quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A REVOLUÇÃO FRANCESA PARTE 9


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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

UM NATAL MAIS INTELIGENTE: DVD PROF. TIAGO MENTA - 62 AULAS, R$ 40,00 (incluso envio por Sedex)

Caros amigos e amigas,
 
já conhecem meu extenso trabalho pela internet, especialmente no canal de vídeo-aulas do youtube
Hoje o canal contabiliza mais de 120 vídeo-aulas, tratando de História Geral, História do Brasil, Sociologia, Filosofia, Antropologia Cultural, Sociologia da Religião. São mais de 140 usuários assinantes, de todo o Brasil, e alguns até de fora do país (como estudantes e universitários de Portugal, Argentina e México).
E a partir de agora, estou disponibilizando a todos vocês o meu primeiro dvd, contendo 62 vídeo-aulas (totalizando cerca de 10 horas de aulas) em formato de arquivo wmv (bons aparelhos de dvd, os mais atuais/que reproduzem arquivos em divix rodam os arquivos sem problema, e qualquer player de vídeo de computador roda sem problema algum).
Este primeiro dvd, incluso envio por Sedex, terá o preço de R$ 40,00.
Para comprar basta você depositar este valor em minha conta corrente:
Tiago de Castro Menta
Bradesco, agência 2416-3, conta corrente 0014752-4
Em seguida envie email confirmando o seu endereço para entrega (para o email tiagodecastromenta@yahoo.com.br).
Em seguida preparo uma cópia do dvd, e após o envio por Sedex eu envio um email confirmando a data de entrega.
 
Grande abraço, prof. Tiago Menta

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O LEÃO CONTADOR DE HISTÓRIAS E O PINGUIM SIBERIANO


Após muitos quilômetros caminhando, o leão contador de histórias enfim chegara ao seu primeiro destino: a gélida Sibéria, em território russo (correspondendo a 58% do território russo, fazendo fronteira com a China, o Cazaquistão e a Mongólia).
Claro que para ali andar, sem acabar morrendo, o corajoso leão havia gasto uma fortuna com roupas de frio, e claro, não dispensava umas garrafinhas de vodca pura (tradicional ali na região).
Na primeira manhã siberiana, nosso leão acordara tarde, bem tarde, como de costume (muitas leoas o criticavam por dormir demais, mas sabe como é, aquele peso todo, aquela comilança de sempre, e logo batia a vontade de dar uma siesta – como chamam os animais hispânicos) e fora até a janela do quarto de hotel onde observara uma concentração de animais em torno de um pingüim.
Curioso, o leão contador de histórias decidira ver o que ali ocorria, mas claro, após o farto e suculento café de manhã – a base de muita carne, afinal eram precisos quilos e quilos de proteína para manter aquela fera em pé.
Ao se aproximar do pingüim, que gritava, gesticulava, ao redor de todos aqueles animais que ali pareciam hipnotizados, o leão decidira dar uma chance para o pequeno animal (coitadinho não voa) dizendo a si mesmo “vou escutar um pouco, vamos ver o que ele tem a dizer”.

“Irmãos e irmãs do reino animal. Estou aqui em missão, em missão espiritual. Trago em minhas mãos a mais pura verdade, a única verdade! Aqui nestas páginas estão escritas as mais sábias e belas palavras, escritas por animais como nós, a milhares de anos, porém todos estavam sob inspiração do “Grande Papai-Desenhista”. Aceitem o Grande Papai-Desenhista como único Senhor, e sejam felizes, senão agora nestas geladas planícies, que seja ao lado do nosso Papai no Zoológico Celestial!”
Os animais aplaudiam emocionados, afinal, quem não sonhava em sair daquele lugar frio, gelado, e cair num Zoológico Celestial, aonde amendoins e imensos bifes caiam de árvores garbosas?
O leão assistia aquilo, atônito. “Chega” (pensou o leão), e postou-se mais próximo ao pingüim, como que para iniciar um inevitável, e sempre necessário, debate.

“Olá pingüim”
“Tu não és daqui, de onde vens estrangeiro?”
“Moro em lugar algum, não pertenço a lugar algum, sou um animal imerso no mundo, na existência.”
“Que existência, esta aqui (e aponta para tudo quanto é lado, questionador)?”
“Sim, por que, o amigo pingüim conhece outra existência senão esta aqui, onde estamos frente a frente?”
“Oras, tu não conheces as glórias do teu senhor Grande Papai-Desenhista? Teu celestial Zoológico, sempre de portas abertas para aqueles que lhe aceitam, que vivem segundo os seus sagrados e corretos princípios?”
“Que princípios? Os deste livro velho, escrito por uma diversidade de animais, em diversas épocas?”
“Não blasfeme contra as sagradas palavras inspiradas por nosso querido e salvador Grande Papai-Desenhista. Podes, ao invés de adentrar ao Zoológico Celestial entrar em lugares terríveis, depois desta vida mentirosa. Não temes a Caverna Escura? Aonde o inimigo, o impiedoso Bode Caído nos tortura para todo o sempre?”
“Peraí, você está brincando. Quer me dizer que há um Bode Caído que conspira contra nós? Que nos deseja o mal, e as piores dores?”
“Sim, e vejo que o nobre leão está tomado pela sedução do Bode Caído. Precisas te libertar imediatamente. Aceite o Grande Papai-Desenhista como teu único senhor!”
“Veja bem, pingüim. De onde venho, me tinham como rei. E depois de tempos percebi que reinar, aqui ou em qualquer lugar, não tem valor algum. Nada mais não animal que ousar reinar sobre os outros. Este seu Grande Papai-Desenhista é um tipo de rei, não é?”
“Sim, ele reina no Zoológico Celestial, próximo aos animais corretos e justos”
“Então ele é uma mentira. Ele não liberta ninguém, ele aprisiona. Os reis aprisionam todos a sua volta, transformando em leis o seu relés prazer. Tu e os outros animais aqui estais aprisionados. Quem necessita libertar-se não sou eu, mas todos vós”
“Blasfemador! Não vês que o Bode Caído domina a tua vida!”
“Pare de falar em fantasias. Não há Bodes do mal ou Papai do bem. Só há o aqui e o agora, o instante, a existência.”
“Vais agoniar nas profundezas da Caverna Escura, junto ao Bode!”
“Pelo visto não tens outros argumentos que este velho e anacrônico livro e tuas fantasias metafísicas”
“Não preciso de argumentos, pois trago comigo a Verdade em minhas mãos. As sagradas Palavras”
“Tu confias em teu Grande Papai-Desenhista?”
“Sim, ele é meu senhor.”
“Então, lhe proponho o seguinte: se tu estás com a verdade, se tu és protegido e ungido de tantas graças por seu Papai como dizes, certamente que tu não só não temerás como também me derrotarás em um combate. Concordas?”
“Ohhhhhhhhhhh”, todos os animais em torno olharam para o pingüim, esperando ver como o seu líder iria agir diante do desafio do infiel, blasfemador, leão.
 “Tudo bem leão. Como é um infiel, tu não sabes, mas há uma história sagrada, aqui neste sagrado livro do qual desdenhas, onde uma formiga fiel vencera um tiranossauro infiel, como tu. Como o Grande Papai-Desenhista esta comigo, vou derrotá-lo e demonstrar a todos aqui como a nossa fé nos recompensa, nos conduz a vitória contra o mal, e como, antes de tudo demonstrar que aquele que crê está entre os vencedores, sempre”
“Certo pingüim.”
“Espere um minuto.” O pingüim abre o livro e entoa, perante os animais, uma espécie de canto em devoção, como que para “Livrá-lo do mal, amén”
“Podemos começar a batalha? Preparado?”
“Sim, infiel”

