Que já sofreram bastante na clandestinidade

Está em minha cabeça, em meu cérebro, em minhas orelhas
Eu já tenho minha moralidade
Ai, ai, ai, ai
Desfrute da vida e a trepar, que são dois dias
E que nada te reprima, rebelião contra a hipocrisia

Vão à merda e nos deixem de uma vez em paz!

domingo, 11 de outubro de 2009

Lúcifer: uma análise anarquista.

É comum, deste o Zoroastrismo (primeira religião conhecida) a milhares de anos atrás (na Pérsia de Zaratustra), entendermos o Universo a partir da colisão de forças antagônicas, conflitantes, a quem chamamos "Bem" e "Mal" (no Zoroastrismo o bem seria Ahura Mazdah/ daí o nome masdaísmo para a mesma religião iraniana, e o mal Arumã), dando origem ao que conhecemos como ética e consequentemente a moralidade (faça isso, não faça isso).

Os seres humanos, em sinal de certo narcisismo e soberba (achando-se o verdadeiro senhor do Universo, quando na realidade é uma agulha no oceano), tendeu a criar deuses, entidades, cada vez mais humanizados (antropomorfismo) - até chegarmos ao clímax desse fenômeno na pessoa de Jesus (o Deus tornado homem, dando origem ao Cristianismo).

E assim, Jesus, Muhammad, Sidata Gautama (Buda), Abraão, Moisés, Davi, acabaram por se tornar, além de homens, expressões de bondade, de exemplos, de seres iluminados. Seriam manifestações do genuíno Bem, com b maiúsculo mesmo. Porém, como dito inicialmente, há de se criar forças negativas, opostas a tudo o que seria o sumo bem: as forças do mal, que nos leva ao erro, que nos faz cometer injustiças, que nos leva a um caminho de destruição, pessoal ou alheia.

E quem disse que nós, criativos e não menos destrutivos seres humanos, não daríamos uma cara ao mal, ao Mal com m maiúsculo. Humanizamos o mal na pessoa do anjo decaído, um serafim: Lúcifer.

Lúcifer, também conhecido como Mefistófeles, Belzebu, Diabo, Satanás, Chifrudo,Senhor das Trevas, e mais recentemente como Encosto, Encardido, ou mesmo O Inimigo. Pois é, ele, o Demônio, que tem como objetivo a destruição do Reino de Deus, nos Céus e na Terra, sendo o seu método tentar todas as criações de Deus, diga-se nós seres humanos, de maneira a nos cobrir de pecado, blablabla...

Para a construção da figura diabólica foram buscar um antigo deus greco-romano: o fauno, o senhor dos bosques e campos, aquele que com sua flauta saia produzindo música pelos campos verdejantes - Pã ou Lucrécio. Quem assistiu ao vídeo postado no meu canal do youtube (http://www.youtube.com/tiagomenta) sabe que Pã era um Deus que apresentava uma aparência tosca, animalesca (meio humano, meio bode, com chifres e patas). Dai para a visão clássica do Demônio foi um caminho rápido, e pior, sobrou até para o bode, isso mesmo, o animal, visto como demoníaco e utilizado em magia negra, satanismo, sabás ou missas negras.
Veja as imagens abaixo:



Perceberam, como se utilizaram de uma divindade greco-romana para a criação de uma figura que representasse, efetivamente, a existência do mal? Pois é...

O russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, ou simplesmente Bakunin (1814-1876), ícone da Teoria e Concepção Anarquista, com quem travara uma batalha ideológica com Karl Marx na Primeira Internacional dos Trabalhadores, tinha uma visão diferente, e não menos interessante sobre Lúcifer, a quem ele cita, brilhantemente, em sua obra "Deus e o Estado":

"Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestiais; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da Ciência"

E assim, nas palavras de Bakunin, percebemos que Lúcifer pode ser entendido na realidade como o oposto, em termos representativos, ao que as Igrejas e religiões monoteístas vem perpetuando ao longo de séculos de alienação sem igual. Lúcifer não é o Mal, Lúcifer é o humano, o humano que um dia, movido pela curiosidade, faz da sua inteligência uma arma de luta e sobrevivência, tornando-se por forças próprias e legitimamente, o único e verdadeiro senhor deste planetinha que denominamos Terra. Lúcifer é a expressão, a representação, da tríade da teoria de Bakunin: o homem em suas dimensões - animal, pensamento e revolta.

Somos animais, é obvio. Temos em nosso pensamento, em nossa cognição a nossa força, o nosso meio de atuação e de sobrevivência em meio a uma natureza que é hostil. E temos dentro de si a revolta, esta força que nos move, que nos faz criar, progredir, questionar, criticar, mudar, transformar e acima de tudo revolucionar!

