quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

CAIO PRADO E A SEMPRE ATUAL REVOLUÇÃO BRASILEIRA


Caio Prado Júnior (1907-1990) foi um dos maiores historiadores brasileiros de todos os tempos, sendo a sua produção historiográfica considerada de cunho marxista.
Idealizador da editora e da revista Brasiliense, onde dividia trabalhos com os sociólogos Fernando Henrique Cardoso (sociologia uspiana) e Otávio Ianni (sociologia carioca), Caio Prado também ingressara em movimentos políticos nacionais como no nascente Partido Comunista do Brasil (PCB ou Partidão) ou posteriormente na Aliança Nacional Libertadora (ANL de Luis Carlos Prestes, depois todos acusados e presos devido à chamada Intentona Comunista de 1935).
Nacionalista, Caio Prado objetivava, a partir de uma nova proposta de Marxismo (a que ele teorizou como Lógica Dialética Positiva), construir um novo Brasil, progressista, “revolucionário”. Daí o caráter de sua obra “A Revolução Brasileira”, publicada em 1966 e que se faz atual até hoje em muitos aspectos.
Fazendo uma inusitada “ponte” entre Caio Prado Júnior e o cineasta Arnaldo Jabor (que no passado também pegou o resfriado comunista) é válido apontar uma frase deste último quando dizia “o Brasil precisa de um choque de Capitalismo!”. E era isso que Caio Prado, já na década de sessenta (com a ainda nascente industrialização nacional) profetizava “o Brasil precisa de um choque de Capitalismo”, o Brasil precisava fazer, grosso modo, a sua “revolução burguesa”.
Pois é, em plenos idos de 2009 o nosso país ainda respira sobre uma lógica pré-burguesa, pré-moderna, quase medieva (e historiadores como Nelson Werneck Sodré chegaram a enxergar a existência de um Brasil feudal) quando presenciamos a insistente concentração fundiária em nosso país. O Brasil, vergonhosamente, é um dos poucos países do mundo onde a reforma agrária é tabu, aonde ela praticamente inexistiu – mesmo com oito anos de governo do PT, ou seja, ainda não quebramos as nossas amarras estruturais, que nos ligam ainda a uma época colonial, patriarcal, de um Brasil como o “celeiro do mundo” – como uma nação destinada a fornecer mão-de-obra barata e principalmente matérias-primas para as sociedades ditas de “Capitalismo Central” (cabendo ao nosso país o papel de satélite econômico, de Capitalismo periférico).
Assim, recuperar Caio Prado Júnior, mesmo com todos os vícios políticos do Marxismo (devido à quase intrínseca ligação entre a teoria e o projeto político, revolucionário, do mesmo), é legítimo por ser este autor uma voz muito válida quando afirma, para horror dos marxistas stalinistas ou pecebistas, que a verdadeira revolução brasileira só se dará a partir de duas vias: o desenvolvimento nas bases capitalistas e a reforma agrária.

CAIO PRADO E A LÓGICA DIALÉTICA POSITIVA

Como dito no texto acima Caio Prado Júnior foi um importante expoente do Marxismo em nosso país, sendo muito criticado pelos companheiros de PCB por assumir uma postura de “reformador”, “aprimoramento” da teoria marxista – encarada por muitos como uma verdadeira ortodoxia.
Exemplo de como a dita ortodoxia lidava com isso pode ser encontrada na URSS quando Stalin fez as cabeças de Trotski e Bukharin rolarem, o primeiro por crer em uma revolução socialista mundial e não somente na URSS e o segundo por discordar das apropriações que o governo soviético fez sobretudo sobre a massa campesina.
A reforma pretendida por Caio Prado na teoria marxista era relacionada ao desejo do historiador de que o marxismo não fosse, tão somente, uma espécie de antípoda, de contradição, ao modelo capitalista. O marxismo, no sentido epistemológico do termo, deveria ser algo mais original, essencialmente revolucionário – como algo novo e não como síntese de um modelo superado.
A este marxismo novo Caio Prado denominou de Lógica Dialética Positiva. A lógica dialética teria suas raízes na superação do capitalismo e no próprio movimento da história, porém o Marxismo Novo teria que ser algo novo, fundamentado em novas e originais bases – e aqui o termo “Positivo”, até como progresso.
Ao contrário da lógica capitalista, fundamentada em bases metafísicas (o capital, a mercadoria, a alienação e o fetiche) o Marxismo Novo seria caracterizado por uma lógica materialista, de um homem preso as suas necessidades “naturais” e comportamentos “naturais”, contudo os agentes deste Marxismo novo não seriam os mesmos do Marxismo tradicional.
No marxismo tradicional, ortodoxo, de bases soviéticas, os agentes revolucionários seriam os homens reunidos em um único partido, que comandariam o Estado revolucionário, formando o que Bukharin chama de “nova classe social, a dos gestores”. Daí os partidões sendo o maior deles o PCU da URSS e o dito “núcleo duro do partido”. Tudo isso ancorado no leninismo e que depois será reproduzido, respeitando os contextos vividos, em países como a China maoísta e a Cuba castrista.
No marxismo novo, na Lógica Dialética Positiva, os agentes revolucionários não poderiam estar alojados no Estado, o Estado iria servir as mudanças sociais e não comandá-las com punhos de ferro como ocorria na URSS. O Estado deve ser integrado ao conjunto das forças revolucionárias e não ser, sozinho, as próprias forças revolucionárias. Assim, a aliança, necessária, com os operários, camponeses, industriais, comerciantes, etc. Ou seja o marxismo deveria ser, na proposta caiopradiana, uma teoria nacionalista (de integração nacional) e progressista, e algo novo enquanto conhecimento, enquanto episteme.

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