O leão contador de histórias, humilde, deixou que o pingüim lhe desferisse o primeiro golpe, a fim de ver qual a real força que ele representaria. O leão riu, riu, pois nada, nada sentira, após o golpe desferido pelo pingüim.
“Que estás rindo?”
“Tu queres prosseguir com isso pingüim?”
“Sim, o Grande Papai-Desenhista está comigo, tu vais ceder, tu vais cair, infiel”
O pingüim desfere mais um golpe, e tantos outros, até começar a mostrar cansaço. E o leão, ria. Só ria. Nada sentia.
“Melhor desistir agora pingüim. Tu não reúne mais forças, e olha que eu nem sequer sai do lugar, não lhe encostei um único dedo”
“Tu não vês? Meu senhor é que estas te impedindo de me atacar. Tu não me atacas porque meu Grande Papai-Desenhista estas intervindo por mim, dizendo pouco a pouco a você que nada podes fazer contra mim”
“Pois bem, vou provar agora a você que estás equivocado”
Em seguida o leão, com toda fúria, força, velocidade, estripou o pequeno pingüim em questão de segundos. E como é da natureza de um leão, da voracidade de um leão, ele em seguida comera os restos do pingüim, diante de todos os outros animais que em êxtase gritaram:
“Aleluia Senhor, salve o nosso santo pingüim, mártir dentre os mártires. Que o Zoológico Celestial o receba de braços abertos”

O leão, vendo que a ignorância era total entre aqueles animais, simplesmente desistiu e voltou para seu hotel, onde amanhã sai em direção a outros lugares do mundo.

"Meu Grande Bem" - Roberto Carlos

"Meu Grande Bem" 1964 - Roberto Carlos/álbum É Proibido Fumar



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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Filosofia do Lobisomen

Quando era adolescente já demonstrava o maior interesse pelos filmes de horror, de certa maneira me divertia com todo aquele sangue jorrando na minha televisão, e como eram os idos da década de 80 os que “comandavam geral” eram os filmes dos assassinos em série, como Jason, Freddy, Myers, etc.
Contudo o que mais me chamava à atenção, nestes filmes de horror, não eram os assassinos em série (típico de um mundo onde a violência urbana já demonstrava ser o verdadeiro e real temor de todos os cidadãos modernos), mas, sim aqueles personagens clássicos, que ainda sobreviviam à duras penas na filmografia do terror: os vampiros, os fantasmas, as bruxas, os monstros, e em especial os homens-lobos/Lobisomen/Werewolf.
E são sobre os homens-lobos ou Lobisomens que quero tratar aqui neste ensaio.

Como o nome já indica o Lobisomen é um ser humano capaz de ser tornar um animal, nesta ocasião, em um lobo. O fator que determina esta transformação seria uma espécie de maldição, que é sempre ativada quando a pessoa amaldiçoada está na presença da lua cheia.
Hoje, já adulto e cônscio de tantas coisas, começo a perceber as nuances que sempre me fizeram gostar do personagem Lobisomen. Ele tem elementos filosóficos, sim, e profundos, na essência da construção do personagem.
Um Lobisomen é um ser humano que se torna animal. E daí eu faço a seguinte reflexão: queremos voltar a nossa condição de animalidade? Sim, queremos.
Transformar-se em um lobo é ter a capacidade de voltarmos no tempo, de voltarmos em nossos primórdios, e voltarmos a sentir a nossa existência de maneira mais natural, animalesca e, portanto, próxima da mãe natureza.
Nos meus últimos vídeos lançados no youtube venho apresentando a teoria política do filósofo suíço Jean Jacques Rousseau, que valorizava e muito o chamado estado de natureza dos homens, onde vivíamos em pleno gozo de nossas liberdades naturais (depois destruídas pelo surgimento da propriedade privada e da conseqüente formação da sociedade civil pelas vias do contrato social).
A minha tese é de que o personagem Lobisomen resgata um pouco deste nosso desejo, profundo, de voltar ao nosso estado natural. De recuperação de nossas liberdades naturais.
Vamos fazer um exercício de imaginação: imagine-se diante da lua (elemento distante do homem, luminoso, como que tornado objeto de transcendência e transformação) e eis que de repente suas roupas se rasgam por completo, seus sentidos se aguçam completamente, ganha força, velocidade, um paladar apurado e devastador (com o crescimento exagerado dos dentes caninos), você já não tem mais linguagem, se vê uivando, e com uma sede de liberdade nunca antes sentida (você simplesmente sai pelo campo em busca de satisfação plena, ou como costumo sintetizar, os dois L/2L: Liberdade e Luxúria).
A sensação é ótima!
Tornar-se um lobo é exercer o sonho de abandonar o artificialismo da vida humana (suas roupas rasgadas, o corpo nu em pelos, a perda da linguagem, a ética deixada de lado em favor do puro instinto – rumo a liberdade e luxúria), caindo, de cabeça, em um naturalismo animalesco.
E você, que tal transformar-se em lobo como eu?
Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!





REVOLUÇÃO FRANCESA PARTE 8 - ROUSSEAU

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Surge o Leão Contador de Histórias!

Para os que ainda não sabem está por ai, em cima de nossos muros, miando incessantemente, um dito gato filosófico.
O bichano, ou felino, como queiram, entre lixeiras, brigas na rua, acasalamentos, está entre nós a algum tempo, desfilando elegância, sabedoria.
E logo a notícia se espalhou entre o reino animal.

Sabe-se que a milhares de anos, perto do mar Egeu, haviam moscas filosóficas, que de tão pertubadoras foram condenadas ao suicídio, bebendo um licor que naquelas bandas chamavam de cicuta. Agora gato filosófico, isso é digno de novidade, algo nunca antes visto entre os animais.

Quando a notícia chegou aos ouvidos de outros felinos, tão vaidosos, elegantes, e sábios como o dito gato filosófico, um deles logo se rebelera e disse aos demais "Este gato não pode ficar ai miando sozinho assim! Vou me comprometer a ajudá-lo. Tenho força, tamanho, sabedoria, coragem, e um berro tão forte que creio também ser digno de ser ouvido por todos do nosso imenso reino animal".

Os outros animais não podiam duvidar, afinal como desencorajar um felino daquele tamanho, facilmente com mais de 100 kg de peso, e unhas que poderiam fatiar a todos como manteiga.

"Porém, não é de meu feitio querer competir com o referido gato. Logo, não poderei filosofar como ele. Mas como sabem, pela minha larga experiência nestas selvas, sou daqueles que tem muito a contar, sobre o passado dos povos, sobre as pessoas que por este chão pisaram e deixaram as suas marcas. Serei eu um Contador de Histórias!"

Um tigre, assistindo aquela cena, indagou: "Mas, e nós? Tu vais nos deixar por aqui? Tens que governar as selvas, tens que comandar sobre todos os animais!"
"Eu, não, não. Estou abdicando desta condição, sois todos livres, a partir de agora vos liberto de qualquer tipo de domínio, que não o de si mesmos. Parto agora, e assumirei a minha nova condição, na realidade assumirei agora as minhas próprias escolhas, de ser um Contador de Histórias e não mais um rei entre vós. Inclusive, digo-lhes uma última coisa - que entre nós não mais exista reis, este é meu último e derradeiro comando".

