terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Brasil nasceu com Vargas e não com Dom João VI



Amigos e amigas, não poderia, como historiador, me furtar a falar sobre os 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil.
O que isto significou para o nosso país?
O Brasil, como nação, como instituição, teria nascido com a chegada da família real portuguesa em 1808?
Creio que a resposta para a pergunta colocada acima é ao mesmo tempo "sim" e "talvez"...
A resposta será positiva se pensarmos no que era a colônia brasileira antes da chegada da família real portuguesa - éramos meros produtores de riquezas para a nossa metrópole européia, não tinhamos autonomia alguma (proibição de comércio com outras nações, estabelecido pelo 'pacto' colonial). Com a chegada de Dom João VI, um monarca que se não fora brilhante não fora também a personagem cômica que muito da nossa arte (o cinema e a televisão) vem apresentando, a colônia abre as suas "portas" comerciais para as ditas nações "amigas" (leia-se a coroa inglesa, que pagava menos impostos que as outras nações no comércio com a colônia brasileira) e uma série de melhorias estruturais como a construção do Banco do Brasil, a urbanização da cidade do Rio de Janeiro, o que já significara um avanço considerável se comparado aos tempos anteriores.
Mesmo assim, Dom João VI não modificara a lógica colonialista, ou seja, a nação brasileira ainda a se formar não detinha autonomia política, econômica, mantendo-se como mais uma das muitas colônias com a utilização da mão-de-obra escrava e africana, essencialmente monocultura, mantendo-nos numa condição nada-revolucionária. Em suma, com a chegada de Dom João VI a colônia brasileira ganha novos contornos, mas não promove intensas transformações conjunturais. E nisto reside a minha segunda resposta para a mesma pergunta feita no primeiro parágrafo - o "talvez"...
Alguns historiadores, como eu, já enxergam na Revolução de 1930 como um marco novo e verdadeiramente revolucionário na história brasileira. Aqui, a meu ver, nasce o país Brasil.
Getúlio Vargas e não Dom João VI, muito menos Dom Pedro I ou mesmo o Imperador Pedro II, seria o "pai da pátria", "pai dos pobres" sem esquecermos do óbvio enquanto "mãe dos ricos".
Vargas é o governante, já no período independente e republicano, que irá realmente transformar o Brasil numa unidade política, econômica e social. E para tanto se utilizará de dois instrumentos inseparáveis: populismo e estatismo. É com Vargas, seus comícios no estádio de São Januário no Rio de Janeiro (sob a música de Villa-Lobos), que começamos a construir um certo modelo de patriotismo, de nacionalidade (hoje renegada a poucos momentos como as eleições democráticas e a Copa do Mundo de futebol).
Em seus governos, mesmo que escancaradamente despótico a partir de 1937 com o estabelecimento do Estado Novo, criou-se a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), a hoje tão comemorada Petrobrás, a Eletrobrás, as leis trabalhistas (CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas) e a carteira de trabalho com alguns benefícios como o direito do trabalhador as férias remuneradas. Ou seja, quando Vargas em 1930 aliou-se aos velhos líderes do tenentismo (com excessão de Luiz Carlos Prestes) e retirou o poder dos velhos políticos da chamada "República Velha" (alinhavados entre oligarcas mineiros e paulistas) o estadista deu o primeiro e revolucionário passo que Dom João VI ou Dom Pedro II não ousaram dar: transformar um país eminentemente rural em direção ao urbanismo, ao século XX e a modernidade.








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