domingo, 5 de outubro de 2008

A Cegueira Branca de Saramago; a Democracia Ateniense


QUAL É A VERDADEIRA VISÃO?
Assisti na noite de ontem o filme do diretor brasileiro Fernando Meirelles, baseado na obra do escritor português José Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira", e posso garantir ao caro leitor que se trata de um bom filme, daqueles que além de entreter nos fazem pensar, refletir, ir além e não parecer passivo diante de um filme.
O filme mostra uma situação inusitada, quase absurda: de uma epidemia capaz de tornar as pessoas cegas, perdidas não numa escuridão (no caso a cegueira normal, natural) mas numa brancura, numa luminosidade tão intensa, que logo não podemos nada ver com nossos olhos.
A epidemia chega a tal ponto que as pessoas infectadas vão sendo colocadas, em número cada vez maior, numa espécie de instituição de isolamento (quarentena) que vai se transformando pouco a pouco num verdadeiro campo de concentração, num gueto tomado pelo caos e pela miséria humana.
Em meio aos caos do sanatório as pessoas infectadas vão perdendo a sua humanidade e a própria dignidade, e, para piorar, as coisas fora daquele lugar também se tornam sem controle, visto que a epidemia chega a escalas tão imensas que já não há mais qualquer indício do que seria a nossa presente civilização.
Quando posteriormente todos recuperam a visão certamente já não eram mais os mesmos, e o mundo não seria mais o mesmo. Creio que todos chegaram a conclusão de que a condição humana é a mais sutil possível, visto que nossa civilização, nossa condição humana, caiu feito uma sequência de dominós empilhados quando simplesmente não mais poderíamos ver. Somos assim escravos de nossos sentidos.
Esta sim é a verdadeira visão, a visão de que nós seres humanos somos, sempre, limitados, e que além disso somos escravos de nós mesmos, de nossas sensibilidades.

A DEMOCRACIA ATENIENSE
Como neste mês de outubro vamos as urnas eletrônicas escolher os futuros prefeitos do Brasil, é conveniente apontar as origens do que conhecemos hoje como "democracia" ou processo democrático, especialmente quando relacionada ao mundo político e a administração das cidades.
Etmologicamente a palavra democracia é a junção de:
DEMOS (POVO) + CRATOS (GOVERNO)
Ou seja, estamos lidando com o "governo do povo" ou mesmo a "participação popular nos governos".
No século VI a.C. Atenas, grande pólo cultural grego localizado na região da Ática, dá os primeiros passos na direção do abandono de uma vida política aristocrática (como era presente por exemplo em Esparta) para a construção de um modelo político onde os seus cidadãos obtivessem maior participação nas decisões e rumos da cidade.
Assim, a democracia criada em Atenas apenas dava voz, direito de participação, aos ditos cidadãos de Atenas - apontados pelo seguinte critério: homens maiores de 18 anos, livres e atenienses. Ou seja, a democracia ateniense não indica ampla participação popular ou mesmo da totalidade do povo da cidade, visto que se excluem os mais jovens, as mulheres, os escravos e os estrangeiros.
Os políticos atenienses que encamparam esta transformação política, rumo a democracia, foram Clístenes, Sólon e Péricles, cada qual com sua parcela de contribuição em aperfeiçoamentos realizados durante a construção do modelo democrático de administração da cidade.
Inicialmente os cidadãos atenienses eram sorteados para atuarem em duas instituições democráticas, sendo estas a Ekklesia e a Boulé. A princípio os cidadãos nada recebiam pelos seus trabalhos na vida pública, porém Péricles foi quem depois instituiu pagamentos aos servidores da democracia como forma de agraciar a participação política dos cidadãos mais pobres.
A Ekklesia também é conhecida como "Assembléia Popular" e tinha como função a elaboração das leis de Atenas, sendo estas encaminhadas para a instituição seguinte, a Boulé ou também conhecida como "Conselho dos 500" (por reunir 500 cidadãos) onde as mesmas leis eram apreciadas e depois votadas (não com papéis, nem com urnas, mas com o simples levantar das mãos em sinal positivo ou negativo na aprovação ou não de uma lei criada pela Ekklesia). Se aprovada pela Boulé logo a lei estaria vigente na cidade de Atenas.
Este modelo de democracia, criada em Atenas na Antiguidade Clássica, pode também ser entendido como Democracia Direta e hoje, no mundo pós-moderno, sobrevive de certa forma em sindicatos de trabalhadores mas não mais em âmbitos citadinos.
Contudo a democracia ateniense deve ser encarada como ela é, de forma não-romântica: foi o primeiro passo, mesmo que pequeno, em direção ao que hoje conhecemos como participação popular na vida política e na administração pública. E se a democracia não funciona na opinião de alguns, certamente os outros caminhos políticos não são os mais adequados a se seguir, e assim, mesmo com todas as suas imperfeições e distorções não podemos deixar de lado o espírito democrático, assoprado pelos atenienses a mais de 2500 anos atrás...VOTE COM CONSCIÊNCIA

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