E assim, o contador de histórias partiu ao encontro do dito gato filosófico. Não para competir com ele, nem para matá-lo, mas para juntar-se a ele e uma jornada nobre: iluminar o mundo dos animais, com palavras, mas também com ações.

Segue seu rumo LEÃO CONTADOR DE HISTÓRIAS

UMA LÓGICA: TIAGO MENTA (SURFISTA PRATEADO) vs PAULO GHIRALDELLI JÚNIOR (GALACTUS)


Pois bem, chegou a hora de colocar em "pratos limpos" o distanciamento entre prof. Tiago Menta e Paulo Ghiraldelli Junior.
Quero deixar claro que não o tenho como inimigo, como alguém a ser enfrentado, até porque o Paulo Ghiraldelli não precisa ser levado tão a sério assim.
Mas nos distanciamos, e muito, diria que anos-luz de distanciamento, e isto foi atitude minha, só minha, diante de um coleguismo que começou em 2007 e que por algumas razões não mais avançou.

2007 - the beginning "o começo"
Conheci o Paulo de maneira aleatória, pelo youtube, com alguns vídeos tratando de filosofia, e ali, o filósofo deixava endereço de email e de seus sites (como o filosofia.pro, o blog dele, etc). O procurei, de boa vontade, e iniciamos um coleguismo bacana.
De início me incentivava a produzir, lia minhas coisas, dizia que eu escrevia bem e que devia por as caras ai mesmo, contribuindo com o projeto dele no Cefa, e até na construção de uma universidade no interior paulista, no chamado Vale da Uva.
Conversávamos muito (msn especialmente), participava ativamente do filo das 11, e aquilo tudo me fez germinar uma ideia: criar, como o Paulo fazia no youtube, um canal de vídeo-aulas de História - a minha especialidade, visto ser bacharel e licenciado em História desde 2006, e estar em sala de aula desde 2004 ainda como universitário. Ali nascia o meu canal de vídeos, hoje assinado por mais de 140 pessoas do Brasil todo, totalizando mais de 20 horas de aulas de história, filosofia, sociologia, antropologia (alguns vídeos chegando a 9.000 acessos, como o tratando da teoria weberiana sobre o Capitalismo Moderno).

2008 - primeiras desconfianças
Lembro-me como ontem, Paulo dizia que a universidade não era mais lugar para ele, e que ele estava bem assim, fazendo livros e mais livros (80% tratando de História da Filosofia), pois assim estaria sendo definitivamente um filósofo de verdade, não um professor de Filosofia.
Isso deu um coceira aqui, ué, o Paulo começava a demonstrar um certo desdém pela profissão de educador, ele mesmo nunca se apresentou como "professor", e o que é o filósofo que nada tem a ensinar? Para mim é apenas um fofoqueiro erudito, alguém que opina sobre tudo, mas tudo não sai da mera opinião.
O historiador, para pegar o meu caso particular, se realiza como educador, e vou além, o verdadeiro intelectual é aquele que se propõe a educar, sempre, não no sentido de transmitir conhecimento por telepatia, mas no sentido de estar junto as pessoas, de tentar construir o conhecimento, e o Paulo já deixava claro a sua despreocupação com o conhecimento, e pior, em construir algo com outras pessoas.
Hoje, Paulo Ghiraldelli está de volta as aulas, as salas de aula que ele até então tanto desdenhava, trabalhando em uma universidade no Rio de Janeiro (na pós-graduação, se não me engano).
Outra coisa que causava desconfiança - Francielle, ou como ele mesmo adjetiva "a deliciosa professora de Filosofia Francielle" ou simplesmente ou secretariamente a "Fran"; sua esposa, a quem ele sempre fez questão de apresentar como objeto, como troféu, como submissa e não como parceira. Oras, que filósofo é esse que trata a mulher dessa forma? Vários, como Nietzsche (que dizia que deveríamos tratar a mulher na base de chicotadas), mas espera ai, Nietzsche viveu numa Alemanha oitocentista, Paulo não, não, não se justificava agir assim com a pobre menina (tenho realmente pena dela, que nunca poderá entrar numa sala de aula como professora de Filosofia, de tão exposta que fora pelo marido - eu mesmo já vi, e talvez você ai também, a deliciosa professora peladinha) - e quer piorar, em seus textos o Paulo fala que Nietzsche tratava a mulher, o feminino de uma maneira diferenciada, mas não machista! É de dar pena (e a história mostra que 99% dos homens do século 19 eram machistas sim, até por uma questão de cultura - mas o Paulo não frequentou as aulas de história no ensino básico, talvez devia estar lendo o Catecismo Católico/instituição que ele não critica, não tem argumentação sobre, até por ser ex aluno da PUC).

2009 - the end "o fim"
Mesmo com tantas desconfianças correndo soltas, eu era tolerante, e dava uma chance pro cara. Pensava, uma hora ele sai dessa crise de meia idade e começa a voltar a si.
Mas não, e por duas razões: Justtv e Rede Social.
Estas duas propostas ghiraldellianas selaram o nosso distanciamento, e a minha convicção de que Paulo Ghiraldelli Junior não é filósofo, é livreiro, é marketeiro, um cara de uma vaidade do tamanho do cosmos, e de um autoritarismo sem tamanho (depois se diz democrata, como se bater palmas para este modelo político-social fosse algo inteligente).
Com sua rede social ele construir tudo, menos uma rede. E o social ali é um só: girarmos todos ao redor do Deus único, do Jeová tupiniquim, e todos nós contribuindo com o filósofo, na construção de não sei o que é, mas sei o que não é - a construção de um Brasil melhor, de um mundo melhor, isso não, ele já perdeu toda a fantasia, toda a utopia. E um cientista, que não sonha, não é um cientista, é um robô, uma engrenagem a serviço da grande máquina moedora das consciências humanas.
Surgem casos e mais casos de expulsões em sua rede, bastava discordar, brincar, criticar, bastava não gravitar em torno, não bater palmas como uma foca cega, e pronto - lá vinha o cartão vermelho do filósofo e ainda por cima os xingamentos, os palavrões, a homofobia pedante - todos eram ou burros ou veados (animalizando a todos ali que se negassem seguir a sua ortodoxia vaidosa e auto-promocional).
E o Justtv? Hahahahahaa, o que de uma boa ideia, através de um canal alternativo via net, apresenta-se como a verdadeira banalização de tudo o que se compreende como filosofia. Tentei ajudá-lo com material próprio para enriquecer o programa, o debate ali colocado, e que usava: as palhaçadas de Alexandrelli, verdadeiro papagaio de pirata da internet brasileira. Ali, com a filosofia banalizada, com a rede social sem propósitos sociais mas de auto-promoção, com o machismo pedante, com a homofobia pedante, com o desejo de poder (dai a crítica a tudo e a todos, especialmente ao governador José Serra; mas Paulo, bater em bêbado, até minha avó) dia-dia apresentado especialmente via twitter, chegou o momento de dizer ao Paulo Ghiraldelli Junior (Galactus da Filosofia Brasileira): adiós!

E assim, hoje, como Norrin Rad (O Surfista Prateado), estou aqui, na nossa rede social, repito, NOSSA rede social. LIVRE, voando pelo espaço, pelo cosmos, assumindo e reassumindo a minha condição de educador (no sentido dialético do termo), sempre. E tenho orgulho de tê-los aqui comigo, não como meus satélites, não como meus aprendizes, mas como meus AMIGOS, CAMARADAS, com o único propósito de pelo menos querer, querer com sangue nas veias e nos olhos, fazer um mundo melhor.