Concluindo, abandonemos o Lúcifer milenar trazido pelo monoteísmo pedante e capenga, e fiquemos, simbolicamente, enquanto representação para a vida, do Lúcifer de Bakunin: aquele que é humano, pensa e tem dentro de si, sempre, a revolta. Desobedecer é a chave para transformar!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

RARIDADE! ENTREVISTA COM SIGMUND FREUD/1926



Entrevista com Sigmund Freud concedida ao jornalista George Sylvester Viereck nos Alpes Austríacos – 1926. Tradução de Paulo César Souza

S. Freud: Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.
(Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma Montanha nos Alpes austríacos. Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou. Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação).

S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. (Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.) Por que (disse calmamente) deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com sua agruras, chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas - a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?

George Sylvester Viereck**: O senhor teve a fama. Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo - com exceção da sua própria Universidade.
S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais. A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.

George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?
S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liqüidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna. (Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia).
S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.

George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?
S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.
George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?
S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem
constituir uma exceção?

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?
S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás da conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.
S. Freud: É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição. Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.

George Sylvester Vierneck: Isto é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Artamann.
S. Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte. Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós. Neste sentido (acrescentou Freud com um sorriso) pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado. (Estava ficando frio no jardim. Prosseguimos a conversa no gabinete. Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud).

George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?
S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopolizá-la.

George Sylvester Viereck: O senhor teve muito apoio dos leigos?
S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.

George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?
S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente. Minha filha também é psicanalista, como você vê... (Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud, acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxônicas).

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?
S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros. O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

George Sylvester Viereck: Minha impressão é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristã. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. "Tout comprec? est tout pardonner".
S. Freud: Pelo contrário (bravejou Freud - suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu), compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento. (Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, porque ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Una herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça). Minha língua é o alemão. Minha cultura, minha realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu. (Fiquei algo desapontado com esta observação. Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças, que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava-o mais atraente como ser humano. Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!)

George Sylvester Viereck: Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!
S. Freud: Nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza; mas, com freqüência, são também a fonte de nossa força.



George Sylvester Viereck: Imagino, observei, quais seriam os meus complexos!
S. Freud: Uma análise séria dura ao menos um ano. Pode durar mesmo dois ou três anos. Você está dedicando muitos anos de sua vida à "caça aos leões". Você procurou sempre as pessoas de destaque para a sua geração: Roosevelt, o Imperador, Hindenburg, Briand, Foch, Joffre, Georg Bernard Shaw...

George Sylvester Viereck: É parte do meu trabalho.
S. Freud: Mas é também sua preferência. O grande homem é um símbolo. A sua busca é a busca do seu coração. Você está procurando o grande homem para tomar o lugar do seu pai. É parte do seu "complexo do pai". (Neguei veementemente a afirmação de Freud. No entanto, refletindo sobre isso, parece-me que pode haver uma verdade, ainda não suspeitada por mim, em sua sugestão casual. Pode ser o mesmo impulso que me levou a ele. Gostaria, observei após um momento, de poder ficar aqui o bastante para vislumbrar o meu coração através do seus olhos. Talvez, como a Medusa, eu morresse de pavor ao ver minha própria imagem! Entretanto, receio ser muito informado sobre a psicanálise. Eu freqüentemente anteciparia, ou tentaria antecipar suas intenções).

S. Freud: A inteligência num paciente não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho. (Neste ponto o mestre da psicanálise diverge de muitos dos seus seguidores, que não gostam de excessiva segurança do paciente sob o seu escrutínio).

George Sylvester Viereck: Ás vezes imagino se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos o criminoso e o animal.
S. Freud: Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

George Sylvester Viereck: Por quê?
S. Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais desagradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão (acrescentou Freud pensativamente) lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor.

George Sylvester Viereck: Meu cachorro é um doberman Pinscher chamado Ajax.
S. Freud: (sorrindo) Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!

George Sylvester Viereck: Mesmo o senhor, Professor, sonha a existência complexa demais. No entanto, parece-me que o senhor seja em parte responsável pelas complexidades da civilização moderna. Antes que o senhor inventasse a psicanálise, não sabíamos que nossa personalidade é dominada por uma hoste beligerante de complexos muito questionáveis. A psicanálise torna a vida um quebra-cabeças complicado.
S. Freud: De maneira alguma. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.

George Sylvester Viereck: Ao menos na superfície, porém, a vida humana nunca foi mais complexa. E a cada dia alguma nova idéia proposta pelo senhor ou por seus discípulos torna o problema da condução humana mais intrigante e mais contraditório.
S. Freud: A psicanálise, pelo menos, jamais fecha a porta a uma nova verdade.

George Sylvester Viereck: Alguns dos seus discípulos, mais ortodoxos do que o senhor, apegando-se a cada pronunciamento que sai da sua boca.
S. Freud: A vida muda. A psicanálise também muda. Estamos apenas no começo de uma nova ciência.

George Sylvester Viereck: A estrutura científica que o senhor ergueu me parece ser muito elaborada. Seus fundamentos - a teoria do "deslocamento", da "sexualidade infantil", do "simbolismo dos sonhos", etc. – parecem permanentes.
S. Freud: Eu repito, porém, que nós estamos apenas no início. Eu sou apenas um iniciador. Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente. Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.

George Sylvester Viereck: O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?
S. Freud: Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: "Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo”. Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está "além" do prazer - a morte, a negociação da vida. Este desejo explica por que alguns homens amam a dor - como um passo para o aniquilamento! Explica por que os poetas agradecem a "Quaisquer deuses que existam/ Que a vida nenhuma viva para sempre/ Que os mortos jamais se levantem** / E também o rio mais cansado/ Deságüe tranqüilo no mar".

George Sylvester Viereck: Shaw, como o senhor, não deseja viver para sempre, mas à diferença do senhor, ele considera o sexo desinteressante.
S. Freud: (sorrindo) Shaw não compreende o sexo. Ele não tem a mais remota concepção do amor. Não há um verdadeiro caso amoroso em nenhuma de suas peças. Ele faz brincadeira do amor de Júlio César - talvez a maior paixão da História. Deliberadamente, talvez maliciosamente, ele despe Cleópatra de toda grandeza, reduzindo-a uma insignificante garota. A razão para a estranha atitude de Shaw diante do amor, para a sua negação do móvel de todas as coisas humanas, que tira de suas peças o apelo universal, apesar do seu enorme alcance intelectual, é inerente à sua psicologia. Em um de seus prefácios, ele mesmo enfatiza o traço ascético do seu temperamento. Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade, em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância. Se você arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da sexualidade, e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação.

George Sylvester Viereck: O senhor, sem dúvida, foi bem sucedido em transmitir esse ponto de vista aos escritores modernos. A psicanálise deu novas intensidades à literatura.
S. Freud: Também recebeu muito da literatura e da filosofia. Nietzsche foi um dos primeiros psicanalistas. É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, e da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. O Zaratustra diz: "A dor grita: Vai! Mas o prazer quer eternidade Pura, profundamente eternidade". A psicanálise pode ser menos amplamente discutida na Áustria e na Alemanha do que nos Estados Unidos, a sua influência na literatura é imensa, porém. Thomas Mann e Hugo von Hofmannsthak muito devem a nós. Schnitzler percorre uma via que é, em larga medida, paralela ao meu próprio desenvolvimento. Ele expressa poeticamente o que eu tento comunicar cientificamente. Mas o Dr. Schnitzler não é apenas um poeta, é também um cientista.

George Sylvester Viereck: O senhor não é apenas um cientista, mas também um poeta. A literatura americana está impregnada da psicanálise. Hupert Hughes Harvrey O’Higgins e outros fazem-se de seus intérpretes. É quase impossível abrir um novo romance sem encontrar referência à psicanálise. Entre os dramaturgos, Eugene O’Neill e Sydney Howard têm profunda dívida para com o senhor. A The Silver Cord, por exemplo, é simplesmente uma dramatização do complexo de Édipo.
S. Freud: Eu sei e apresento o cumprimento que há nessa constatação. Mas tenho receio da minha popularidade nos Estados Unidos. O interesse americano pela psicanálise não se aprofunda. A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão! Eu prefiro a ocupação intensa com a psicanálise, tal como ocorre nos centros europeus. A América foi o primeiro país a reconhecer-me oficialmente. A Clark University concedeu-me um diploma honorário quando eu ainda era ignorado na Europa. Entretanto, a América fez poucas contribuições originais à psicanálise. Os americanos são julgadores inteligentes, raramente pensadores criativos. Os médicos nos Estados Unidos, e ocasionalmente também na Europa, procuram monopolizar para si a psicanálise. Mas seria um perigo para a psicanálise deixá-la exclusivamente nas mãos dos médicos, pois uma formação estritamente médica é, com freqüência, um empecilho para o psicanalista. É sempre um empecilho, quando certas concepções científicas tradicionais ficam arraigadas no cérebro estudioso. (Freud tem que dizer a verdade a qualquer preço! Ele não pode obrigar a si mesmo a agradar a América, onde está a maioria de seus admiradores. Apesar da sua intransigente integridade, Freud é a urbanidade em pessoa. Ele ouve pacientemente cada intervenção, não procurando jamais intimidar o entrevistador. Raro é o visitante que deixa sua presença sem algum presente, algum sinal de hospitalidade! Havia escurecido. Era tempo de eu tomar o trem de volta à cidade que uma vez abrigara o esplendor imperial dos Habsburgos. Acompanhado da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha à rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus).

S. Freud: Não me faça parecer um pessimista (disse ele após o aperto de mão). Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz - ao menos não mais infeliz que os outros. (O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância).