domingo, 23 de agosto de 2009

20 ANOS SEM RAUL


Neste último dia 21 do mês de agosto completaram-se 20 anos que o Brasil e em especial a música nacional perdera um de seus maiores ícones e fonte de criatividade: Raul Santos Seixas, ou para os mais íntimos "Raulzito".
Raulzito é talvez o único músico nacional que possui em si uma aura mística, uma energia capaz de transformar a sua obra em algo imortal, e como diz a música do brilhante Zeca Baleiro ao se referir aos admiradores do maluco-beleza soteropolitano "jovens, velhos e crianças, malucos e caretas, é quase uma seita.(Toca Raul). Em suma, Raul vive, 20 anos após desaparecer corporeamente. E ele, respeitando certas limitações, imita ao rei do rock'roll Elvis Presley, falecido a mais de 30 anos e que povoará para sempre a música ou mesmo a cultura norte-americana.
Raul é, com certeza, uma espécie de Elvis tupiniquim, e começou sua carreira na Bahia imitando o rebolado do ídolo norte-americano com a banda Raulzito e os Panteras, contudo o que imortalizara o músico fora a sua virada "psicodélica/mística" refletida na parceria com o escritor "mago" Paulo Coelho na elaboração de letras/sucessos como "Gitã", "Mosca na Sopa", "Eu nasci a dez mil anos atrás", "Ouro de Tolo", "Metamorfose Ambulante", "O Dia em que a Terra Parou" e a minha preferida "Sociedade Alternativa".

Em "A Sociedade Alternativa", um verdadeiro grito de liberdade, em meio a um Brasil militarizado, autoritário, católico, careta, Raulzito e Paulo Coelho nos presenteiam com a máxima de Edward Alexander Crowley (lei de Thelema) "Faça o que tu queres, há de ser tudo da Lei". Crowley afirma em "O Livro da Lei":

"
“A Lei é feita da tua vontade. A Lei é a do Amor, o amor sob tua vontade, não há mais a Lei; faça a tua Vontade”


Mas Raulzito não ficou parado em letras místicas, carregadas de um desejo de transformação, de mudança não só em termos sociais, mas de uma mudança ontológica mesmo, de um novo ser, de um devir onde a liberdade seria a regra. E sem mais palavras, nada diz melhor o que foi a obra de Raul senão suas músicas, daí a leitura obrigatória e atenta das letras abaixo:

Raul Seixas - Ave Maria da Rua

No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração

Teu nome é Yemanjah,

E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Ou, minha mãe
Minha filha tu és qualquer
mulher
Mulher em qualquer dia

Bastou o teu olhar
Teu olhar
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Ou ou ou
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar a barra
De te amar

Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz, Ou ou ou
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente

Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão me
assustar
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.


Raul Seixas - Eu Nasci a Dez Mil Anos Atrás
Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:

Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi Cristo ser crucificado
O amor nascer e ser assassinado
Eu vi as bruxas pegando fogo pra pagarem seus pecados,
Eu vi,
Eu vi Moisés cruzar o mar vermelho
Vi Maomé cair na terra de joelhos
Eu vi Pedro negar Cristo por três vezes diante do espelho
Eu vi,

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi conde Drácula sugando o sangue novo
e se escondendo atrás da capa
Eu vi,
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros pra floresta
pro quilombo dos palmares
Eu vi,

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)

Eu vi o sangue que corria da montanha
quando Hitler chamou toda a Alemanha
Vi o soldado que sonhava com a amada numa cama de campanha
Eu li,
Eu li os simbolos sagrados de Umbanda
Eu fui criança pra poder dançar ciranda
E, quando todos praguejavam contra o frio,
eu fiz a cama na varanda

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais

Não, não porque
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
Não, não

Eu tava junto com os macacos na caverna
Eu bebi vinho com as mulheres na taberna
E quando a pedra despencou da ribanceira
Eu também quebrei a perna
Eu também,
Eu fui testemunha do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi brilhar no céu
E praquele que provar que eu tou mentindo
eu tiro o meu chapéu

Eu nasci
(eu nasci)
Há dez mil anos atrás
(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais



Raul Seixas e Claudio Roberto - O Dia em que a Terra Parou

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra
parou)


Raul Seixas - Sociedade Alternativa
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva o novo aeon)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Se eu quero e você quer

Tomar banho de chapéu

Ou esperar Papai Noel

Ou discutir Carlos Gardel

Então vá
Faça o que tu queres
Pois é tudo

Da lei, da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Faz o que tu queres há de ser
Tudo da lei, da lei
Todo homem, toda mulher
É uma estrela
Viva

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Mas se eu quero e você quer

Tomar banho de chapéu

Ou discutir Carlos Gardel

Ou esperar Papai Noel

Então vá
Faça o que tu queres
Pois é tudo

Da lei, da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
O número 666 chama-se Aleister Crowley
Viva

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
Faz o que tu queres
Há de ser tudo da lei

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
Viva
A lei de Thelema

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
A lei do forte, essa é a nossa lei, e a alegria do mundo.

Viva, viva, viva a sociedade alternativa


Um comentário:

  1. Grande Raul!!! Também sou fã número UM do Zeca Baleiro. Muito maravilhoso o teu texto. Bjus

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