Abraços do eterno camarada, prof. Tiago Menta.

sábado, 21 de novembro de 2009

Adeus Companheira Carmela Pezzuti (1926-2009)

É com grande pesar que recebo hoje a notícia da morte de Carmela Pezzuti, símbolo de resistência e luta contra o governo militar e autoritário brasileiro, e além, símbolo de mãe, mulher, que lutou como uma leoa pelos filhos Ângelo e Murilo (que participaram ativamente da luta armada).
Conheci Carmela Pezzuti ainda como universitário, quando estava em plena graduação como historiador, dentro de um grupo de pesquisa liderado pela prof. dra. Heloísa Greco/UFMG tratando sobre a luta armada em Belo Horizonte nos anos 60/70.
E dessas coisas que ninguém entende aquela mulher, forte, cheia de princípios, foi se encantar com o amigo aqui que vos fala, até pela semelhança, dizia ela, minha com seu filho Murilo (o Murilinho, como ela se referia).
Lamento muito a perda de Carmela, e que seu exemplo de vida esteja sempre entre nós, entre todos aqueles que lutam por um mundo melhor, e que fazem isso com coragem.
Adeus companheira, 
prof. Tiago Menta

Segue abaixo um pequeno texto biográfico de Carmela Pezzuti, retirado do site do Instituto Helena Greco, aqui de Belo Horizonte

Carmela Pezzuti, mulher extraordinária por ter nascido duas vezes: a primeira, foi em Araxá/MG, em 1926: a segunda, anos depois, em 1968, quando entrou na organização denominada COLINA (Comando de Libertação Nacional) que tentava derrubar o regime militar. A partir daí, a vida de Carmela não foi fácil. Entrava e saia das prisões onde era torturada, com muita violência, mas os torturadores não conseguiam ouvir de sua boca nenhuma denúncia que pudesse por em risco a vida de seus companheiros e de seus filhos.
Seus filhos, Ângelo e Murilo, eram os meninos com quem ela lutou toda a vida. Mas o que é interessante é que ela lutou para conseguir a libertação do seu país, com muita coragem e firmeza, sem nunca perder o gosto pela vida.
Em janeiro de 1969, foi presa pela primeira vez e levada para a Penitenciária de Mulheres em Belo Horizonte/MG, onde foi longamente interrogada e posta na “surda”. Foi solta e saiu em liberdade condicional. Entretanto, seus filhos que também estavam presos em BH foram transferidos para a Vila Militar no Rio de Janeiro/RJ, onde sofreram novos interrogatórios, torturas e, em seguida, foram transferidos para a Penitenciária de Presos Políticos em Juiz de Fora/MG.
A fim de continuar a luta Carmela se juntou ao grupo Var Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária) no Rio de Janeiro e com o codinome “Lúcia” foi descoberta e presa em abril de 1970. No quartel de Polícia do Exército foi duramente torturada com choques elétricos e espancamentos.
No mesmo ano de 1970 foi seqüestrado o Embaixador Alemão e, em troca dele foram libertados, entre outros presos, Ângelo e Murilo. Em dezembro, em troca do Embaixador Suíço, também seqüestrado, Carmela saiu da prisão banida e exilada para o Chile sem nunca ter sido julgada e condenada.
No Chile Carmela fez todo tipo de trabalho, estudou até que chegou o Golpe de Estado em 11 de setembro de 1973, obrigando-a a se refugiar na Embaixada da Itália enquanto os filhos entravam na Embaixada do Panamá.
Foi assim que começou a vida de exilada de Carmela na Itália e dos seus filhos na França. Em Roma ganhava sua vida trabalhando como esteticista sem deixar de participar dos comitês políticos italianos e brasileiros. Ia muitas vezes a Paris para visitar os filhos e foi durante uma destas viagens que Ângelo morreu em um acidente de motocicleta enquanto voltava para casa após o trabalho. O choque e a dor foram terríveis. No dia do velório de Ângelo no Père Lachaise reuniram-se os exilados de toda a Europa para dar a última homenagem ao querido guerrilheiro.
Carmela voltou para Roma destruída moral e fisicamente, mas continuou a trabalhar levando à frente a luta para conseguir a Anistia para todos os perseguidos políticos brasileiros. Em 1979 a Anistia foi decretada no Brasil e Carmela voltou ao seu país de origem deixando em Roma muitos amigos e admiradores que tinha conseguido envolver na luta para a libertação do seu País.
Em Belo Horizonte trabalhou como esteticista e como voluntária na Associação de Apoio a Creches Comunitárias – “Casa da Vovó”. Seu filho Murilo foi para o Mato Grasso onde fundou a Associação de Apoio às Comunidades Carentes do Mato Grosso. Atendendo ao chamado de seu filho Carmela foi se juntar a ele em 1984 para desenvolverem o trabalho com os camponeses, até que no ano 1990 ela assistiu a trágica morte do seu segundo filho.
Faleceu aos 82 anos, em Belo Horizonate, no dia 9 de novembro de 2009, deixando muitas saudades e , sobretudo, exemplo extraordinário de combatividade e coragem para todos aqueles que a conheceram e acompanharam a sua trajetória de luta.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

REVOLUÇÃO FRANCESA PARTE 7 - JOHN LOCKE

Áurea Machado entrevista Prof. Tiago Menta


Esta entrevista faz parte de um roteiro científico elaborado pela universitária Áurea Machado, realizada na noite do dia 17/11/2009.

1- Como ou porque surgiu o desejo de fazer história e lecionar?
Desde o ensino médio vinha despertando em mim o gosto pelo conhecimento histórico, inicialmente como curiosidade, depois veio aquela necessidade de aprofundamento, de saber mais, até por desconfiar, sempre, que as coisas não são o que parecem ser.
Já lecionar é algo que talvez venha do gosto pelos estudos, da alegria de ir a escola ainda garoto. O ambiente escolar sempre me motivou, me conquistou, de certa maneira eu fui querendo fazer parte disso.

2- Houveram momentos durante sua formação acadêmica que o fizesse refletir se realmente a docência lhe faria feliz e realizado enquanto ser humano?
Não, não estava estudando na academia em busca da felicidade pessoal, não me iludo com estas coisas. Sei que a felicidade é momento, é instante. Porém a realização sim, a cada conhecimento, a cada descoberta, a cada debate, a cada passo que dava, aprofundando nas mais diversas questões, ai sim, me sentia realizado como ser humano - consciente, liberto.

3- Você aconselharia um aluno seu a seguir este caminho de educador? Porque?
Primeiro eu perguntaria se ele estaria disposto a enfrentar as mais diversas problemáticas que envolvem ser um educador no Brasil, hoje em dia. Se ele, conscio das agruras, que não são poucas, manter a vontade, a chama nos olhos, o sangue nas veias por educar, ai sim, eu diria siga a mesma carreira que vosso mestre.

4- Como você avalia o atual sistema de ensino fundamenta/médio no Brasil?
Péssimos, desanimadores. E os índices internacionais, como o Pisa, mostram isso. A educação brasileira, em todos os níveis, mas especialmente na educação básica, sofre de males congênitos, crônicos. Que não envolvem só a formação de professores, mas o papel da escola na sociedade pós-moderna, a valorização da docência mas também da educação como mecanismo, real, de transformação humana e principalmente de ascensão social.
A juventude sente que não está adiantando muito estudar, que não bastam anos na escola e depois sair no mercado de trabalho desqualificado e desmotivado pelo subemprego ou mesmo para a vida de salário mínimo. Por isso o crime, o ganho rápido, atrai tanto.

5- Em relação a sua metodologia em sala de aula você acha satisfatória sua atuação? O que o faz pensar assim?
Creio que sim, e é difícil falar muito de si mesmo, pode parecer vaidade, mas sinceramente dentro de sala de aula dou sempre o meu melhor.
Como método procuro ser o mais aberto possível, levando ao aluno a certeza de que o estudo, a aprendizagem, não só ocorre ali naquele espaço - mas transcende aquilo tudo. Ele precisa ler mais, ele precisa ver sentido nas aulas e nos conteúdos, fazendo a necessária ponte ou transposição didática para a realidade social ou mesmo da contemporaneidade que envolvem aqueles jovens ali na minha frente.
Que eu não sou um receptáculo, mas um orientador, uma referência, que está ali para ajudá-los a "andar de bicicleta" (eu só empurro a bike, ele anda).
Comigo os alunos tomam contato com a história pelas vias da exposição, do debate, das múltiplas leituras (não em quantitade, mas em tipologia - desde charges, quadrinhos, literatura, música, arquitetura, artes plásticas) e claro, pela complementação com textos, vídeos, internet (e eu tenho um extenso trabalho na rede, que os auxiliam de certa forma, em tudo aquilo que um dia fora colocado em sala de aula).

6- Continuando sobre sua atuação enquanto docente, você acha que os alunos se sentem motivados, interessados nas aulas no que depende de você?
Não é o suficiente. Nós professores estamos perdendo a batalha com muitas outras fontes de informação, e estas estão conquistando a atenção dos jovens pelo seu dinamismo, instantaneidade.
Que é bom, como horizonte extendido, porém é ruim visto que a aprendizagem não se faz mecanicamente, rapidamente, esta é um processual complexo e que envolve muitos fatores.
E outro combate duro, muito duro: a realidade social. O professor faz queda de braços com esta diariamente, e temos que nos habituar a perder. É o aluno que chega diante de você com problemáticas tão grandes, complexas, que ultrapassam a sua condição de educador e quando você se dá conta está sendo mais que educador, está sendo o único referencial daquele jovem. O único que está ali para lhe dizer os necessários "nãos", e muitas vezes somos agredidos por isso.

7- Sobre os assuntos e temas de história, quais você acha que mais os alunos se interessam e porque?
Eles se interessam mais pela via do estranhamento, de realidades históricas distantes, diferentes das vividas hoje, mas que de alguma forma se conectam com algum aspecto do mundo contemporâneo (os tempos históricos são múltiplos, e se interrelacionam no presente).
Os meus alunos curtem muito quando apresento as sociedades antigas, seus costumes, sua organização, seu modus vivendi - como na Roma dos césares (sem perder o foco com o hoje, com o vivido - como neste exemplo, que eventos, fatores, mentalidades, romanas, de certa maneira permanecem nos dias atuais? Posso pegar os anfiteatros romanos e imperiais e compará-los com os jogos de futebol e tudo o que gira em torno destes e tantos outros espetáculos de massas).

8- Como geralmente funciona sua didática de avaliação? O que mais você prioriza nesse processo?
A avaliação deve ser descentralizada. Deve reunir uma série de critérios, e cada qual você dá o seu valor em termos quantitativos.
Exemplo utilizado por mim: atividades pedidas (extra-classe) + participação em sala de aula + assiduidade escolar + disciplina escolar (comportamento em sala, educação com colegas, professores e funcionários, uniforme escolar, material didático) + atividades em equipes ou coletivas + provas.
A minha prioridade é exatamente descentralizar, porque ai você avalia em uma totalidade.

9- Qual período da História mais te envolve e te faz crescer o sentimento por esta disciplina?
Como todo historiador temos a nossa "menina dos olhos", aquele tema ou temporalidade ou mesmo série de eventos que acompanhamos mais por curiosidade ou por uma espécie de afinidade intelectual.
No meu caso é a História Antiga, seja no Oriente ou no Ocidente. As velhas civilizações estão mais vivas entre nós do que podemos imaginar, afinal o ser humano será sempre o ser humano.

10- Há alguma frase ou pensamento que você leva para a vida e que poderia transmiti-la?
Esta é difícil, pois são milhares e milhares de frases que vem a cabeça. Mas fiquemos com esta aqui, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche
"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O QUE É O AMOR EXISTENCIALISTA?


Diz a filosofia existencial que não há essência, tão somente a existência (daí a incompatibilidade com a metafísica e derivados, como a noção de um criador divino).
Mas, como transpor este conceito para a noção de "amor"? Primeiramente, até em termos metodológicos, é necessário que abandonemos o amor romântico (construído no século XIX, e que pressupõe essencialismos e possessividade). E por fim aceitarmos que não existe o "Amor", mas amores e formas de amar, que são históricas e até ideológicas.
O amor existencial é aquele que se admite livre, desprovido de essências e de qualquer manifestação de posse, realizando-se sempre no encontro, no instante, no existir puro e simples.
Ele não tem a solidez (mesmo que pretensa), o compromisso, do amor de pertencimento, do amor de classe, do amor romântico, e nem a fluidez, o desencontro, do amor líquido pós-moderno (manifestos no ato de ficar ou mesmo do sexo casual); ele é encontro, ele é instante, que se repete, que se torna um eterno ir e vir.
Por ser encontro o amor existencialista pressupõe, como método, que homem-mulher definam o locus amoroso. O lugar, o habitat, aonde aquele amor irá se manifestar. Pode ser um apartamento à venda, como no filme "O Último Tango em Paris", um quarto de hotel como no romance sartriano de "A Idade da Razão", etc.
Creio que o amor existencialista só pode ser saboreado por pessoas que possuam a força interior ou, e formação libertária para romper com os grilhões do amor romântico, especialmente tido, ideologicamente, como o único válido, e até mesmo como o único moralmente aceito pela sociedade.
Façamos um diferencial conceitual e histórico do amor, ou melhor, das diversas formas de amar:

1) AMOR DE CLASSE OU AMOR DE COMPROMISSO (ESTADO, RELIGIÃO, FAMÍLIA)
Épocas históricas: Antiguidade, Idade Média e Renascença.
Lógicas: conotação político-econômica, social, para o casamento entre homens e mulheres.


2) AMOR ROMÂNTICO OU ENCANTAMENTO INDIVIDUALISTA
Épocas históricas: Modernidade, Século XIX em diante, Mundo Burguês.
Lógicas: conotação de subjetividade (tomada como valor), posse, interesse pessoal, onde o indivíduo é o cerne da relação com o outro (como ser que deseja e quer o outro para si).


3) AMOR EXISTENCIALISTA OU AMOR DE ENCONTRO
Época histórica: entre as décadas de 30 e 60 do século XX.
Lógicas: conotação de liberdade individual (como ser, como existente), de valorização da momentaneidade da vida, que sempre se repete.


4) AMOR LÍQUIDO PÓS-MODERNO OU AMOR DE DESENCONTRO
Época histórica: anos 90 do século XX e século XXI.
Lógicas: fluidez, casualidade, ode ao prazer imediato (dialética com a vida marcada pelo imediatismo), ampliada cada vez mais pela informatização da vida humana, desumanidade amorosa.

domingo, 8 de novembro de 2009

Robespierre e Danton discutem os rumos da Revolução Francesa.

Esta conversa entre Robespierre e Danton é trecho da obra cinematográfica "Danton e a Revolução" estrelada pelo ator e astro francês Gerard Depardieu (trecho abaixo do texto).

DANTON - Você isola a revolução, você a congelou! A cada dia recuamos mais.

ROBESPIERRE - O que quer que eu faça?

DANTON - Volte para a Terra, faça o que é correto.

ROBESPIERRE - Interrompo o ímpeto revolucionário e você mata a revolução.

DANTON - O povo quer comer e dormir em paz. Sem pão, não há leis, liberdade, justiça. Mande a merda os Comitês! Eu admiro você. Eu seguiria você mas não a qualquer custo.

ROBESPIERRE - Eu quero providenciar condições dignas de vida para 80% das pessoas. Isso é tudo.

DANTON (debochando e rindo) - Não faça discursos aqui!

ROBESPIERRE (indignado) - O quê?

DANTON - Não é tudo o que quer. Os homens não permanecem no poder por tanto tempo (provocando).

ROBESPIERRE (desafiando) - Você aspira ao poder?

DANTON - Eu não preciso, eu já o tenho. O único e real poder é aquele que vem do homem na rua. Eu o compreendo, ele me compreende. Nunca esqueça isso!

ROBESPIERRE - Eu não esqueço, mas não esqueça você que para torná-los felizes eu terei que parar com tudo.

DANTON (se levanta e parte para cima de Robespierre, esbravejando) - Você quer fazê-los felizes? Você não sabe nada sobre o povo! Quem pensa que é? Olhe pra você! Você não bebe, você está coberto de pó de arroz, espadas fazem você desmaiar, e dizem até que nunca tivera uma mulher!! Você fala para quem? Fazer os homens felizes!? Você nem é um homem. Eu vou te mostrar as pessoas, vamos andar um pouco pelas ruas.


domingo, 18 de outubro de 2009

REDE SOCIEDADE ALTERNATIVA - COM PROF. TIAGO MENTA (só falta você)




Então pessoal, entrem e façam deste espaço um espaço de todos nós, uma Sociedade Alternativa:
http://redeproftiagomenta.ning.com

Entre e acesse, torne-se um membro ativo de uma nova proposta, original e revolucionária.

sábado, 17 de outubro de 2009

DEIXA EU FALAR FILHO DA PUTA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Mais uma música sensacional, quando o Raimundos ainda existia e mantinha uma chama de rebeldia no rock brasileiro, com muita originalidade.
Segue, como de costume quando trabalho com música, o vídeo e a letra logo abaixo.
Para transformar é preciso rebeldia, sempre!




"DEIXA EU FALAR" - RAIMUNDOS

"É inverno no inferno e nevam brasas
Por favor escondam-se todos em suas casas
Pois o anjo caído voa com novas asas
Raimundos, Natirus, Black Alien
Quebrando a espinha de filhos da puta
Como num mergulho de águas rasas"

Foi mal, foi mal, foi mal ae véi
Se eu falei um monte de coisa que você não gosta
Com o microfone eu tenho a faca e o queijo
Olho o jornal, eu ouço rádio, eu só ouço bosta
E na TV eu não gosto de nada que eu vejo

Uma camisa de força tamanho mirim
Vai tem que me explicar tim-tim por tim-tim
Por que a lei só se aplica a mim
Perigo pra sociedade é o que me dizem
E penso comigo mesmo: porque não eu
Pra cuspir o pensar e taxarem de mim

"É inverno no inferno e nevam brasas
Por favor escondam-se todos em suas casas
Pois o anjo caído voa com novas asas
Raimundos, Natirus, Black Alien
Quebrando a espinha de filhos da puta
Como num mergulho de águas rasas"


Liberdade de expressão
Deixa eu falar filha da puta! Expressão

A livre expressão é o que constrói a nação
Independentemente da moeda ou sua cotação

Deixa eu falar filha da puta! Expressão

Preste atenção no que eu vou dizer
Consciência e rebeldia é o que eu preciso ter
Pois minha mente pede um HxCx ou reggae
A mensagem vem das ruas, não dá pra esconder

Eu tenho um segredo, já não tenho medo
Viver não vale nada se eu não me expressar
Seja certo ou errado, de cara ou chapado
Quem é calango do cerrado nunca vai muda

Liberdade de expressão
Deixa eu falar filha da puta! Expressão

A livre expressão é o que constrói a nação
Independentemente da moeda ou sua cotação

Deixa eu falar filha da puta! Expressão

De junho a junho eu nasço,
Eu morro de março a março
Presencio cenas impossíveis de traduzir para o cinema
Não perco atuações e atos
Nem quando abaixo para amarrar os cadarços
Espaço, espaço, preciso de espaço
Para mostrar para esses covardes
Seu crepúsculo de aço
Imperial, como Carlos eu passo
Conexão nordestina até Niterói
Morte e Vida Severina

Passando por Brasília, reis... (caralho!)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

SEXO, LIBERDADE E ANARQUIA

Para quem ainda não conhece o Ska-p é uma banda espanhola que mistura dois ritmos, o ska e o punk rock, o primeiro de origem jamaicana (claros elementos caribenhos) - dai o próprio nome da banda "Ska-p".
A banda foi formada em 1994 e tem como integrantes: Pulpul, como vocalista e guitarra, Toni Escobar, guitarra e vocal, Julio no baixo, Kogote, teclados e vocal e Pako na bateria.
Abaixo segue o vídeo daquela que considero a melhor música da banda, traduzindo: "Sexo, Liberdade e Anarquia". Depois seguem-se as letras, no original em espanhol e depois a tradução para o português.
Por fim, parafraseando a música "Rebelião contra a Hipocrisia".
Abraços, prof. Tiago Menta.



Cada dia me revientan mas
las putas leyes religiosas, su conducta moral
su mejor remedio al sida es la virginidad

La religion desde la inquisicion
ejerce poderosa y dura represion
a todo lo que se llama sexo & libertad

CORO
AY;AY;AY;AY;AY (x3)
Disfruta de la vida y a follar que son 2 dias
y que nadie te reprima
rebelion contra la hipocresia

Hoy en dia en nuetra generacion
lo que dicta el catesismo no lo cumple ni Dios
ni siquiera se presume del conservador

He aqui la hipocresia moral
la que sufrieron nuestros viejos sin placer carnal
delimitando su sexo para procrear

CORO

Sexo libertad, anarquia sexual, sexo libertad,
anarquia , anarquia (x2)
sexo, libertad, sexo, libertad, sexo, libertad, sexo,libertad
sexo,anarquia, sexo, anarquia

Nadie te debe imponer jamas
has lo que quieras con tu cuerpo en plena libertad
masturbacion, penetracion, practica sexo oral

Y si luchas por la libertad
no se te olvide hermano el homosexual
que ya sufrieron bastante en clandestinidad

CORO

sexo, libertad,anarquia......

esta es mi cabeza, mi cerebro, mis orejas,
yo ya no tengo ni moralidad
disfruta de la vida
y a follar que son 2 dias
y que nadie te reprima
rebelion contra la hipocresia

IROS A LA MIERDA Y DEJADNOS DEUNA VEZ EN PAZ


TRADUÇÃO (por Prof. Tiago Menta)

Cada dia me arrebentam, mas
As putas leis religiosas e suas condutas morais
Seu melhor remédio para a Aids é a virgindade

A religião, desde a Inquisição
Exerce poderosa e dura repressão
a tudo que se chama sexo e liberdade

Coro: ai, ai, ai, ai
Desfrute da vida e a trepar, que são dois dias
e que nada te reprima
rebelião contra a hipocrisia

Hoje em dia, em nossa geração
Os que ditam o catolicismo não o cumprem nem deus
Nem sequer é o que presume conservador

Há aqui a hipocrisia moral
A que sofreram nossos velhos sem prazer carnal
Delimitando seu sexo para procriação

Ninguém deve te impor, jamais.
Faça o que quiser com seu corpo em plena liberdade
Masturbação, penetração, prática de sexo oral.
E se você luta pela liberdade
E não se esqueça irmão, os homossexuais
Que já sofreram bastante na clandestinidade

Está em minha cabeça, em meu cérebro, em minhas orelhas
Eu já tenho minha moralidade
Ai, ai, ai, ai
Desfrute da vida e a trepar, que são dois dias
E que nada te reprima, rebelião contra a hipocrisia

Vão à merda e nos deixem de uma vez em paz!

domingo, 11 de outubro de 2009

Lúcifer: uma análise anarquista.

É comum, deste o Zoroastrismo (primeira religião conhecida) a milhares de anos atrás (na Pérsia de Zaratustra), entendermos o Universo a partir da colisão de forças antagônicas, conflitantes, a quem chamamos "Bem" e "Mal" (no Zoroastrismo o bem seria Ahura Mazdah/ daí o nome masdaísmo para a mesma religião iraniana, e o mal Arumã), dando origem ao que conhecemos como ética e consequentemente a moralidade (faça isso, não faça isso).

Os seres humanos, em sinal de certo narcisismo e soberba (achando-se o verdadeiro senhor do Universo, quando na realidade é uma agulha no oceano), tendeu a criar deuses, entidades, cada vez mais humanizados (antropomorfismo) - até chegarmos ao clímax desse fenômeno na pessoa de Jesus (o Deus tornado homem, dando origem ao Cristianismo).

E assim, Jesus, Muhammad, Sidata Gautama (Buda), Abraão, Moisés, Davi, acabaram por se tornar, além de homens, expressões de bondade, de exemplos, de seres iluminados. Seriam manifestações do genuíno Bem, com b maiúsculo mesmo. Porém, como dito inicialmente, há de se criar forças negativas, opostas a tudo o que seria o sumo bem: as forças do mal, que nos leva ao erro, que nos faz cometer injustiças, que nos leva a um caminho de destruição, pessoal ou alheia.

E quem disse que nós, criativos e não menos destrutivos seres humanos, não daríamos uma cara ao mal, ao Mal com m maiúsculo. Humanizamos o mal na pessoa do anjo decaído, um serafim: Lúcifer.

Lúcifer, também conhecido como Mefistófeles, Belzebu, Diabo, Satanás, Chifrudo,Senhor das Trevas, e mais recentemente como Encosto, Encardido, ou mesmo O Inimigo. Pois é, ele, o Demônio, que tem como objetivo a destruição do Reino de Deus, nos Céus e na Terra, sendo o seu método tentar todas as criações de Deus, diga-se nós seres humanos, de maneira a nos cobrir de pecado, blablabla...

Para a construção da figura diabólica foram buscar um antigo deus greco-romano: o fauno, o senhor dos bosques e campos, aquele que com sua flauta saia produzindo música pelos campos verdejantes - Pã ou Lucrécio. Quem assistiu ao vídeo postado no meu canal do youtube (http://www.youtube.com/tiagomenta) sabe que Pã era um Deus que apresentava uma aparência tosca, animalesca (meio humano, meio bode, com chifres e patas). Dai para a visão clássica do Demônio foi um caminho rápido, e pior, sobrou até para o bode, isso mesmo, o animal, visto como demoníaco e utilizado em magia negra, satanismo, sabás ou missas negras.
Veja as imagens abaixo:



Perceberam, como se utilizaram de uma divindade greco-romana para a criação de uma figura que representasse, efetivamente, a existência do mal? Pois é...

O russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, ou simplesmente Bakunin (1814-1876), ícone da Teoria e Concepção Anarquista, com quem travara uma batalha ideológica com Karl Marx na Primeira Internacional dos Trabalhadores, tinha uma visão diferente, e não menos interessante sobre Lúcifer, a quem ele cita, brilhantemente, em sua obra "Deus e o Estado":

"Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestiais; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da Ciência"

E assim, nas palavras de Bakunin, percebemos que Lúcifer pode ser entendido na realidade como o oposto, em termos representativos, ao que as Igrejas e religiões monoteístas vem perpetuando ao longo de séculos de alienação sem igual. Lúcifer não é o Mal, Lúcifer é o humano, o humano que um dia, movido pela curiosidade, faz da sua inteligência uma arma de luta e sobrevivência, tornando-se por forças próprias e legitimamente, o único e verdadeiro senhor deste planetinha que denominamos Terra. Lúcifer é a expressão, a representação, da tríade da teoria de Bakunin: o homem em suas dimensões - animal, pensamento e revolta.

Somos animais, é obvio. Temos em nosso pensamento, em nossa cognição a nossa força, o nosso meio de atuação e de sobrevivência em meio a uma natureza que é hostil. E temos dentro de si a revolta, esta força que nos move, que nos faz criar, progredir, questionar, criticar, mudar, transformar e acima de tudo revolucionar!

Concluindo, abandonemos o Lúcifer milenar trazido pelo monoteísmo pedante e capenga, e fiquemos, simbolicamente, enquanto representação para a vida, do Lúcifer de Bakunin: aquele que é humano, pensa e tem dentro de si, sempre, a revolta. Desobedecer é a chave para transformar!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

RARIDADE! ENTREVISTA COM SIGMUND FREUD/1926



Entrevista com Sigmund Freud concedida ao jornalista George Sylvester Viereck nos Alpes Austríacos – 1926. Tradução de Paulo César Souza

S. Freud: Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.
(Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma Montanha nos Alpes austríacos. Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou. Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação).

S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. (Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.) Por que (disse calmamente) deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com sua agruras, chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas - a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?

George Sylvester Viereck**: O senhor teve a fama. Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo - com exceção da sua própria Universidade.
S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais. A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.

George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?
S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liqüidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna. (Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia).
S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.

George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?
S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.
George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?
S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem
constituir uma exceção?

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?
S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás da conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.
S. Freud: É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição. Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.

George Sylvester Vierneck: Isto é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Artamann.
S. Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte. Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós. Neste sentido (acrescentou Freud com um sorriso) pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado. (Estava ficando frio no jardim. Prosseguimos a conversa no gabinete. Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud).

George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?
S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopolizá-la.

George Sylvester Viereck: O senhor teve muito apoio dos leigos?
S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.

George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?
S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente. Minha filha também é psicanalista, como você vê... (Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud, acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxônicas).

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?
S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros. O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

George Sylvester Viereck: Minha impressão é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristã. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. "Tout comprec? est tout pardonner".
S. Freud: Pelo contrário (bravejou Freud - suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu), compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento. (Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, porque ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Una herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça). Minha língua é o alemão. Minha cultura, minha realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu. (Fiquei algo desapontado com esta observação. Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças, que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava-o mais atraente como ser humano. Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!)

George Sylvester Viereck: Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!
S. Freud: Nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza; mas, com freqüência, são também a fonte de nossa força.



George Sylvester Viereck: Imagino, observei, quais seriam os meus complexos!
S. Freud: Uma análise séria dura ao menos um ano. Pode durar mesmo dois ou três anos. Você está dedicando muitos anos de sua vida à "caça aos leões". Você procurou sempre as pessoas de destaque para a sua geração: Roosevelt, o Imperador, Hindenburg, Briand, Foch, Joffre, Georg Bernard Shaw...

George Sylvester Viereck: É parte do meu trabalho.
S. Freud: Mas é também sua preferência. O grande homem é um símbolo. A sua busca é a busca do seu coração. Você está procurando o grande homem para tomar o lugar do seu pai. É parte do seu "complexo do pai". (Neguei veementemente a afirmação de Freud. No entanto, refletindo sobre isso, parece-me que pode haver uma verdade, ainda não suspeitada por mim, em sua sugestão casual. Pode ser o mesmo impulso que me levou a ele. Gostaria, observei após um momento, de poder ficar aqui o bastante para vislumbrar o meu coração através do seus olhos. Talvez, como a Medusa, eu morresse de pavor ao ver minha própria imagem! Entretanto, receio ser muito informado sobre a psicanálise. Eu freqüentemente anteciparia, ou tentaria antecipar suas intenções).

S. Freud: A inteligência num paciente não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho. (Neste ponto o mestre da psicanálise diverge de muitos dos seus seguidores, que não gostam de excessiva segurança do paciente sob o seu escrutínio).

George Sylvester Viereck: Ás vezes imagino se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos o criminoso e o animal.
S. Freud: Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

George Sylvester Viereck: Por quê?
S. Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais desagradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão (acrescentou Freud pensativamente) lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor.

George Sylvester Viereck: Meu cachorro é um doberman Pinscher chamado Ajax.
S. Freud: (sorrindo) Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!

George Sylvester Viereck: Mesmo o senhor, Professor, sonha a existência complexa demais. No entanto, parece-me que o senhor seja em parte responsável pelas complexidades da civilização moderna. Antes que o senhor inventasse a psicanálise, não sabíamos que nossa personalidade é dominada por uma hoste beligerante de complexos muito questionáveis. A psicanálise torna a vida um quebra-cabeças complicado.
S. Freud: De maneira alguma. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.

George Sylvester Viereck: Ao menos na superfície, porém, a vida humana nunca foi mais complexa. E a cada dia alguma nova idéia proposta pelo senhor ou por seus discípulos torna o problema da condução humana mais intrigante e mais contraditório.
S. Freud: A psicanálise, pelo menos, jamais fecha a porta a uma nova verdade.

George Sylvester Viereck: Alguns dos seus discípulos, mais ortodoxos do que o senhor, apegando-se a cada pronunciamento que sai da sua boca.
S. Freud: A vida muda. A psicanálise também muda. Estamos apenas no começo de uma nova ciência.

George Sylvester Viereck: A estrutura científica que o senhor ergueu me parece ser muito elaborada. Seus fundamentos - a teoria do "deslocamento", da "sexualidade infantil", do "simbolismo dos sonhos", etc. – parecem permanentes.
S. Freud: Eu repito, porém, que nós estamos apenas no início. Eu sou apenas um iniciador. Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente. Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.

George Sylvester Viereck: O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?
S. Freud: Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: "Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo”. Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está "além" do prazer - a morte, a negociação da vida. Este desejo explica por que alguns homens amam a dor - como um passo para o aniquilamento! Explica por que os poetas agradecem a "Quaisquer deuses que existam/ Que a vida nenhuma viva para sempre/ Que os mortos jamais se levantem** / E também o rio mais cansado/ Deságüe tranqüilo no mar".

George Sylvester Viereck: Shaw, como o senhor, não deseja viver para sempre, mas à diferença do senhor, ele considera o sexo desinteressante.
S. Freud: (sorrindo) Shaw não compreende o sexo. Ele não tem a mais remota concepção do amor. Não há um verdadeiro caso amoroso em nenhuma de suas peças. Ele faz brincadeira do amor de Júlio César - talvez a maior paixão da História. Deliberadamente, talvez maliciosamente, ele despe Cleópatra de toda grandeza, reduzindo-a uma insignificante garota. A razão para a estranha atitude de Shaw diante do amor, para a sua negação do móvel de todas as coisas humanas, que tira de suas peças o apelo universal, apesar do seu enorme alcance intelectual, é inerente à sua psicologia. Em um de seus prefácios, ele mesmo enfatiza o traço ascético do seu temperamento. Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade, em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância. Se você arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da sexualidade, e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação.

George Sylvester Viereck: O senhor, sem dúvida, foi bem sucedido em transmitir esse ponto de vista aos escritores modernos. A psicanálise deu novas intensidades à literatura.
S. Freud: Também recebeu muito da literatura e da filosofia. Nietzsche foi um dos primeiros psicanalistas. É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, e da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. O Zaratustra diz: "A dor grita: Vai! Mas o prazer quer eternidade Pura, profundamente eternidade". A psicanálise pode ser menos amplamente discutida na Áustria e na Alemanha do que nos Estados Unidos, a sua influência na literatura é imensa, porém. Thomas Mann e Hugo von Hofmannsthak muito devem a nós. Schnitzler percorre uma via que é, em larga medida, paralela ao meu próprio desenvolvimento. Ele expressa poeticamente o que eu tento comunicar cientificamente. Mas o Dr. Schnitzler não é apenas um poeta, é também um cientista.

George Sylvester Viereck: O senhor não é apenas um cientista, mas também um poeta. A literatura americana está impregnada da psicanálise. Hupert Hughes Harvrey O’Higgins e outros fazem-se de seus intérpretes. É quase impossível abrir um novo romance sem encontrar referência à psicanálise. Entre os dramaturgos, Eugene O’Neill e Sydney Howard têm profunda dívida para com o senhor. A The Silver Cord, por exemplo, é simplesmente uma dramatização do complexo de Édipo.
S. Freud: Eu sei e apresento o cumprimento que há nessa constatação. Mas tenho receio da minha popularidade nos Estados Unidos. O interesse americano pela psicanálise não se aprofunda. A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão! Eu prefiro a ocupação intensa com a psicanálise, tal como ocorre nos centros europeus. A América foi o primeiro país a reconhecer-me oficialmente. A Clark University concedeu-me um diploma honorário quando eu ainda era ignorado na Europa. Entretanto, a América fez poucas contribuições originais à psicanálise. Os americanos são julgadores inteligentes, raramente pensadores criativos. Os médicos nos Estados Unidos, e ocasionalmente também na Europa, procuram monopolizar para si a psicanálise. Mas seria um perigo para a psicanálise deixá-la exclusivamente nas mãos dos médicos, pois uma formação estritamente médica é, com freqüência, um empecilho para o psicanalista. É sempre um empecilho, quando certas concepções científicas tradicionais ficam arraigadas no cérebro estudioso. (Freud tem que dizer a verdade a qualquer preço! Ele não pode obrigar a si mesmo a agradar a América, onde está a maioria de seus admiradores. Apesar da sua intransigente integridade, Freud é a urbanidade em pessoa. Ele ouve pacientemente cada intervenção, não procurando jamais intimidar o entrevistador. Raro é o visitante que deixa sua presença sem algum presente, algum sinal de hospitalidade! Havia escurecido. Era tempo de eu tomar o trem de volta à cidade que uma vez abrigara o esplendor imperial dos Habsburgos. Acompanhado da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha à rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus).

S. Freud: Não me faça parecer um pessimista (disse ele após o aperto de mão). Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz - ao menos não mais infeliz que os outros. (O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância).